O General-de-Exército Antônio Hamilton Martins MOURÃO, comandante do Comando Militar do Sul (CMS), recebeu a imprensa na Quartel-General do CMS, em Porto Alegre, na manhã de terça-feira (05ABR).
O Gen Ex Mourão tem sido o mais ativo dos membros do Alto-Comando em dar suas opiniões, mesmo em assuntos sensíveis. Muitos analistas o consideram como a voz do atual comandante do Exército General-de-Exército Eduardo Villas Boas.
Isto já pautado no início da sua apresentação, quando mencionou, que devido aos cortes orçamentários estimados para o ano de 2015, a Operação Ágata, ocorrerá somente na área de Fronteira com o Paraguai.
Cortes Orçamentários
A crise financeira que o leva Governo Federal a enxugar o Orçamento Geral da União poderá reduzir em 40% as verbas para o Exército em 2015. Valor estimado pelo Comando do Exército.
– Como teremos menos recursos, teremos menos capacidade de aprestamento, treinaremos menos, estaremos menos capacitados e com menos verba para manutenção de equipamentos. É como uma bola de neve. Cada operação será com menos meios – lamentou o general de Exército Antônio Hamilton Martins Mourão.
O aperto nas finanças deve tirar dos cofres do Exército R$ 880 milhões dos R$ 2,2 bilhões até então previstos para despesas de custeio deste ano nos oito comandos regionais. Além desse corte, o governo Federal também embolsou ou melhor incorporou ao Orçamento Geral cerca de R$ 190 milhões, do fundo do Exército, relativos a receitas próprias do Exército.
A redefinição de gastos em cada comando será decidida em uma reunião do Alto-Comando do Exército, na próxima semana, em Brasília. O certo é que não pode haver cortes com alimentação, saúde, despesas com material de consumo como fardamento, entre outras prioridades. A área de ensino do Exército também não é atingida pelos cortes.
Além de operações, o CMS estuda medidas de economia como redução do horário de expediente para gastar menos com água e luz.
Operações nas Fronteiras
Uma das consequências do corte orçamentário será a suspensão de ações de fronteira no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, previstos na Operação Ágata, afetando importante instrumento de combate ao ingresso de drogas na Região Sul.
Parte importante lançado pela própria Presidente Dilma Rousseff e coordenado pelo VP Michel Temer, o Plano Estratégico de Fronteiras (PEF) tinha as Operações Ágata como o ponto alto.
De área de fronteiras subordinada ao CMS, são 2.400 km. Destes a Operação Ágata atuará em somente 186km, parte da fronteira com o Paraguai. Também inclui a Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu.
Área de fronteira sob responsabilidade do CMS. O linha em vermelho são os 150km, área em que as Forças Armadas podem atuar.
Questionado sobre o impacto da medida no combate ao tráfico no Estado, o general disse que pretende reforçar outras ações, como a Operação Fronteira Sul, contando com efetivos disponíveis, alocados nas cidades fronteiriças.
Com a desarticulação das Forças de Segurança, da Argentina, e a necessidade de deslocar forças para a Grande Buenos Aires, o narcotráfico tem agido quase que livremente na fronteira com o Brasil e Uruguai. São 1.222 km de fronteiras com a Argentina.
O GEx Mourão mencionou que parte das missões serão incorporadas na Operação Fronteira Sul. Porém, com os cortes e contigenciamento não há certeza de que isto posso ocorrer.
Ficamos sem capacidade de cumprir uma parcela das nossas atividades. Mas é importante destacar que a missão do Exército neste processo ( controle do narcotráfico) é secundária, esporádica. O combate às drogas é uma questão de saúde pública, de investimentos em comunidades e também está ligado aos organismos de segurança pública. O Estado tem de agir como um todo. Se não fizer isso, vamos enxugar gelo indefinidamente – enfatizou Mourão.
Estrutura do CMS
O Comando Militar do Sul ostenta o lema “Elite do Combate Convencional”. E realmente tem uma parcela significativa de contingente e equipamento do Exército Brasileiro.
São seguintes os números do CMS:
– 54.000 Militares (Aprox ¼ da Força Terrestre)
– 162 Organizações Militares
– 90 % dos blindados sobre Lagartas
– 75% dos blindados sobre rodas
A 3ª Divisão de Exército (DE) com sede, em Santa Maria (RS), é considerada a unidade mais poderosa abaixo do Rio Grande (fronteira EUA-México).
A 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada (Cascavel/PR) é a grande unidade onde estão sendo definidos os conceitos doutrinários e operacionais da Infantaria Mecanizada com a introdução do blindado Guarani.
Realocação de Unidades
Está prevista a a movimentação de uma Brigada de Cavalaria Mecanizada (Bda C Mec), dos três localizadas no Rio Grande do Sul, para a região do Planalto Central. Perguntado se seria a 3ª Bda C Mec, Bagé, o General Mourão tergiversou e indicou, que poderia ser a 2ª Bda C Mec, de Uruguaiana.
Operações Continuadas
Embora preparado para o Combate Convencional, algumas unidades do CMS, estão em missão continuada “na Não Guerra”, desde o primeiro semestre de 2014 com a participação na Operação São Francisco (Complexo da Maré) e posteriormente enviadas ao Haiti.
A necessidade viaturas blindadas de lagartas e rodas nas missões de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) tem colocado sempre em ações membros do CMS.
Na Maré está em uso Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP) modernizada ao padrão M113BR pelo Parque de Regional de Manutenção 5 (Pq R Mnt/5). As viaturas já percorreram centenas de quilômetros dentro da Maré.
Olimpíadas
São previstos (com tendência de acréscimo) o emprego de 38.000 militares das Forças Armadas nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro 2016.
O CMS deverá enviar mais de 2000 militares ao Rio de Janeiro.
Centro de Avaliação e Adestramento
Este é um item que será discutido na semana que vem na reunião do Alto-Comando. O Cetro de Avaliação e Adestramento, localizado em Santa Maria, necessita de uma decisão forte do Exército. São investimentos de 500 Milhões em quatro anos. Já foram investidos 15 Milhões de Euros no Simulador de Fogo, que já foi instalado em Resende e até no final do ano deverá estar funcionando em Santa Maria.
Operações GLO (Maré e Alemão)
Embora enaltecendo a ação no Alemão e Maré o GEx Mourão trata com mais análise crítica estas ações.
O Estado como um todo deve agir. O Exército não pode permanecer indefinidamente cumprindo uma Missão de Polícia. Estas missões devem ser episódicas. Quando a situação estiver totalmente fora de controle, então o Exército intervém.
Na Maré não tem arruamento, não tem esgoto, escola, posto médico, água. Tudo é ilegal (energia, internet, etc).
Se o Estado como um todo não agir estaremos “enxugando gelo” sempre, completa Mourão.
Regras de engajamento
Nossa tropa já tinha experiência no Haiti, que é miserável o que não ocorre na Maré. Tinha sido treinada psicologicamente para não reagir desavidamente. Ninguém disparava sem ter a visada de quem estava atirando.
Cada soldado carrega no bolso um cartão com as regras de engajamento. Cada soldado deve responder a três questões:
1- Está me ameaçando?
2 – Essa ameaça pode tirar minha vida?
3 – Essa ameaça é imediata.
Sem responder "sim" às três perguntas o militar não pode disparar.
Uma patrulha recebeu mais de 2000 tiros, em uma missão noturna.
Todas as missões são filmadas cada soldado carrega uma câmera Go Pro no capacete.
Ação política
Respondendo sobre ao que os manifestantes pedem a intervenção do Exército na Vida Nacional, o General Mourão repassou a vida do Brasil desde a República, com o Marechal Deodoro da Fonseca, Getúlio Vargas, que estudou no Colégio Militar de Porto Alegre e foi um ditador. Porém, ninguém trocou o nome das ruas.
A intervenção militar, na vida política, é coisa do passado, complementou o Comandante Militar do Sul.