Anotações de Bin Laden’ revelariam modo de pensar do líder da Al-Qaeda

As folhas de papel teriam sido encontradas em um cômodo ao lado do quarto de Bin Laden, no complexo onde ele vivia, em Abbottabad, no Paquistão.

A autenticidade do material não pode ser verificada, mas especialistas acreditam que as anotações feitas com caneta vermelha seriam o rascunho de um discurso ou de uma declaração de Bin Laden, indicando que o líder da Al-Qaeda modificava e reescrevia seus textos diversas vezes.

Mesmo com alguns trechos borrados por água e com frases inteiras rabiscadas, é possível ler no texto referências à mudança climática e às enchentes na Arábia Saudita, assuntos mencionados por Bin Laden
em discursos no passado.

O texto também tem críticas à família real saudita – outro tema comumente abordado por Bin Laden – e conselhos sobre liderança.

'Estilo de Bin Laden'

O especialista em Al-Qaeda Abdel Bari Atwan, que entrevistou Bin Laden em 1996, acha que o material pode ter sido escrito durante as enchentes em Jeddah, no oeste da Arábia Saudita, em dezembro de 2009.

"Eu acredito que (o material) é verdadeiro. Posso ver pela linguagem e pela maneira como está escrito. Se foi escrito pelo próprio Osama Bin Laden ou se foi ditado por ele ou por outra pessoa, não sei. Mas tem a marca do estilo de Osama Bin Laden", diz Atwan.

Outro conhecedor da Al-Qaeda, Walid Phares, que aconselha o Congresso americano em políticas antiterrorismo, também vê semelhanças entre as anotações obtidas pela BBC e as de Bin Laden e de Ayman al-Zawahiri, que o substituiu na liderança da organização.

"Fiquei muito intrigado com estes documentos. Gostaria de ter acesso a mais deles”, disse Phares, que vê como significativas as referências à Arábia Saudita nos papeis.

"Ele está falando da futura gerência e liderança dos sauditas, então isso é uma informação altamente estratégica se realmente tiver vindo de Osama Bin Laden. Essas frases nos mostram que ele tinha um interesse na Arábia Saudita e que ele tinha pessoas dentro da Arábia Saudita, então o homem se foi, mas essas pessoas ainda estão lá", afirma.

"É como se alguém no topo da pirâmide estivesse falando com seus partidários, seus funcionários, dizendo a eles que eles devem se comportar e que aqueles responsáveis por erros devem ser levados à Justiça."
 

Caligrafia

O analista de Oriente Médio da BBC Abdallah Alsalmi diz que a caligrafia das anotações se parece com a de um adolescente, entre 13 e 16 anos de idade.

Ele acredita que as páginas podem ter sido escritas pela filha de Bin Laden, que teria vivido com ele no complexo de Abbottabad e que teria testemunhado sua morte.

"É provável que ele estivesse ditando seus pensamentos como forma de passar o tempo", disse Alsalmi.

"Ele estava vivendo em um complexo sem nenhuma comunicação com o mundo do lado de fora, a não ser seus livros e um aparelho de televisão. É provável que ele estivesse entediado."

'Pobreza absoluta'

Quase dois meses após a operação que matou Bin Laden, especialistas americanos continuam analisando arquivos de computador e documentos encontrados no complexo.

No entanto, pouco se sabe até agora sobre as razões que levaram Bin Laden a ir viver na tranquila cidade de Abbottabad, assim como a rede de apoio com que ele contava e se havia ligações com o Exército Paquistanês ou os serviços de inteligência do país.

Hoje, o complexo de Abbottabad fica permanentemente cercado por policiais e soldados paquistaneses.

Poucos detalhes foram divulgados sobre a vida de Bin Laden atrás dos altos muros que cercam os prédios.

“As investigações continuam”, disse à BBC uma fonte dos serviços de segurança do Paquistão. “Estamos tentando descobrir o que deu errado e onde ‘pisamos na bola’.”

Sobre a vida cotidiana de Bin Laden no local, a fonte apenas falou que ele vivia "em pobreza absoluta".

"Os colchões eram baratos e finos. Cada uma de suas três mulheres tinha uma cozinha. Uma delas usava um fogão improvisado", disse.

Ele concluiu a conversa com uma piada comum no Paquistão: "Bin Laden ficou trancado por vários anos com três mulheres e 12 crianças. Certamente foi ele mesmo quem chamou a Força de Operações Especiais dos Estados Unidos".

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