Exército Brasileiro presta ajuda humanitária a vítimas de enchente

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Patrícia Comunello


De norte a sul do Brasil, as Forças Armadas trabalham com unidades da Defesa Civil para levar ajuda humanitária a populações afetadas pelas fortes cheias. Em 2014, o número de militares envolvidos nessas operações no país chegou a cerca de 3.100 e, neste ano, já está em 2.700.

Nos meses de fevereiro e março, por exemplo, cerca de 1.300 militares do 4° Batalhão de Infantaria de Selva, do 7º Batalhão de Engenharia de Construção do Exército e de unidades de Roraima e do Amazonas prestaram assistência a mais de 123.000 pessoas atingidas pela maior enchente da história do Rio Acre, de fevereiro a abril. Os militares auxiliaram na remoção de civis de áreas de risco, transportaram gêneros de primeira necessidade e fizeram a manutenção do Aeroporto Plácido de Castro, em Rio Branco.

O rio, que subiu 18,4 m acima do nível normal, só começou a baixar em meados de março. Cerca de duas semanas depois, os soldados instalaram uma ponte metálica originalmente usada em ações de combate — uma ponte Bailey –, restaurando a conexão por terra entre São Gabriel da Cachoeira, a 852 km de Manaus, e a fronteira com a Colômbia e a Venezuela.

“Mesmo sendo antiga, a Bailey, usada para transposição de blindados em campo de batalha, é muito útil para ações emergenciais”, diz o General de Brigada Marcos Pupin, comandante do 2o Grupamento de Engenharia do Exército no Comando Militar da Amazônia (CMA), situado em Manaus. “A cidade no noroeste do estado estava isolada.”

“Mobilizamos todos os esforços para resolver o problema”, reforça o Subtenente Flávio Frederico, da Comunicação Social da 21ª Companhia de Engenharia de Construção, sediada na cidade. “Éramos os únicos que poderiam fazer isso com rapidez.”

Os soldados se envolveram nas ações de apoio em transporte e suprimentos, restringindo o trânsito de moradores para manter a ordem. Durante a iniciativa, ao saber que houve danos à BR-307 em outros trechos, eles montaram pinguelas (pontes estreitas improvisadas), onde só era possível transitar uma pessoa por vez.

Para ajudar, o Exército lançou mão de pequenas embarcações que faziam a transposição de um lado a outro da estrada fissurada. O mais difícil foi transferir doentes com fraturas. O paciente tinha de ser transferido de maca da ambulância, de um lado da estrada, por barco até o outro lado, onde era colocado de novo em um veículo para ser conduzido ao aeroporto. Em casos de calamidade pública na cidade, o atendimento aos pacientes é prestado em Manaus.

Soldados trabalham em conjunto para instalar ponte

A missão para reconectar a cidade a outras partes do Brasil durou 12 dias. Na fase inicial da operação, em 1 de abril, soldados em Boa Vista, a 1.100 km da cidade isolada, deslocaram 40 painéis, 21 travessas e 50 estrados para construir a ponte Bailey em São Gabriel da Cachoeira. O conjunto de ferro montado pesa 40 toneladas.

“O comboio do 6o Batalhão de Engenharia de Construção saiu em 1 de abril de Boa Vista, trafegou pela BR-174 e chegou a Manaus no dia 3,” diz o Subtenente Frederico. Ali, o Exército alugou uma balsa para levar o equipamento desde o porto até a cidade de Manaus, devidamente guarnecida por homens do batalhão de Boa Vista.

A viagem de Manaus ao destino final, São Gabriel da Cachoeira, levou outros quatro dias. O mau tempo foi o primeiro obstáculo. “A chuva caía forte, o que exigiu mais cuidado, pois o terreno podia ceder a qualquer momento”, diz o Subtenente Frederico.

Outro desafio foi a construção da ponte em si, realizada por cerca de 30 militares da 21a Companhia de Construção. “O trabalho da engenharia é muito técnico. Não tem como acelerar, é uma questão de segurança.”

Finalmente, a ligação ficou pronta no final da tarde de 12 de abril, mas as autoridades limitaram o tráfego a 15 t para evitar o risco de desabamento. O CMA e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) planejam mais reparos da ligação após o término do período de chuvas.

“Estamos levantando serviços para fazer a ligação definitiva", diz o Gen Brig Pupin. "A comunidade precisa do apoio do Exército.”

Trecho de importante rodovia desaba

O uso da ponte Bailey para garantir rotas de transporte para as pessoas da região foi fundamental, já que a enchente atingiu muitas estradas.

Em 19 de março, por exemplo, após dias seguidos de chuva em São Gabriel da Cachoeira, um trecho no km 3,5 da BR-307 cedeu, abrindo uma cratera de 15 m de diâmetro. A estrada interrompida separou a área central de São Gabriel do porto fluvial de Camanaus e do aeroporto de Uaupés, únicas conexões com o restante do Brasil e distante 21 km.

“Somos o último município do Amazonas, só se chega aqui de barco ou avião”, diz o chefe de Gabinete da Prefeitura, Valmir de Souza Delgado. “Era visível a deterioração causada pela ação da água da chuva que encheu rios da região.”

Civis expressam gratidão

O impacto das cheias poderia ter sido pior não fossem os esforços das Forças Armadas, e os moradores de São Gabriel da Cachoeira manifestaram sua gratidão pela ajuda dos militares durante a crise.

“O Exército é conhecido na cidade como a ‘Mão Amiga’”, disse Antônio Silva, da apresentador da Rádio Municipal de São Gabriel da Cachoeira . No seu programa matinal São Gabriel em Notícias, das 6h às 7h, Silva narrou diariamente as dificuldades e a etapa da montagem da ponte provisória.

O período entre março e junho é considerado a estação das chuvas no norte do país. Três dias antes do desabamento da ponte, a Prefeitura e o comando da 2ª Brigada de Infantaria de Selva haviam se reunido para tratar de medidas que pudessem solucionar o risco iminente.

 

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