Eugênio Moretzsohn
Compliance e Contrainteligência
1. Alguns analistas competentes defendem que a maior ameaça aos jogos no Rio seriam os "lobos solitários", impróprio jargão que vem sendo utilizado para definir terroristas que agiriam isoladamente. Impróprio pela comparação do modus operandi do terrorista com os hábitos do lobo, mamífero predador naturalmente gregário que vive em matilhas e caça em grupos. Talvez fosse mais adequado apelidá-los de "víboras", serpentes peçonhentas, letais, traiçoeiras e…..solitárias, como quase todos os répteis que só se unem para se reproduzirem.
2. De onde vem essa comparação do terrorista que atua "fora da curva" (sem a participação direta de outros integrantes de sua organização) com a figura de um lobo solitário? Certamente do atentado ao Papa João Paulo II, em 1981, alvejado por Ali Agca, matador turco hoje em liberdade que pertenceria, à época, à organização terrorista búlgara "Lobos Cinzentos". Pelo fato de Agca ter atuado por conta própria, em busca de notoriedade, passou a qualificar todos os que viriam a agir de maneira análoga.
3. Respeitando as opiniões diferentes da minha, e reconhecendo a ameaça do lobo solitário (que seja), como um perigo constante, em meu modesto entender a maior ameaça à segurança dos jogos viria do céu, e seu nome refere-se a um inseto: a palavra inglesa drone significa zangão em português e designa, genericamente, os veículos aéreos sem os pilotos embarcados, ou, veículos aéreos remotamente pilotados, ou, ainda, veículos aéreos não tripulados.
4. Normalmente, um drone é composto por fibra de carbono, metal e plástico. Há outras configurações, mas, as mais populares utilizam entre 2 e 6 motores elétricos, instalados nas extremidades dos eixos e que acionam pequenas hélices que dão sustentação ao voo. Em seu corpo principal localizam-se as baterias, as quais, por questões de peso, são de tamanho reduzido, comprometendo a autonomia desses aparelhos. Assim, os exemplares mais vendidos voam entre 20 a 30 minutos, se tanto. A autonomia depende, ainda, do vento, da pressão barométrica, da temperatura/umidade, do modo como irá voar e, obviamente, do peso da carga externa (payload) presa ao corpo do drone por "garras".
5. Na fuselagem do aparelho situa-se uma placa lógica que contém os sistemas de comando e controle, como o GPS que permite a navegação precisa. É possível traçar previamente um trajeto e o drone seguirá fielmente o itinerário planejado pelo controlador. A maioria comercializada obedece a um operador no solo, transmitido via rádio a partir de um controle remoto que pode estar num smartphone, o que resulta em limitado alcance; entretanto, como vimos, há soluções mais complexas, com a programação embutida em seu cérebro e que "fazem tudo sozinhas", inclusive entregas em domicílio, razão pela qual os exagerados de sempre já antecipam o fim dos correios.
6. Apesar de a altura máxima permitida pelas autoridades aeronáuticas brasileiras ser de 400 pés (pouco mais de 120 metros), os modelos "civis" comercializados pela internet atingem 400 metros. O alcance dos sinais de rádio que o controlam é, em geral, de até 2 km, com velocidade média de 60 km/h; mas, há opções com autonomia de voo de 70 minutos, alcance de comunicação de mais de 10 Km, velocidade de 100 Km/h e teto de voo de 3 km. O preço de uma criatura com tais capacidades pode chegar a 150 mil reais, mas, as mais populares estão entre 1 mil e 6 mil reais. A maioria leva pequenas cargas, como câmaras, mas, os mais robustos conseguem suportar até 7 kg de carga externa. Claro, há os drones militares, dos quais o mais midiático, o Predator, transporta e lança ogivas termonucleares se for programado para tal.
7. Aqui reside parte do problema: os drones "portáteis" podem carregar explosivos, venenos, agentes biológicos e até radioativos (Césio 137, por exemplo) e sobrevoar concentrações de pessoas, alojamentos, restaurantes e estradas. Se programados para isso, podem soltar essas cargas sobre seus alvos com relativa precisão. Podem atacar em enxame (swarm), composto por vários drones programados para muitas missões. Um ataque de drones na competição de final de atletismo, com em área descoberta, com mais da metade do mundo assistindo pela TV, é uma imagem de meu país que não gostaria de sobreviver para dela me lembrar.
8. As outras partes do problema estão na relativa dificuldade de sua detecção e na dificílima possibilidade de interceptação. Vejamos por partes:
– a detecção, quase sempre pela vista, seria por vigias humanos treinados, descansados, equipados com rádios, binóculos e atentos ao céu, posicionados em locais estratégicos, afastados das áreas críticas em dispositivos circulares e concêntricos de proteção, de forma que, ao alertarem sobre o avistamento de drones, as forças de reação tivessem poucos e preciosos minutos para estarem prontas para o engajamento, após a confirmação ou a mera suspeita de hostilidade;
– a detecção por aparelhos radar é muito difícil, pelas pequenas assinaturas magnética e eletrônica deixadas pelos drones, que podem raspar as copas das árvores e esgueirarem-se entre prédios. Idem para a assinatura sonora, já que são muito pouco audíveis. Não tem outro jeito: quer avistar um drone? Erga a vista;
– poderia ser criado um "disque-drone" e a própria população seja instigada (e recompensada) por denunciar drones avistados nas suas imediações. Assim, monitorando essas ligações e, naturalmente, estando preparados para os inevitáveis trotes, poderíamos "parceirizar" esse esforço, que abrangeria, principalmente, a tentativa de detecção das pessoas que os tenham lançado e os estejam controlando. Obviamente seriam aproveitadas as capacidades já instaladas no 190 e a reconhecida capilaridade da PM; bastariam campanhas de conscientização e motivação para as denúncias, o que não seria pouco, já que convencer alguém a cooperar com as autoridades nesse momento político-econômico pelo qual estamos passando é quase miraculoso;
– a interceptação de um drone hostil seria mais difícil que a de um caça, pois, não será possível usar a capacidade antiaérea convencional. Que tal snipers? Sim, um atirador perito poderia abater um drone em voo com um disparo de fuzil, mas, terá de ser "o sniper", já que o aparelho estará a uns 60 km/h e a distância real do tiro será a hipotenusa formada pelas grandezas vertical (altura do solo) e horizontal (distância do atirador). Como se não bastasse, o drone tem formato esquálido para reduzir a resistência do ar e a superfície contínua menor que um notebook;
– uma forma de treinar as habilidades necessárias para um disparo desses seria a prática de tiro ao prato, já que, neste seleto esporte um pequeno prato é lançado a 50 km/k a distâncias de até 70 m. A realidade do drone seria muito pior, pois a altura e a distância seriam, logicamente, maiores, mas, o tiro ao prato funcionaria para apurar os fundamentos da técnica desse tiro. Tudo seria válido para se minimizar perverso efeito colateral do sniper: as stray bullets (balas perdidas), já que, como sabemos, o que sobe desce e o projétil de um 7.62, ao cair, literalmente o faz matando;
– outra forma de interceptar é pela utilização de falcões. Sim, aves de rapina adestradas para considerarem os drones como suas presas, tal a polícia holandesa está fazendo. O jeito, agora, seria alugar essas aves, pois, formar nossa própria esquadrilha demandaria muito tempo;
– as empresas de tecnologia de defesa não perderam tempo e criaram uma bazooka que lança um projétil guiado por laser que se abre em forma de rede e se embaralha nas hélices do drone, com poucos ou nenhum efeito colateral importante. Se errarem o alvo, abrem-se como paraquedas até o pouso. Boa ideia;
– há, ainda, canhões que disparam jatos possantes de água misturada com areia que podem alcançar alturas consideráveis e possuem força para danificar o aparelho, ou afastá-lo. A água possui a vantagem de ser de feito colateral zero. Também é uma ideia preposicionar viaturas dos bombeiros com essa capacidade;
– há os drones de caça, que estariam proativamente sobrevoando a paisagem e se lançariam como aríetes caindo junto com seus alvos, quase como os kamikases. Também me parece mais viável que o sniper, cuja capacidade preciosa poderia ser melhor empregada na detecção e na neutralização de hostis em terra.
– finalmente, talvez a escolha certa, seria um dispositivo eletrônico que interceptasse e interrompesse o sinal de rádio que controla o drone, fazendo o aparelho cair, ou desorientando-o, ou – melhor ainda – usurpando seu controle. Demanda localizar o drone pela vista e apontar-lhe raios interceptores. Parece que já está disponível nos EUA e em Israel, como nos mostra o link abaixo, compartilhado pelo competente consultor Rafael Vulej sobre um produto da IAI:
From Israel.
De onde mais seria?