ESTADO ISLÂMICO
ASPECTOS OPERACIONAIS:
Revolução Tática ou Infantaria Leve na Era Global.
É um típico combate de infantaria praticado com maestria pelo Estado Islâmico, conduzido de modo descentralizado – a iniciativa é transferida aos pequenos escalões e travado a curta distância – os últimos cem metros. Pressupõe, porém, grande savoir-faire na preparação das operações (reconhecimento, informações, treinamento com base em mapas, cenários e maquetes, instalação de depósitos avançados de munição e suprimentos), da utilização do micro terreno (ravinas, taludes, trilhas, construções, escombros, etc.) e de ações noturnas facilitando a infiltração e o combate aproximado. John Poole
Strategic Rifleman, 2014.
Frederico Aranha
Pesquisador
aranha.frederico@gmail.com
Equipes do Estado Islâmico com armamento básico da infantaria: fuzis de combate AK, lança-rojão RPG, metralhadora leve PKP. Ao fundo, os indefectíveis Technicals, utilitários civis artilhados.
A súbita ascensão e expansão do Daesh em 2014 deixou o mundo perplexo. Humilhou seus adversários, inclusive aqueles em Damasco, Bagdá, Teerã e Washington. Equipado com extenso arsenal, contando com uma força de combate internacional e adepto da mídia digital, o assim chamado Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Daesh em árabe) tornou-se a autoridade de fato de um território igual ao da Jordânia. Desde então, o Daesh age para consolidá-lo. Simbolicamente, desmantelou o acordo Sykes-Picot, que demarcou a fronteira Síria/Iraque após a Iª Guerra Mundial, tornando o Califado uma tangível realidade territorial.
As desconcertantes operações militares do Daesh representam sem dúvida uma novidade tática. É a primeira vez que um grupo terrorista (ou guerrilha) alcança tal resultado: as violentas ações não se destinam à defesa de uma área de difícil acesso (zona urbana ou montanhosa, floresta) ou a simples atentados terroristas, mas à ofensiva e ocupação de um vasto território. Desenvolvem-se em terreno parcialmente desértico, com infantaria leve apenas, ausentes formações de carros de combate e artilharia orgânica e sem apoio aéreo. Realizadas unicamente por unidades ligeiras, embora com amplas repercussões estratégicas e políticas, autoriza pensar numa “revolução tática”. Recentemente, a ofensiva de uma guerrilha (ou grupo terrorista) transformada em exército convencional ou apta a operações militares convencionais se deu em raros casos: por exemplo, o Vietnã do Norte empregou carros de combate, veículos blindados e artilharia pesada no estágio final para conquistar o Vietnã do Sul; a Frente Polisario fez o mesmo para atacar as fortificações construídas pelos marroquinos no Saara Ocidental.
O exército iraquiano reorganizado em moldes americanos, estruturado em estados-maiores, divisões, brigadas, equipado modelarmente, mas empregando táticas ortodoxas, não é capaz de resistir aos ataques do Daesh. De igual sorte, o Exército Sírio aparelhado conforme ao antigo Exército Soviético tem sido frequente e amplamente derrotado. O ganho territorial alcançado pelo Daesh é considerável: espraia-se por dois países, Síria e Iraque, sendo de tal envergadura que permitiu a criação de um Califado aos moldes daqueles dos séculos 8/9, tal como preconizado pela Sharia, sem prejuízo das chamadas “Províncias”, filiais orgânicas e territoriais do Califado implantadas na Líbia, Afeganistão, Cáucaso, Egito (Península do Sinai), Mali, Nigéria, Somália. Ademais, a ofensiva do grupo parece destinada a provocar uma alteração radical do mapa físico e político do Oriente Médio: a provável criação do Curdistão e a potencial fragmentação do Iraque e da Síria, sem prejuízo de outras mudanças geopolíticas de profundidade na Ásia e África.
1. Portanto, é à luz da magnitude das consequências desta guerra virulenta realizada pelo Daesh apenas com unidades de infantaria leve que se afigura a ideia de uma "revolução tática." O que isso significa no contexto? Três aspectos a levar em consideração: a maturação das chamadas táticas "asiáticas"; o rompimento com a tecnologia state of art; e a nova forma transnacional de organização militar. Diferentes exércitos convencionais enfrentam a mais de meio século adversários com poder de fogo "limitado" que empregam táticas desenvolvidas com vistas a diminuir a diferença de força (potência) e criar um equilíbrio ainda que precário frente a exércitos muito mais poderosos. Essas táticas caracterizam-se, em síntese, pela surpresa, o uso da dispersão, manobra e infiltração de pequenas unidades (grupo de combate, seção). Fala-se de "revolução tática" porquanto as operações do grupo mostram que essas táticas já atingiram sua maturidade: não se limitam à postura defensiva e à busca de equivalência de poderio, mas à ação ofensiva em larga escala.
2. Se correta esta visão, exigirá uma reorientação dos exércitos regulares ocidentais abrindo caminho para requalificar o cidadão-soldado, privilegiando uma formação profissional especializada. É importante apresentar a especificidade destas táticas a fim de entender por que é legítimo evocar uma revolução. Foram elas desenvolvidas principalmente por aqueles que têm enfrentado grande poder de fogo (artilharia pesada e bombardeios aéreos) dos EUA – os japoneses em 1943, os chineses e norte-coreanos na Guerra da Coréia, os norte-vietnamitas durante a Guerra do Vietnã – e da Rússia os chechenos em três grandes conflitos: daí a designação de "asiáticas". Todos os combatentes em situação semelhante – enfrentar um poder de fogo violento, os Pasdaran iranianos durante a guerra Irã-Iraque, os Mujahideen do Afeganistão contra os soviéticos, o regulares do Hezbollah contra Israel e os militantes da Al Qaeda no Iraque e no Afeganistão, adotaram e aperfeiçoaram essas táticas.
3. No entanto, essas táticas não são particulares da Ásia ou do Leste. Sua origem, pode-se afirmar, remonta à Primeira Guerra Mundial com a criação de unidades especiais pelo Exército alemão, os Stosstruppen – Destacamentos de Choque, posteriormente Sturmtruppen – Destacamentos de Assalto [1]. Observando o fracasso e o alto custo humano dos ataques frontais de infantaria contra um inimigo entrincheirado e o impasse estratégico criado, os alemães desenvolveram métodos de infiltração com base no “enxame” de vários grupos lutando para progredir usando o micro terreno – valas, córregos, crateras provocadas pela artilharia e outros obstáculos e detritos, procurando desbordar as posições defensivas do inimigo para penetrar em profundidade rumo aos centros de comando, concentração de armas de apoio ou depósitos de suprimento. Este novo método de combate baseava-se em grupos de no máximo dez homens liderados por um suboficial. A dotação de armas também sofreu uma transformação. A prioridade foi dada a armas de combate aproximado: granadas de mão, armas de repetição, pistolas semiautomáticas, facas e pás, submetralhadoras, metralhadoras leves, minas e bombas, fuzis de precisão, lança-chamas e outros equipamentos próprios da infantaria.
Stosstruppenpreparando-se para o ataque.
Gravura de Otto Dix – “Coleção Arte do Apocalipse”(1924).
Avanço dos Stormtruppen sob ataque de gás.
4. O objetivo foi dar ao soldado de infantaria (grupo de combate) alta mobilidade e elevado poder de fogo no combate aproximado. A adoção do Auftragstaktik (“missão tática”) [2] tornou a infiltração não apenas possível como imprimiu eficácia à atuação dos grupos de combate pois sabiam o tempo de progressão e o objetivo, mas atuavam com liberdade para escolher a rota e ações para alcançá-lo. A iniciativa era do suboficial líder do grupo; o oficial comandante concentrava-se "em seus binóculos" para descobrir os contornos precisos das posições inimigas e orientar seus grupos no campo. Na defesa os Sturmtruppen renunciavam aos dispositivos lineares (trincheiras) em favor de posições escalonadas em profundidade, localizadas no próprio campo de batalha ou na terra de ninguém, para fugir da observação e reconhecimento inimigo. Essas posições tinham rotas de fuga para a tropa evadir-se quando a pressão do ataque fosse insuportável. As posições eram reocupadas à noite quando o atacante estivesse esgotado. Dessa forma, adotavam uma luta altamente móvel, tanto na ofensiva como na defensiva, utilizando plenamente o terreno para escapar dos efeitos destrutivos de armas pesadas. Formavam as melhores e mais eficientes unidades do Exército Imperial Alemão e seus homens os mais desassombrados em combate. O Tenente Ernst Jünger, Comandante de Companhia de Assalto na Iª Guerra, filósofo e escritor, ferido sete vezes em combate, detentor da mais alta condecoração prussiana – Pour Le Mérite, conhecida também como Blue Max – registrou sua experiência de guerra em livro (v.bibl.), traduzindo com precisão a disposição dos seus comandados para a luta: Não há contradição no fato de nos cognominarmos condottieri e sentir uma estranha afinidade com esses espíritos aventureiros, com tanto sangue nas veias que qualquer pretexto e qualquer bandeira eram motivo para jorrá-lo. As táticas de japoneses, chineses, norte-coreanos, norte vietnamitas, chechenos, do Hezbollah e dos jihadistas são um legado dos Sturmtruppen.
5. O equipamento da infantaria do Daesh tem paralelo com o conjunto do armamento empregado outrora pelos Sturmtruppen: inclui geralmente armas leves de origem russa (ou soviética), o fuzil de combate AK, lança-rojão RPG-7 [3], metralhadora leve PKM/PKP, fuzil-metralhador RPD, fuzil de precisão Dragunov [4] e vários tipos de explosivos (granadas de mão, minas, bombas) e armas pessoais (pistolas semiautomáticas) de diversas procedências. As ações descentralizadas são de pequenas equipes usando surpresa, diversão e alto poder de fogo a curta distância (o lança-rojão RPG-7 desempenha um papel importante neste ponto por causa da versatilidade); a unidade tática básica pode ser de três a seis homens (armados de lança-rojão, fuzil de precisão, fuzil-metralhador e fuzil de combate) emprestando total autonomia para o combate móvel [5].
6. Os aspectos destacados das táticas adotadas pelo Daesh são:
#Ações cuidadosamente preparadas e modeladas com base em um conjunto de informações específicas obtidas por patrulhas, pelo interrogatório de prisioneiros e no seio da população civil;
# Movimento, infiltração e abordagem à noite usando o micro terreno, com base em mapas simples, mas precisos, elaborados conforme informações previamente obtidas (visores noturnos não são comumente utilizados);
# Ataque a cidades ou aglomerados urbanos de acordo com a técnica da "flor de lótus", ou seja, infiltração de equipes em vários pontos previamente eleitos, unindo-se por meio de “saltos” no centro (de comando) da cidade, o coração de lótus do dispositivo inimigo;
# Cenários utilizados para treinamento da tropa, construídos de acordo com as ações previstas; o treinamento dos militantes se dá à exaustão, organizando a tropa conforme a missão emboscada, reide ou ação defensiva – esta organização ad hoc, modelada no cenário apropriado, aumenta ainda mais a mobilidade da unidade envolvida;
# Sistema de divulgação via internet de manuais de combate (inovação posta em prática pela Al Qaeda), nos quais os militantes obtêm a informação que precisam para suas operações.
Fase final do ataque: os Technicals avançando em alta velocidade.
7. A ênfase nessas táticas, inteligência, ação descentralizada, equipes pequenas e o uso de micro terreno (infiltração) pode compensar a falta de equipamentos pesados. O objetivo primordial é o combate corpo a corpo buscado sistematicamente, ou seja, trazer o inimigo para a “ponta da espada". Os procedimentos preferidos para atrair o oponente para área de matança podem ser a emboscada ou o ataque com IED (artefato explosivo improvisado) suicida ou não. Além disso, a infantaria leve é capaz de passar despercebida até o contato, o que impede o adversário de utilizar seu maior poder de fogo. Assim, os chechenos foram capazes de retomar Grozny ainda ocupada pelas tropas russas em maior número. O Daesh procede exatamente da mesma maneira: de modo geral, os militantes detonam um veículo suicida ou guiado por controle remoto perto de viaturas, construções e posições inimigas, dispersando os defensores; depois se aproximam com os technicals em alta velocidade metralhando tudo no seu caminho – aí acontece a debandada. Os métodos descritos evidenciam a ação descentralizada de pequenas equipes, com grande poder de fogo a curta distância e o embuste pela explosão de carros-bomba ou de IEDs.
8. Em segundo lugar, essas táticas rompem praticamente com o emprego da tecnologia. A excelência e o sucesso são baseados em equipamentos menos sofisticados, na habilidade dos combatentes e na iniciativa de pequenas unidades pesadamente armadas e cuidadosamente preparadas. Este é o segundo ponto que permite falar de revolução. Os drones assassinos, as bombas inteligentes, a digitalização do campo de batalha e a onipresença da eletrônica, incluindo equipamentos individual do soldado, são fatores que ficam afastados por causa do sucesso com base no know-how particular do soldado, sem as características que dizem respeito à abordagem tecnológica da guerra adotada por exércitos ocidentais. Confirma-se o prognóstico de Martin Van Creveld de 1991: as armas modernas tornaram-se tão caras, tão rápidas, cegas, impressionantes, volumosas e poderosas que transformam a guerra contemporânea em becos sem saída, ou seja, lugares onde elas não funcionam. Os braços da revolução tecnológica (Revolution on Military Affairs) não foram bem-sucedidos a não ser em onerar ao extremo os orçamentos militares, obrigando os Estados a se concentrarem em hardware em vez de no real. A RMA também provocou uma centralização quase total da conduta dos escalões de combate, removendo qualquer margem de manobra. Contrariamente, as táticas aqui consideradas demonstram a sua eficácia, até porque já não se limitam apenas à postura defensiva contra um adversário cineticamente superior, elas abrem a possibilidade de conquistas territoriais.
9. Em terceiro lugar, o Daesh promove o nascimento de uma verdadeira "força armada transnacional": os homens que compõem sua força armada lutaram ou lutam em incontáveis teatros de operações, entre eles, Líbia, Mali, Iraque, Afeganistão, Chechênia, Balcãs, Síria, etc., além de veteranos e noviços europeus e de outros países, totalizando mais de cinquenta nacionalidades. São capazes de se mover livremente e de forma discreta nesta enorme área que se estende desde o Saara até o Cáucaso, de se reunirem em um determinado lugar e movimentar e transferir todo tipo de armamento por meio do tráfico ilegal. Alguns analistas têm traçado “mapas das autoestradas” da insurreição na região mencionada; militantes circulam como civis sem serem detectados, mesclando-se com fluxos de refugiados ou através de canais comerciais. O carácter transnacional é particularmente notável quando comparado com as intervenções dos exércitos ocidentais que exigem aeronaves de grande porte, enormes bases aéreas, estruturas portuárias e cadeias de suprimentos complexas. As linhas de comunicação do inimigo serão destruídas pelo Daesh com ataques rápidos, as bases próprias substituídas por esconderijos e grandes depósitos em pontos geográficas previamente determinados e a adesão das populações será obtida por meio da propaganda e do terror.
Conclusões
Vivemos num mundo onde as fronteiras perderam sua importância, onde os territórios são fragmentados (áreas de caos ao lado de parques tecnológicos de ponta), onde a entropia surge progressivamente à medida que a economia paralela está ganhando força e, principalmente, os Estados tendem a perder o poder econômico e as empresas se tornando cada vez mais heterogêneas. Em tal mundo, um exército do tipo do Daesh pode estar em qualquer lugar, a sua liberdade de ação parece ser ilimitada. É uma matéria, uma organização informal que cresceu em força, enquanto as instituições perdem seu conteúdo. Seus militantes podem, por exemplo, se infiltrar na imigração em massa para a Europa, se estabelecer em áreas onde o Estado é ausente (periferia de grandes cidades), controlar o tráfico de drogas, equipar redes criminosas com armamento e por fim eleger as ações a serem desencadeadas e os alvos.
Neste sentido, pode-se conjecturar que uma tal forma de organização é comparável à que existiu entre o século quinto e o oitavo da nossa era, com o surgimento dos nômades das estepes (Vândalos, Avaros, Godos, Magiares) e os árabes, todos capazes de derrotarem os exércitos ocidentais graças a sua mobilidade extraordinária. Esta comparação tem como objetivo colocar a perspectiva "revolução tática" para identificar alguns elementos potenciais. A resposta do Ocidente para as invasões dos cavaleiros da estepe é esclarecedora sob diversos aspectos para a nossa realidade contemporânea. Sob os repetidos golpes, o Império Romano e o mundo carolíngio se desintegraram deixando espaço para outros mais capazes combater as ameaças. No caos deste período surgiram, em função das distâncias muito grandes e comunicações primitivas, inúmeros pequenos exércitos aptos a garantir uma defesa eficaz. Desse modo, a solução foi a transferência das responsabilidades militares à aristocracia local mais capaz de proteger áreas nacionais contra invasões e ataques. O historiador Michael Howard (v.bibl.) observa a este respeito: Não é de surpreender que um tipo de sociedade que pode garantir a sobrevivência dos povos da Europa em tais condições, apareceu: as gerações seguintes de historiadores deram-lhe o nome de 'feudalismo'.
Embora os meios de comunicação e transporte pendem hoje a anular distâncias, o território do Estado e do corpo social é de modo geral fragmentado, as lacunas preenchidas pelo caos enquanto o aparato de segurança e militar é impotente para defendê-lo. Isso abre oportunidade para um inimigo transnacional, fluido e informal, semelhante aos cavaleiros das estepes do quinto ao oitavo séculos tiros.
Pergunta-se se o Daesh pode ser derrotado no Oriente Médio. Pode, sem dúvida. A luta na Síria (e no Iraque) é feroz e complexa, pois são muitos os atores e com interesses difusos. Expulsar o Daesh dos territórios que ocupa é o objetivo estratégico. Sem território não há Califado. Assim reza a Sharia. É uma tarefa gigantesca, porquanto exige uma aliança militar gestada necessariamente por um acordão político de difícil consecução. Além dos mais, o Daesh já demonstrou que pode defender as áreas ocupadas em múltiplas frentes. Para ter sucesso, exige antes de mais nada que o Daesh seja reconhecido como um Exército Terrorista e não um mero grupo terrorista como acontece agora. (Porto Alegre, outubro/2015)
NOTAS
[1]. A questão central na Grande Guerra era como cruzar a terra de ninguém, de um sistema de trincheiras a outro, tomá-lo e ocupá-lo, tudo sem grande perda de vidas. Em 1917 os alemães pensaram ter encontrado um meio de resolver a questão. A formulação e regulamentação de um conjunto de “táticas de infiltração” foi implementada por inspiração do General Oskar von Hutier após um grande debate pelo Estado-Maior alemão. Resumidamente, consistia no “casamento” de uma curta barragem de artilharia, destinada a manter a cabeça dos defensores da primeira linha abaixada, com o ataque de forças especiais – Sturmbattalione ou Sturmtruppen– fortemente armadas e empregando táticas fundadas no aproveitamento do terreno da terra de ninguém, penetração e limpeza das posições defensivas do inimigo e prosseguimento do ataque aos centros de comando e de posições de tiro e depósitos de suprimentos. A artilharia voltaria a disparar uma “barragem rolante” para proteger o avanço. A ocupação do terreno caberia às tropas regulares que acompanhavam a ofensiva. Von Hutier adotou as novas táticas quando no comando do 8º Exército, na Frente Leste, por ocasião da travessia do Rio Dvina e a tomada de surpresa da cidade de Riga em setembro de 1917, mediante manobra de infiltração protegida pela artilharia. Embora vitorioso, falhou na missão de destruir o 12º Exército Russo. Contudo, libertou cerca de 50.000 alemães residentes em Riga, capturou 25.000 russos e 262 peças de artilharia – suficientes para equipar algumas divisões – com a perda de 4.200 homens mortos e feridos. O mais importante foi conservar a pressão sobre as tropas russas que nesta altura já tinham perdido a vontade de combater. O sucesso do ataque deveu-se em grande parte à atuação da artilharia alemã sob o comando do afamado artilheiro Coronel George Bruchmüller. A sintonia entre Von Hutier e Bruchmüller foi total. Pode-se afirmar que a Batalha de Riga serviu de modelo, mais no plano operacional do que no tático, para as últimas ofensivas alemãs na Grande Guerra.
[2]. Traduzir Auftragstaktik para “Missão Tática” distorce completamente o sentido da palavra. Não quer ela dizer um estilo de dar ordens ou um meio de redigi-las. É toda uma filosofia de comando. Por ocasião dos jogos de guerra do Estado-Maior do Exército Prussiano em 1858, o genial Von Moltke enunciou na crítica aos jogos os princípios do Auftragstaltik – sendo a ordem uma regra, deve conter somente aquilo que o subordinado por si só não pode determinar; todo o resto deve ser deixado ao seu talante. No entanto, como anota o historiador militar inglês Liddell Hart, a única coisa mais difícil do que introduzir uma nova ideia no pensamento militar, é dele extrair uma velha ideia. Seus preceitos foram oficialmente adotados e incorporados aos Manuais de Campanha do Exército Alemão trinta anos depois, em 1888, ano em que o Marechal Von Moltke retirou-se do serviço ativo. Por ocasião do ataque alemão à França em 1940, o entãoOberst (Coronel) Kurt Zeitzler, chefe do Estado-Maior do Panzergruppe Kleist, transmitiu uma ordem invulgar aos comandantes das unidades mecanizadas e seus estafes, ajustada ao melhor espírito do Auftragstaktik: Senhores, a missão das suas divisões é cruzar as fronteiras da Alemanha, transpor totalmente as fronteiras belgas e atravessar completamente o rio Meuse. Não me preocupo como cumprirão as ordens. É um problema que compete somente aos senhores.
[3]. De acordo com o International Arms Market, o tubo do RPG custava US$ 200 em 2012 e o foguete propulsor US$ 100. Além do baixo custo e fácil manuseio, a arma dispara uma gama de munições de aplicação variada o que lhe empresta grande versatilidade. Tipos de munição:
1. PG-2 HEAT (80 mm)
2. PG-7 HEAT (85 mm)
3. PG-7M HEAT (70 mm)
4. PG-7L HEAT (93 mm)
5. PG-7R HEAT tandem (50/105 mm)
6. TPG-7 Termobárica (105 mm)
7. OG-7 Fragmentação (40 mm)
[4]. O fuzil de precisão tem importância particular, porquanto não só permite a observação e o tiro a longa distância – um apoio discreto e eficiente, bem como enseja a interdição de uma zona de combate sem implicar no emprego de grande efetivo.
[5]. Observa-se em fotos que os militantes do EI se apresentam normalmente em grupos de três a seis homens (em tese, a capacidade do technical) exibindo seu armamento pessoal.
FONTES DE CONSULTA
Bibliografia
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