Ricardo Galhardo
O Estado de S.Paulo
Liderança do PT com maior ligação com a Igreja Católica, o ex-ministro Gilberto Carvalho disse que a decisão do governo Jair Bolsonaro de monitorar os bispos que vão participar do Sínodo da Amazônia, em outubro, em Roma, expõe o Brasil ao "ridículo internacional". Segundo ele, é errado supor que a Igreja é um “braço do PT”, como pretendem setores do governo. Para Carvalho, ao mirar nos bispos, o governo, que tem forte influência evangélica, estimula a divisão religiosa no Brasil e tenta encobrir os problemas ocorridos no início da administração Bolsonaro.
“Como brasileiro, fico envergonhado”, disse Carvalho. “O Sínodo é uma iniciativa da Santa Sé que articula bispos de toda a Amazônia que vai muito além do Brasil. Tem o Peru, Colômbia, Venezuela, Equador”, concluiu o ex-ministro.
Dizendo esperar que os militares “com bom senso” revejam o que ele chama de “tentativa de criar um estado policialesco”, Carvalho considera perigosa a ofensiva do governo amparado por evangélicos contra a Igreja Católica.
“Uma notícia dessas ridiculariza o Brasil, além de mostrar a pretensão de criar um estado policialesco. Ao mesmo tempo põe lenha na fogueira dessa guerra religiosa que eles tentam criar no Brasil. É perigoso separar católicos de evangélicos. Este governo tem um setor evangélico com muito peso e isso é ruim para a laicidade do estado, para a liberdade religiosa”, afirmou.
Carvalho negou que a Igreja seja “um braço do PT”. Ele lembra que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) jamais emitiu uma nota oficial em defesa dos governos do PT e que organismos ligados à Igreja como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) tiveram postura crítica aos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além de lembrar o episódio envolvendo o bispo de Barra (BA), dom Luiz Cappio, que fez greve de fome contra a transposição do rio São Francisco na gestão Lula.
“Majoritariamente a Igreja Católica nunca teve ligação com o PT. De jeito nenhum. Sempre foram minoritários os setores da Igreja que tiveram uma ligação mais forte com o PT. Há uma área ligada às comunidades de base que tem pontos de convergência com o partido. Tem gente que foi despertada para a militância a partir de Igreja, mas parceria nunca houve", disse Carvalho.
"Também nunca houve um documento da CNBB que tenha elogiado os governos do PT. O que houve foram conflitos como a questão do dom Cappio. O CIMI o tempo todo teve uma postura crítica contra o governo Lula. O mesmo CIMI que está criticando o governo Bolsonaro agora."
Segundo ele, o governo tenta criar uma cortina de fumaça para os problemas ocorridos desde a posse de Bolsonaro. “Este anúncio de monitoramento obedece a uma tática canhestra de o tempo todo encontrar inimigos, de forma conspirativa. até para encobrir os problemas que eles têm neste tempo de governo”, afirmou o petista.
PT solta nota oficial sobre o caso
Por meio de nota publicada em seu site oficial, o PT repudiou a ação do governo revelada pelo Estado na edição deste domingo, 10. "O alto grau de intolerância e autoritarismo deste governo se revela na forma como o general Augusto Heleno, chefe do GSI, admite a espionagem e ataca politicamente a Igreja, por debater em alto nível a realidade da Amazônia."
Assim como as declarações de Gilberto Carvalho, o texto ressalta a má imagem que atitudes como essa podem dar ao Brasil perante o mundo. E diz ainda que "A ordem de 'neutralizar isso aí', como se referiu o general ao Sínodo da Amazônia, remete o Brasil de volta aos tempos da repressão aos que lutaram pela liberdade e pelos direitos do povo."
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