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Indústria de drones decola no Brasil

Lino Rodrigues

Com mais de 40 mil drones registrados nos órgãos reguladores e outros 60 mil voando sem registro (a maioria de uso recreativo), a indústria de drones comerciais no Brasil emergiu do marasmo e, depois da regulamentação em maio do ano passado, está crescendo rapidamente.

Em 2017, a cadeia produtiva de drones no país movimentou R$ 300 milhões, 50% a mais que no ano anterior. Hoje, já são mais de 700 empresas, aí incluídos fabricantes, importadores e fornecedores de componentes e serviços.

A previsão é dobrar de tamanho nos próximos dois anos. “Até 2017, o mercado estava retraído porque não havia segurança jurídica. Grandes empresas públicas e privadas deixavam de utilizar drones por falta de regulamentação”, diz Emerson Zanon Granemann, diretor da MundoGeo, organizadora da Droneshow, feira anual do setor, que aconteceu esta semana, em São Paulo.

Para o executivo, é consenso que os drones estão trazendo melhorias em praticamente todas as áreas e deixando o segmento recreativo para crescer nas aplicações empresariais e de segurança. No feriado de 1º de Maio, quando um incêndio de grandes proporções fez ruir o edifício Wilton Paes de Almeida, no Centro da capital paulista, os drones entraram em ação sobrevoando os escombros atrás de sobreviventes. Eles também foram usados pelos engenheiros na avaliação externa dos prédios vizinhos ao Wilton Paes, que foram afetados pelo fogo.

“Foi uma forma de avaliar com segurança se não houve danos estruturais aparentes nos prédios afetados pelo calor antes que as equipes técnicas entrassem nos locais”, disse o guarda-civil metropolitano Richard Mariano, diretor da DronePol, departamento para gerenciar os drones criado no ano passado pela Secretaria Municipal de Segurança Urbana de São Paulo para apoiar as ações da Guarda Civil Metropolitana (GMC) na cidade.

Salvamento

O departamento recebeu o primeiro kit com cinco drones, em uma parceria com a chinesa Dahua, ao custo de R$ 650 mil. Nesta semana, outros dois também foram doados pelas empresas. Um deles, da gaúcha SkiDrone, equipado com um sistema de boia que infla no contato com a água, será usado nas ações de salvamento nas represas da cidade. O outro, também da Dahua, carrega uma câmera com reconhecimento facial com a função de identificar criminosos em áreas públicas, além de ser utilizado em operações da GCM na “cracolândia paulistana”, local com grande concentração de usuários de drogas no centro de São Paulo.

A chinesa Dahua chegou ao Brasil há dois anos como fornecedora de equipamentos e soluções de segurança eletrônica. Durante a Olimpíada do Rio, a empresa forneceu duas mil câmeras ao governo brasileiro para monitoramento dos jogos. A área de drones é uma nova aposta da companhia, que espera comercializar pelo menos 50 unidades no mercado brasileiro em 2018. Os equipamentos têm preços a partir de US$ 100 mil A experiência em São Paulo abriu as portas em outros estados como Rio Janeiro, Minas Gerais e Brasília, onde foram abertas negociações.

“Brinquedo”

A maior aceitação dos drones no cotidiano das empresas é o que tem movido a Santos Lab, que há 10 anos vem atendendo empresas comerciais e agrícolas nas atividades de mapeamento e imagens aéreas. A empresa nasceu de projeto de faculdade de seu fundador, Gabriel Klabin, que “gostava (e ainda gosta) de tudo que voa”.

Durante teste de voo de um de seus drones, no Rio de janeiro, um oficial da Marinha se interessou pelo “brinquedo” e pediu para ele fazer uma demonstração para outros oficiais. Depois da apresentação aos militares, saiu com três pedidos e a promessa de que iria montar uma empresa para formalizar a parceria com a Marinha.

Em pouco tempo, o “Carcará”, nome dado ao primeiro equipamento da Santos Lab, já fazia parte dos treinamentos dos marinheiros brasileiros no litoral Rio de Janeiro e, mais recentemente, das operações contra o tráfico de drogas nas favelas cariocas. Ainda na fase pré-regulamentação do setor, e já com 30 pessoas trabalhando na empresa, Klabin percebeu que era hora de expandir os negócios e tirar o foco da área militar.

“A área militar nos deu muitas horas de voo. Há dois anos começamos a adaptar as plataformas de software e hardware para a área civil. Aproveitamos também para nos reestruturarmos”, contou ele, lembrando que, no ano passado, foi inaugurado o laboratório de pesquisa e desenvolvimento para apoiar as aplicações com algoritmos próprios que serão utilizados em equipamentos para o mundo empresarial.

“Tudo que estamos fazendo é para dar informações e resultados para os clientes. Tem muita gente comprando drone sem nem saber como será usado”, reforça o CEO da Santos, Bruno Teixeira, salientando que o foco será atender clientes dos setores da agricultura e de óleo e gás, que estão vivendo um bom momento.

A SkyDrones também quer aproveitar a nova onda. Com fabricação própria de drones e parcerias com grandes multinacionais como a gigante chinesa DJI, a empresa tem planos de desenvolver uma rede de franquias para atender esse mercado em todo o país. Com sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, ela quer crescer criando soluções alternativas que serão levadas pelos drones e aplicadas no mundo real, como o caso da boia desenvolvida para equipar drones no socorro a vítimas de afogamentos. “O drone já é uma commodity. O interessante será criar e desenvolver soluções que atendam às necessidades de uma sociedade cada vez mais tecnológica”, afirma Francisco Nogara, sócio da SkyDrone.

A origem dos nomes

Drone

O termo drone é apenas um nome genérico. Drone (em português: zangão, zumbido) é um apelido informal, originado nos EUA, que se difundiu no mundo para nomear todo e qualquer objeto voador não tripulado, seja profissional, recreativo, militar ou comercial.

Vant

Veículo Aéreo Não Tripulado é a terminologia oficial prevista pelos órgãos reguladores brasileiros do transporte aéreo para definir este escopo de atividade. No Brasil, segundo a legislação pertinente (Circular de Informações Aéreas AIC N. 21/10), caracteriza-se como Vant toda aeronave projetada para operar sem piloto a bordo, de caráter não recreativo e que possui carga útil embarcada.

RPA

Em português, Aeronave Remotamente Pilotada. Nessa condição, o piloto não está a bordo, mas controla a aeronave remotamente de uma interface qualquer (computador, simulador, dispositivo digital, controle remoto etc.).

Legislação tenta barrar ilegais

Garantir a segurança do espaço aéreo é um dos principais desafios enfrentados atualmente por órgãos reguladores e pelos fabricantes. É claro que ainda falta infraestrutura para ajudar as autoridades a aplicar as regras estabelecidas pela legislação e rastrear comportamentos ilegais.

Voar perto de prisões, aeroportos ou outras áreas de risco é proibido. Todos os voos em áreas urbanas não devem superar a altura de 30 metros, e é necessário autorização do Decea, órgão da Aeronáutica responsável pelo controle do espaço aéreo brasileiro. Drones acima de 250 gramas precisam ser registrados no Sistema de Aeronaves Não Tripuladas (Sisant), da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e os pilotos precisam de habilitação.

O Decea recebe cerca de 250 solicitações de voos por dia em todo o país. As autorizações demoram de dois até 18 dias para serem concedidas, dependendo do tipo e localização do voo. Órgãos de segurança pública, dos governos federal, estadual, municipal e militares não precisam de autorização prévia.

Além das questões de privacidade, danos às pessoas e propriedades, as autoridades têm uma preocupação especial com os aeroportos. Em dezembro do ano passado, um drone invadiu o espaço aéreo do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, afetando o pouso e decolagem de 41 aeronaves. O terminal, o mais movimentado do país, ficou fechado por duas horas. “Não podemos perder o controle desse mercado de drones”, afirma o tenente-coronel Jorge Vargas, do Decea.

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