RIO2016 – A Conjuntura Comunicacional e a Instauração do Pânico na Expectativa do Terror

A CONJUNTURA COMUNICACIONAL E A INSTAURAÇÃO DO PÂNICO NA EXPECTATIVA DO TERROR DURANTE OS JOGOS OLÍMPICOS 2016
 


Rodrigo Luiz Soares Evangelista
rodrigoluizrjbr@gmail.com

Major do Exército Brasileiro, Mestrando em Segurança Pública pela Universidade Estadual de Roraima, Pós-graduando em Segurança Pública e Cidadania pela Universidade Federal de Roraima, PósGraduado em Comunicação Social pelo Centro de Estudos de Pessoal – RJ e Direito em Administração Pública pela Universidade Castelo Branco – RJ. Atua principalmente nos seguintes temas: Defesa, segurança pública, comunicação e marketing multimeios.


Resumo

O presente artigo objetiva analisar a conjuntura comunicacional na fomentação da sensação de insegurança na população brasileira, por ocasião dos jogos olímpicos – 2016, na expectativa de ação terrorista.

1. INTRODUÇÃO

Com a proximidade dos Jogos Olímpicos (JO) e Paralímpicos 2016 que está em curso no Brasil percebe-se uma preocupação latente da população brasileira em relação a ataques terroristas, que tem sido foco da atenção de toda a mídia nacional e internacional.

Existia um sentimento dicotômico na população brasileira no período que antecede os JO que ainda perdura durante a realização dos jogos, haja vista a reconhecida pacificidade do Brasil frente ao cenário nacional, o fato de não ter no histórico brasileiro um ataque terrorista e o inconsciente popular, que através da mídia, acompanha as notícias de ataques terroristas ao redor do mundo.

Mas por que o terrorismo assusta tanto a população mundial e, neste momento, a população brasileira?

Para Larousse, terrorismo é o conjunto de atos de violência cometidos por grupos políticos ou criminosos para combater o poder estabelecido ou praticar atos ilegais ou regime de violência instituído por um governo. A luz do dicionário novo Aurélio, terrorismo trata-se de um modo de coagir, ameaçar ou influenciar outras pessoas ou impor-lhes a vontade pelo uso sistemático do terror.

Após definição breve sobre terrorismo, pode-se afirmar que, atualmente, o terrorismo além da utilização da violência extrema, trabalha para cooptar mais seguidores ao redor do mundo, dessa forma busca uma grande visibilidade mundial.

Os JO é o maior evento midiático do mundo, haja vista a quantidade de países e atletas participantes em um total de 204 países participantes dos JO e 164 países dos Jogos Paralímpicos (JP); 10.500 atletas olímpicos e 4200 paralímpicos.

Para fins de entendimento das atividades terroristas que ocorrem ao redor do mundo e que perpassam pelo inconsciente popular, será relatado de forma breve alguns exemplos abaixo, a fim de situar no contexto internacional a geografia e autoria das referidas atividades.

Por fim, será relatado de forma breve os efeitos das publicações da mídia internacional e nacional sobre a população brasileira em consonância com a natureza humana.

1. DESENVOLVIMENTO

1.1 Atentados ao redor do mundo no primeiro semestre de 2016

As causas e motivos que levam os grupos terroristas atuarem em locais distintos e seus respectivos modus operandi são informações relevantes para entendimento do receio popular em relação ao terrorismo e, dessa forma, se faz importante um relato sintético dos principais grupos terroristas que assumiram autoria dos atentados no primeiro semestre ano de 2016.

2.1.2 Ataque terrorista a hotel em Burkina Fasso

Na noite do dia 15 de janeiro de 2016 ocorreu o ataque ao hotel Splendid, onde três jihadistas detonaram um carro-bomba na entrada do hotel e iniciaram a disparar tiros contra hóspedes e funcionários. O ataque terrorista teve como resultado 26 mortos e 126 reféns e teve a autoria assumida pelo Al Qaeda no Magrebe Islâmico.

2.1.3 Ataque terrorista na Turquia

No dia 13 de março de 2016 um atentado com carro-bomba ocorreu em uma praça em Ancara, na Turquia. O ataque deixou 34 mortos e 125 feridos e teve autoria assumida pelos jihadistas do Estado Islâmico.

Resgate de vítimas e corpos em veículos destruídos em Ancara, na Turquia. Fonte: Erol Ucem/AFP

2.1.4 Ataque terrorista na Bélgica (Bruxelas)

No dia 26 de março de 2016 dois ataques terroristas ocorreram em Bruxelas, na Bélgica, um no aeroporto e outro em uma estação do metrô. O ataque teve 31 pessoas mortas e 340 ficaram feridas e teve autoria do Estado Islâmico.

Ferido aguarda socorro após explosões no Aeroporto de Bruxelas.
Fonte: AP/Estadão Conteúdo

2.1.5 Ataque terrorista na Indonésia (Jarcata)

No dia 14 de janeiro ocorreu um ataque a bomba em uma centro comercial na capital indonésia, Jarcata. O ataque deixou 9 pessoas mortas, três suspeitos, três policiais e três civis e teve a autoria assumida do Estado Islâmico.

Estrangeiro ferido em ataque com bombas em Jacarta, na Indonésia Fonte: Garry Lotulung/Agência Reuters

Ferido aguarda socorro após explosões no Aeroporto de Bruxelas. Fonte: AP/Estadão Conteúdo

2.1.6 Ataque terrorista no Paquistão

No dia 20 de janeiro de 2016 ocorreu um ataque terrorista na universidade Bacha Khan na região noroeste do Paquistão. Quatro homens entraram na universidade com fuzis AK-47 e granadas e efetuaram disparos e explosões. O ataque deixou 21 mortos confirmados, incluindo professores e estudantes, tendo como autoria assumida do grupo Taleban paquistanês.

2.1.7 Ataque terrorista em Nice (França)

No dia 14 de julho de 2016 ocorreu um ataque terrorista na Um caminhão avançou sobre uma multidão na cidade litorânea de Nice, na França, deixando mais de 80 mortos e dezenas de feridos. O ataque teve a autoria assumida do Estado Islâmico.

2.1.8 Ataque terrorista no trem na Alemanha

No dia 18 de julho de 2016 ocorreu um ataque terrorista em um trem na Alemanha na linha Treuchtlingen – Würzburg. Com um machado, um jovem desferiu golpes a passageiros ferindo um total de quatro pessoas. O ataque teve a autoria assumida do Estado Islâmico.

2.1.9 Ataque terrorista em uma igreja na França

No dia 26 de julho de 2016 ocorreu um ataque terrorista em uma igreja em SaintEtienne-du-Rouvray, nas proximidades de Rouen, na França. O padre Jacques Hamel, de 84 anos foi morto no ataque que teve a autoria assumida do Estado Islâmico.

1.2 COMPREENSÃO DOS EFEITOS DA MÍDIA SOB OS ESPECTADORES DE NOTÍCIAS CATASTRÓFICAS

Atualmente a mídia mundial vem veiculando as diversas catástrofes e atrocidades que ocorrem ao redor do mundo, com ênfase imagética para as cenas que fogem do cotidiano do ser humano, procurando causar estranheza no espectador e prendendo a atenção através de caraterísticas natas que já vem na natureza humana, dessa forma pode-se dizer que:
 

No que se refere aos comportamentos violentos e agressivos que cotidianamente são veiculados pela mídia televisiva, a teoria da catarse na área de comunicação argumenta que a violência na mídia cumpre, por assim dizer, uma função social: satisfazer e canalizar instintos violentos e catastróficos reprimidos do ser humano, de forma que não transcendam de cada indivíduo e não alterem bruscamente a ordem social vigente.
Sendo assim, o efeito terapêutico da catarse consiste em que com a contemplação de cenas violentas na mídia o indivíduo possa desenvolver suas fantasias pessoais direcionando a carga de instintos agressivos e impulsos catastróficos, minimizando expressões de violência na vida real (Sílberman & Lira, 2000; Alves, 2008).

Após breve comentário da catarse, soma-se a teoria da indústria cultural, na qual os frankfutianos Adorno e Horkheimer diziam que os meios de comunicação de massa ofereciam produtos pré-formatados que satisfizessem os anseios da grande massa, monopolizando o pensamento coletivo e induzindo-os a não emancipação do pensamento, gerando uma crítica, conforme é descrito abaixo:
 

Para Adorno e Horkheimer, o programa iluminista radicalizou o papel tradicional do saber imaginando-o objetivo, neutro, e dirigido de maneira inexorável para a emancipação da humanidade. Assim, o controle da natureza é levado ao seu extremo por meio do desmonte do mito e da produção de verdades que retirassem dos homens o pesado fardo do medo e da incerteza do mundo, garantindo ordem e sentido à existência humana. (Borges, 2011)


A natureza humana é domada pelos costumes e leis sociais, ficando, dessa forma, o homem impedido para lidar com o inexplicável. A teoria da catarse surge como um arrefecedor da natureza cruel e violenta, sendo a mídia um agente promovedor de satisfação dos anseios naturais humanos.

1.3 OS GRUPOS TERRORISTAS E AS CAUSAS

Para fins de elucidação do presente artigo e da grande quantidade de grupos terroristas ao redor do mundo, serão relatados abaixo apenas os grupos terroristas que assumiram atentados no primeiro semestre de 2016.

2.3.1 Estado Islâmico

O Estado Islâmico foi criado no ano de 2013, sob dissidência da organização terrorista al-Qaeda no Iraque. No início eram denominados Estado Islâmico no Iraque e na Síria (ISIS), no entanto, no início de 2016 os dois grupos romperam as alianças e declararam um califado com o nome de Estado Islâmico (EI), impondo o monopólio pela força. O Estado Islâmico reivindica a consolidação de um califado mundial, que terá como dirigente supremo o califa Abu Bakr al-Baghdadi atual líder do Estado Islâmico.

Ação terrorista do Estado Islâmico contra estrangeiros
Fonte: Captura de imagens fornecidas pelo EI

2.3.2 Al Qaeda no Magrebe Islâmico

De origem argelina defendem o Jihad (guerra santa) em todos os países do Norte da África contra os interesses ocidentais. O grupo tem sua origem através da cisão do Grupo Islâmico Armado por Hassan Hattab e pelo mufti Ahmed Zarabib. Desde 2002 tem laços com a rede al Qaida, a quem se vinculou definitivamente em 2006.

2.3.3 Taleban paquistanês

O taleban paquistanês (Tehrik-e-Taliban Pakistan – TTP) foi formado em dezembro de 2007 através de uma aliança entre grupos militantes que combatem os militares paquistaneses nas Áreas Tribais de Administração Federal e na Província Khyber Pakhtunkhwa (antiga Província da Fronteira Noroeste) do Paquistão.

Atualmente luta contra a intervenção ocidental e tem um objetivo de restaurar a paz e segurança e impor sua própria versão da Sharia, ou lei islâmica, uma vez no poder.

2. CONCLUSÃO

Conforme supramencionado nos itens anteriores, as pessoas sentem uma atração pelo trágico e violento de forma implícita a sua natureza, de maneira psíquica e em contrapartida aos pactos sociais que reprimem tal atração.

A mídia em geral conhecedora da teoria da catarse, aproveita-se, no cotidiano, de fatos e notícias associados à violência e tragédias do dia-a-dia para seduzir a grande massa. Somando a catarse a teoria da indústria cultural “enlatados” de notícias são veiculados a fim de entorpecer o espectador de informação fabricada e dentro do anseio da natureza humana, dessa forma, rendendo lucro com o famigerado IBOPE.

Alinhado com a transmissão em massa da mídia mundial em catástrofes e, particularmente, dos ataques terroristas, os grandes grupos planejam suas ações em busca de choque de massa, atração da atenção e a cooptação de colaboradores, que rompem o contrato social e largam os padrões sociais em busca de uma realização de um desejo que acompanha sua natureza humana, sendo instrumentos dos ideais terroristas.

As ações terroristas do primeiro semestre de 2016 trazem a memória que os grupos terroristas estão latentes em suas ações e que o maior evento midiático do Brasil  está em pleno curso, os Jogos Olímpicos 2016. Dessa forma a mídia mundial volta seus olhares e suas pautas para a possibilidade de ataque terrorista no Brasil.

Como exemplo de matéria jornalística que causou clamor nacional, pode-se citar um cidadão, na Bahia, com dificuldades mentais que vestia um aparelho cervical e foi confundido com um homem-bomba. Tal exemplo deixa claro o pavor espalhado no seio da população brasileira pela mídia nacional e internacional pela expectativa de um ataque terrorista.

Por fim, na contramão da possibilidade de ataques terroristas as forças legalistas do Estado trabalham de forma integrada nas esferas políticas, estratégicas, táticas e operacionais, realizando a divulgação das capacidades técnicas no enfrentamento ao terrorismo no Brasil

REFERENCIAS

BORGES, Juliano. “A Dialética do Esclarecimento, de Thodor Adorno e Max Horkheimer”; Revista Estudos Políticos. Disponível em http://revistaestudospoliticos.com/a-dialetica-do-esclarecimento-de-thodor-adornoe-max-horkheimer-resenha-de-juliano-borges/. Acesso em 26 de julho de 2006.

CABRAL, João Francisco Pereira. "Conceito de Indústria Cultural em Adorno e Horkheimer"; Brasil Escola. Disponível em . Acesso em 29 de julho de 2016.

Bill, B. G. (s/d). Catarse midiática – a tragédia do jornalismo pós-moderno. Disponível em: < http://www.facom.ufjf.br/lumina/12/R12-13 Alvarenga.pdf > Acesso em 26/07/16.

Primo, P. C. (s/d). O mal estar na cultura: Felicidade versus civilização. Disponível em: < http://www.nepprudente.com.br/arquivos_texto/O MalEstar na Cultura.ppt#293,37,O sentimento de culpa e o mal-estar na cultura >. Acesso em 26/07/16

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