Exército planeja aplicar conceitos de inovação da Suécia

Virgínia Silveira*


Segunda maior cidade sueca depois de Estocolmo, Gotemburgo chama a atenção não só pelo fato de abrigar o maior porto marítimo entre os países nórdicos, por onde são exportados os carros e caminhões da Volvo. A cidade de 513 mil habitantes respira tecnologia. São mais de 60 mil estudantes universitários circulando diariamente em torno das suas universidades (Gotemburgo, Universidade Técnica de Chalmers e Universidade de TI).

Na mesma área também está localizado o Lindholmen Science Park, um centro de liderança mundial para internet móvel, transporte inteligente e sistemas de comunicação modernos. Atraído por exemplos desse parque, o Exército brasileiro mostrou interesse em aplicar os conceitos que movem a inovação sueca no polo de ciência e tecnologia que está sendo implantado em Guaratiba, no Rio de Janeiro.

Com sua arquitetura vanguardista e propositadamente concebida para o desenvolvimento colaborativo de pesquisas, o Lindholmen atraiu nos últimos 12 anos mais de 300 empresas, entre elas a Ericsson, Volvo, Saab e Semcon. Niklas Wahlbert, executivo-chefe do parque sueco, disse que 18 mil funcionários e alunos trabalham no parque, seja desenvolvendo pesquisas ou como empregado das empresas. A projeção é chegar a 2020 com 30 mil pessoas.

É nesse ambiente de colaboração internacional que universidade, empresas e governo se juntam para desenvolver soluções para as demandas globais. Todos os espaços do parque, projetados dentro do conceito de arenas abertas, estão equipados com estações de trabalho, laboratórios modernos e avançadas infraestruturas de TI para desenvolver projetos.

"Nosso objetivo é dar uma nova dinâmica ao sistema de ciência e tecnologia do Exército, aumentado a sua capacidade de interagir com as empresas brasileiras", disse o coronel Álvaro Pereira da Silva, assessor especial do comandante do Exército na área de tecnologia, general Enzo Martins Peri.

A inovação aberta (desenvolvimento feito em colaboração entre a indústria, o governo e a academia) poderá ser aplicada de forma mais eficaz no polo de Guaratiba, onde já está presente o Centro Tecnológico e o Centro de Avaliação do Exército, e, em breve, o Instituto militar de Engenharia (IME), segundo o coronel Silva. "Estamos criando em Guaratiba uma sinergia semelhante à que existe na Suécia em relação a inovação aberta", afirmou.

Ao transferir o IME para Guaratiba, o Exército estará também aproximando as áreas de pesquisa básica e de desenvolvimento, facilitando a interação com a universidade.

Durante a semana de inovação promovida pelo Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (Cisb), os representantes do Exército visitaram o centro de pesquisa da Saab na área de defesa e iniciaram uma discussão sobre a possibilidade de cooperação. O evento foi realizado de 3 a 7 de setembro em Linköping, Gotemburgo e Estocolmo, na Suécia.

"Fizemos o mesmo com o Senai, que quer saber quais tecnologias o Exército tem interesse em desenvolver no Instituto de Pesquisa de Defesa, que será instalado no Parque Tecnológico de São José dos Campos", disse o coronel Silva.

Para as empresas, a inovação tem impacto mundial. O vice-presidente de tecnologia da Saab, Pontus de Laval, disse que o trabalho de inovação em ambientes colaborativos, como o do Lindholmen Science Park, fortalece a indústria sueca no mercado global.

Como o modelo favorece todos os participantes, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) também quer incentivar seus alunos a trabalharem em parceria com a indústria local. "Estamos fazendo um mapeamento das cadeias produtivas da região, que serão dinamizadas com a instalação do parque tecnológico da UFJF", afirmou o secretário de desenvolvimento tecnológico da UFJF, Paulo Nepomuceno.

Paralelamente às obras desse parque, que deverão ser iniciadas ainda este ano, a UFJF vai procurar atrair empresas para o empreendimento. A primeira delas, a portuguesa Nanium, âncora do parque da universidade, irá investir US$ 30 milhões na instalação de uma unidade para produzir memórias para computadores. Em uma segunda etapa, a empresa pretende fazer chips para celulares e células fotovoltaicas para geração de energia solar, entre outros produtos.

O plano da universidade e da prefeitura de Juiz de Fora, segundo Nepomuceno, é desenvolver a cultura da inovação no município construindo uma rede de colaboração, semelhante à que existe na Suécia, onde a inovação está baseada em uma hélice tripla, envolvendo, de forma aberta, governo, indústria e institutos ou universidades.

"Juiz de Fora tem uma fábrica de caminhões da Mercedes, que é considerada a mais moderna do mundo, mas, por outro lado, não temos uma cadeia de fornecedores qualificados para atender a companhia, que compra seus suprimentos em outras regiões do país", disse o secretário da UFJF.

O objetivo da universidade, segundo o secretário, é estar pronta em um ano para desenvolver oportunidades para o surgimento de novos negócios acadêmicos dentro do parque tecnológico. "A ideia é acelerar o desenvolvimento de novas tecnologias que possam gerar empresas, fazendo pesquisa aplicada para o desenvolvimento da região", disse Nepomuceno. A inovação aberta, segundo ele, é o caminho mais viável para que as empresas desenvolvam soluções inovadoras com potencial para competir globalmente.

*A repórter viajou a convite do Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro.

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