ESPECIAL INFANTARIA
Avião que vitimou Castello Branco
23 BC restaura avião para Festa Nacional da Infantaria
Ilustre Infante Cearense foi Presidente da República
Vianney Júnior
Editor Internacional de Aeroespaço e Defesa
O 23º Batalhão de Caçadores – Batalhão Marechal Castello Branco, foi palco do ponto alto da Festa Nacional da Infantaria em 2015. Comandado por um infante de Forças Especiais, o Tenente-Coronel Alfredo Ferreira dos Santos Filho, o Batalhão recepcionou o Comandante do Exército Brasileiro, General-de-Exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, e comitiva, para a formatura de culminância das comemorações em homenagem ao Patrono da Arma.
“Um aço”, “padrão” e “a tropa entrou vibrando”, assim ouvia-se entre os comentários da assistência composta por militares da ativa e da reserva, familiares e autoridades civis. Tomaram parte na cerimônia do 205° ano do nascimento do Brigadeiro Antônio de Sampaio, além de contingentes do próprio batalhão, a Companhia de Comando da 10ª Região Militar, a 10ª Companhia de Guardas, o 40º Batalhão de Infantaria, o 25º Batalhão de Caçadores, o Batalhão de Infantaria da Base Aérea de Fortaleza, e o Grêmio de Infantaria do Colégio Militar de Fortaleza.
No 23º Batalhão de Caçadores serviram tanto infantes que galgaram notoriedade na vida civil, como por exemplo, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, como também nomes de enorme importância na história do Exército Brasileiro. Dentre os que passaram pelo Batalhão, um filho da terra chegou a atingir o mais alto posto da República, o de Presidente.
Assim, para além da formatura impecável, o comandante do 23 BC, Tenente-Coronel Santos Filho, reservava mais uma deferência especial ao Comandante do Exército, General Villas Bôas: a entrega da aeronave restaurada, na qual faleceu o Marechal Humberto de Alencar Castello Branco, insigne infante que empresta nome ao maior Batalhão da 10ª Região Militar.
Em um esforço de pesquisa, reconstrução de estrutura aeronáutica e delicado acabamento de arte, os trabalhos ficaram sob a coordenação do Tenente-Coronel Ralph Pires, e contaram com o apoio do diretor-presidente da CIONE, maior cajucultor do planeta, o ex-Combatente Cabo Jaime Tomaz de Aquino (in memoriam), do juiz federal aposentado, Tenente R2 Walker Cabral, da atleta campeã paraolímpica e restauradora de arte, Joselita Moreira, e do proprietário da CETAM, Comandante Celso Tinoco Chagas Filho (in memoriam), ), e da AORE-FZ, Associação de Oficiais da Reserva (R/2), e em particular de seu presidente, Tenente R2 Lúcio Freitas.
O acidente
No dia 18 de julho de 1967, a aeronave que conduzia o ex-Presidente entre Quixadá e Fortaleza, um Piper Aztec de matrícula PP-ETT, foi atingida na cauda pela ponta da asa de um caça da Força Aérea Brasileira, um Lockheed TF-33 (FAB 4325), que voava na ala direita de uma esquadrilha em aproximação para pouso no aeroporto Pinto Martins.
Estavam a bordo do bimotor a escritora Alba Frota, o Major Manuel Assis Nepomuceno, o irmão do Marechal, Cândido Castello Branco, o Comandante Celso Tinoco Chagas e o co-piloto Emílio Celso Chagas, filho do comandante.
Em razão do impacto que destruiu a parte da cauda responsável pela estabilização e direção, o avião entrou em parafuso chato, caindo sem controle até chocar-se com o solo.
Todas as pessoas a bordo morreram, com exceção do co-piloto.
A deriva (parte vertical da cauda) arrancada pelo caça jamais foi encontrada.
O avião foi removido da mata, cortado em pedaços, que após a investigação do acidente ficaram expostos em um galpão para visitação. Em 2001, se deu o primeiro trabalho de reconstrução, a partir da remontagem das partes e peças da aeronave, como forma de preservá-la como memória material.
O caça envolvido nesse acidente era baseado no 1º/4º Grupo de aviação, onde fez parte das primeiras aeronaves recebidas pela FAB em 10 de dezembro de 1956. Após o acidente, a aeronave seria reparada e continuaria voando regularmente até sua baixa em 1973. O caça também foi preservado e encontra-se hoje na Base Aérea de Fortaleza, como monumento, ao lado do prédio do Comando da Base.
Memória viva e material
Estiveram presentes à entrega do patrimônio histórico constituído pela aeronave reformada, acompanhando o Exmo. Comandante do Exército Brasileiro, General-de-Exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, os seguintes oficiais-generais:
– General-de-Exército Marco Antônio de Farias, Comandante Logístico:
– General-de-Exército Manoel Luiz Narvaz Pafiadache, Comandante Militar do Nordeste;
– General-de-Exército Luis Carlos Gomes de Mattos,Ministro do STM;
– General-de-Divisão Cesar Leme Justo,Chefe do CIE;
– General-de-Divisão Carlos César Araújo Lima,o Subcomandante do COLOG e ex-Comandante da 10ª Região Militar;
– General-de-Divisão Marcio Roland Heise, Comandante da 7ª Região Militar; – General-de-Divisão Artur Costa Moura, Comandante da 6ª Região Militar;
– General-de-Divisão Marco Antônio Freire Gomes, atual Comandante da 10ª Região Militar,;
– General de Divisão R1 Júlio Lima Verde Campos de Oliveira, o Presidente da Legião da Infantaria do Ceará, ;
– General-de-Brigada Francisco Mamede de Brito Filho, Chefe de Estado-Maior do CMNE, e o,
– General-de-Brigada Antônio Eudes Lima da Silva, Comandante da 10ª Brigada de Infantaria Motorizada.
Todos foram surpreendidos pela emoção de encontrar o único sobrevivente do lamentável sinistro que ceifou a vida do grande líder militar. No encontro promovido pelo Tenente-Coronel Santos Filho, o co-piloto na ocasião do fatídico voo e único sobrevivente, Comandante Emílio Celso Chagas, interagiu com as autoridades presentes, tendo a oportunidade de revelar mais um fato que denota a conduta moral e elevados valores do Marechal Castello Branco:
Quando da viagem ao sítio “Não me Deixes”, da escritora Rachel de Queiróz, em Quixadá, a Força Aérea Brasileira disponibilizou uma aeronave C-45 Beechcraft Expeditor ao ex-presidente da República. Castello Branco, no entanto, recusou a oferta afirmando não mais ocupar o cargo, portanto, não se julgava no direito de utilizá-la. Viajou de troiler, uma Rural adaptada para rodar sobre trilhos da linha férrea. Segundo o Marechal, mais uma oportunidade de ver de perto a situação do interior e de sua gente.
Ao chegar a Quixadá, Castello Branco, que de longa data sofria de fortes dores na coluna, mesmo tentando esconder, denunciava nos movimentos o agravamento de sua condição. Sendo assim, foi levado a dormir na hospedagem do Mosteiro Santa Cruz Serra do Estevão, uma vez que o sítio dispunha de acomodações menos adequadas.
No dia do regresso à Fortaleza, as pessoas que o acompanhavam, o irmão Cândido e o Major Assis, insistiram para que voltasse de avião, uma vez que havia uma aeronave do Governo do Estado do Ceará disponível para o retorno à capital. Só assim, embarcou o ex-Presidente cearense no avião em que sofreria o acidente fatal.
A entrega desta peça importante da história de um dos mais notáveis nomes do Exército Brasileiro e do Brasil, preservada no 23º Batalhão de Caçadores, integra os esforços de preservação da memória, e soma-se aos trabalhos de organização e catalogação do museu existente no próprio 23 BC, e de manutenção e revitalização do Mausoléu de Castello Branco, na Av. Barão de Studart, em Fortaleza, em estudo pela 10ª Região Militar
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