Uma demonstração do Exército realizada nesta quinta-feira com o lançamento de foguetes “terra-terra” em seu campo operacional de Formosa (GO) foi usada para sensibilizar o Planalto a adquirir novos equipamentos para as Forças Armadas. Essa ação reforça a capacidade ofensiva do Exército e ajuda a evitar a derrocada de uma companhia brasileira que projeta, desenvolve e fabrica produtos de defesa: a Avibrás.
Capitaneado pelo ministro Nelson Jobim (Defesa), o evento contou com a presença do vice-presidente da República, Michel Temer, que conheceu o atual sistema de artilharia por foguetes do Exército, chamado Astros II, e obteve informações sobre seu sucessor – o Astros 2020 (lê-se vinte vinte).
O Exército quer comprar o novo sistema, que custa R$ 960 milhões. Além disso, Jobim disse que um processo de reestruturação da Avibrás se faz necessário, uma vez que a empresa nacional produz equipamentos de ponta para o mercado. A Avibras já vendeu o equipamento Astro 2020 para a Malásia por 219 milhões de euros .
“Trabalhamos nesse sentido (de comprar o Astro 2020) e vamos recuperar a Avibrás. O processo (de recuperação) está no Ministério da Fazenda e a decisão vai ser tomada em pouco tempo. Vamos dar continuidade a esse acervo tecnológico que não pode ser perdido, que é tecnologia exclusivamente brasileira”, explicou Jobim.
Após assistir ao disparo de sete foguetes, Temer disse que será um advogado dentro do governo para a aquisição do Astros 2020 para o Exército, mas não detalhou como ou quando os recursos vão ser liberados. “Você só pode estar ao lado dos grandes países se tiver instrumentos de defesa também grandiosos (…) Serei advogado desta causa”, disse.
Além do fortalecimento de armas ao Exército, o ministro Jobim promove um esforço para equipar todas as Forças Armadas. No caso da Força Aérea, o projeto principal é a compra de caças para a Aeronáutica, cuja decisão tem sido repetidamente prorrogada. Para a Marinha, o principal investimento tem relação com a criação de um submarino movido a energia nuclear.
Evolução para defesa
De acordo com o general Aderico Mattioli, a aquisição do Astros 2020 seria uma evolução para a defesa brasileira. Ele destacou que o novo sistema é composto por 49 viaturas, sendo 18 lançadores e 18 remuniciadores, além de unidades de controle e reparo.
Para Mattioli, há ainda outro ponto forte no Astros 2020, que é a unidade que faz cálculos e usa mapas digitais para definir a trajetória e alvo dos foguetes. “Ele ainda permite uma maior mobilidade e menor tempo entre o disparo e a dispersão das unidades, evitando, assim, o contra-ataque”, comentou.
De acordo com ele, o investimento de R$ 960 milhões seria feito num prazo de cinco anos. Os equipamentos seriam entregues à medida que fossem produzidos e, paralelamente, seria desenvolvida a tecnologia para a fabricação de um míssil com 300 km de alcance. “Algo que poucos países no mundo possuem”.
O Astros 2020 ainda também possibilitaria ao Exército o uso de mísseis (unidades teleguiadas que podem mudar sua trajetória no ar). Atualmente o Brasil só conta foguetes terra-terra, que além de não mudar de direção ao longo do percurso, alcançam no máximo 90 km de distância.
Exportação
De acordo com o general Mattioli, um dos problemas para a exportação do Astros 2020 é o fato do Exército Brasileiro não possuir o sistema. "Existem nações que querem o produto, mas a primeira pergunta que fazem é: 'seu País tem?'. Enquanto não tiver fica difícil (pensar em vender tecnologia brasileira no exterior)", disse.
Demonstração
Na demonstração desta manhã, sete foguetes "terra-terra" foram disparados. Uma das baterias contou com o modelo mais simples, chamado de SS-30 (Solo-Solo 30), que produz impacto ao atingir o chão. Também foram testados os SS-40 e SS-60. Os dois contam com maior alcance e explodem no ar lançando submunições no solo para novas detonações, produzindo o que os militares chamam de “saturação de área”.
No evento foi possível se observar pontos brancos na área de tiro. Alguns dos militares disseram que os mesmos eram carros e possíveis alvos do exercício. Quando os foguetes foram lançados, contudo, uma região à direta do local foi atingida. O Exército não admitiu erro e disse que os foguetes buscavam "saturar uma área, e não atingir um alvo fixo".
"Sei que havia os pontos brancos, mas não tenho a informação que eram carros. A informação que tenho é que o alvo era a crista da elevação. Se queria acertar a parte mais alta e isso foi feito, saturando uma área. E, no caso de uso real do equipamento, não seriam disparados três tiros, mas 80, ampliando a área de saturação atingida", explicou o coronel Silva Filho.