Cães de Guerra no EB

Revista Verde Oliva,
Ed. 225, Outubro de 2014

 

Desde a época das civili­zações egípcia e grega, constam registros da utilização de cães em comba­te, ocorrendo, desde então, um crescente emprego des­ses animais nas áreas conflitu­osas.

Com a Primeira Guerra Mun­dial (1914-1918), os america­nos, pela primeira vez em sua história, utilizaram cães em combates. Sem a necessidade de fardas, armamentos ou ca­muflagem, os cães foram em­pregados como entregadores de correspondências, fareja­dores de explosivos e até au­xiliaram na instalação de fios de telégrafos.

Em decorrência da sua grande lealdade, coragem, força, rapi­dez, adaptabilidade e por seu faro apurado, várias raças de cães são utilizadas no apoio ao cumprimento de missões. Entre as mais empregadas, destacam-se o rottweiler, o pastor alemão e o labrador.

Contudo, algumas raças se adaptam melhor na realiza­ção de determinadas tarefas; como exemplo o cão labrador, que é utilizado pelas Polícias Militar e Federal para farejar drogas ou localizar e resgatar pessoas. Outras raças apre­sentam maior rendimento nas missões de patrulha, defesa de instalações e, até mesmo, em salto de paraquedas.

Uma das utilizações mais re­centes de cães em combate aconteceu na operação de eli­minação do terrorista Osama Bin Laden, líder da rede ter­rorista Al Qaeda e mentor dos ataques terroristas nos Estados Unidos, em 11 de setem­bro de 2001. O cão estava jun­to com os militares do SEAL (Sea-Air-Land Team), grupo de elite dos Estados Unidos que realizou a ação.

 

Cães de Guerra no EB

 

No Exército Brasileiro, o em­prego de cães é pequeno se comparado com países como os Estados Unidos, Portugal, Rússia, Inglaterra e Alemanha, que os empregam nas opera­ções militares há mais tempo, devido às qualidades naturais do animal.


De acordo com um Boletim do Exército de janei­ro de 2011, existiam 350 cães nos quartéis do Brasil e eram empregados em operações de Garantia da Lei e da Or­dem, em tarefas de controle de distúrbios, busca de drogas e na segurança de instalações. O emprego desses animais aumentou com a realização de grandes eventos no Brasil, como a Copa das Confedera­ções, a visita do Papa Francis­co e a Copa do Mundo.

O adestramento e o treina­mento dos cães de guerra são realizados nas Organizações Militares do Exército, em ge­ral nos Batalhões de Polícia do Exército e nos Batalhões de Guarda, dotadas de canil que, entre outras responsa­bilidades, realizam o controle profilático e o atendimento clínico-cirúrgico dos animais. Para isso, sempre que possí­vel, o canil é equipado com um centro radiológico, centro cirúrgico, ambulatório e um laboratório.

O treinamento dos cães filho­tes tem início logo após o des­mame, que ocorre em torno de 40 dias. Normalmente, são filhos de cães selecionados e testados tanto no serviço di­ário quanto nas competições de adestramento.

A partir do desmame, os trei­namentos estimulam os im­pulsos de caça e familiarizam o filhote com os diferentes ambientes e situações – au­tomóveis, instalações, matas, caixas de transporte, barulhos de tiro, megafone, luzes do rotorlight da viatura policial, entre outros – que o animal poderá encontrar quando empregado.

A criação de um forte vínculo entre o cão e seu condutor também ocorre nessa fase. Esse treinamen­to é curto, porém intenso. A partir do desmame, somente o condutor do filhote deverá ter acesso a ele. Alimentação, limpeza do box, tratos diários, como rasqueamento e ba­nhos, sempre são executados pelo condutor.

O treinamento dos cães adul­tos segue uma rotina de trei­nos até o último dia de ser­viço. Essa rotina consiste em treinos de obediência, faro e proteção (ataque). Após a formação dos cães, os treinos são conduzidos com a simula­ção de situações de emprego em diferentes cenários. Os er­ros são corrigidos e os acertos confirmados.

 

Cães Paraquedistas

Os cães de guerra possuem longa trajetória na história da Brigada de Infantaria Pa­raquedista. Além de atuar nas áreas de segurança do aquar­telamento, em operações de garantia da lei e da ordem, patrulhas a pé e no controle de distúrbios; contribuem na divulgação da atividade pa­raquedista militar, principal­mente com a realização de saltos, em inúmeras demons­trações, desde a década de 1950.


CÃO PARAQUEDISTA – Foto icônica de cachorro paraquedista: um Rottweiler, de nome Adam, saltou na Base Aérea do Afonsos (BAAF). Ele participou de diversas ações militares, inclusive em favelas. (Foto: Divulgação/FAB)


O pioneiro e mais famoso foi o “Piloto”, um cão da raça pastor alemão. Por ser companheiro dos paraquedistas e por estar acostumado a correr entre a tropa, surgiu a ideia de rea­lizar, com ele, uma “área de estágio” especial. Após o trei­namento com saltos da torre, entre outros procedimentos, Piloto executou os cinco sal­tos de qualificação, sendo o último no dia 26 de julho de 1951, a bordo da aeronave C-47 – 2063, sobre a zona de lançamento do Gramacho, tendo sempre sido lançado pelo seu adestrador.

No dia seguinte, na compa­nhia de 52 novos paraque­distas militares, participou da cerimônia de brevetação, quando também recebeu o seu brevê. Ao todo, Piloto deu 46 saltos e faleceu, em 1954, por motivos de doença. A par­tir do Piloto, muitos foram os cães que se destacaram no adestramento e nos saltos de paraquedas.

Embora a Brigada de Infanta­ria Paraquedista tenha conso­lidado o conhecimento para o lançamento de cães a par­tir de aeronaves militares em voo, ocorreu um hiato de mais de 20 anos sem a realização dessa atividade. Em 2011, foi resgatado o lançamento com o Cão Adam, do 36º Pelotão de Polícia do Exército Para­quedista, com a realização de estudos para modernizar os procedimentos de lançamen­to e os equipamentos.

Adam realizou seu primeiro salto durante a Operação Saci, no dia 19 de novembro de 2011, na zona de lançamento de Itaguaí (RJ), e atuou, ainda, nas seguintes missões: Ope­ração Arcanjo (Pacificação dos Complexos do Alemão e da Penha), Operação América (segurança do Presidente dos EUA), e Conferência da ONU – Rio +20. Devido à idade avan­çada, Adam foi aposentado; porém, continua no Pelotão.

No 8° Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista (8º GAC Pqdt), Pércius é um cão da raça rottweiler com três anos de idade que recebeu to­dos os treinamentos militares necessários para se tornar um cão de guerra.

Pércius conseguiu passar nas duas fases que exigem do cão a pronta resposta a comandos de controle (ordens à voz); a execução de treinamentos físicos, como natação, passa­gem de obstáculos, ação refle­xa de atacar pessoas a coman­do; e a passagem na câmara de gás, local fechado onde os instrutores espalham o gás la­crimogêneo, a fim de o animal ter um primeiro contato com o gás que poderá ser utiliza­do em operações de Garantia da Lei e da Ordem, mais pre­cisamente em manifestações. Além de todos esses testes aplicados, nos quais o cão foi aprovado com êxito, Pércius foi submetido a testes espe­cíficos para se tornar um cão paraquedista.

No Centro de Instrução Para­quedista General Penha Brasil, tradicional e único centro de formação de paraquedistas do Brasil, o cão passou por treinamentos, testes e simu­lações, a fim de ser lançado de uma aeronave militar em voo. Passou pelo lançamento da torre, pela simulação den­tro de um falso avião e pelo “balanço”, nome dado a um dispositivo que simula o mo­vimento de aproximação de um paraquedista ao solo.

Após duas semanas de treina­mento básico paraquedista, Pércius saltou de uma Aae­ronave C-105 Amazonas, na Base Aérea de Afonsos (Rio de Janeiro). Após todos os treina­mentos e, principalmente, do salto, recebeu o brevê de pa­raquedista, na formatura de brevetação, no dia 15 de de­zembro de 2012.

No quartel, possui uma equi­pe de adestradores a sua dis­posição que, entre outros cuidados, se preocupa com o banho e com a ração selecio­nada. Pela manhã, realiza trei­namento físico com corrida ou com natação.

Durante o ano de 2012, Pércius esteve presente em operações como a Rio + 20, Conferência das Nações Unidas realizada no Rio de Janeiro, participan­do da segurança do Centro de Coordenação e Controle do 8º GAC Pqdt; foi empregado durante as Eleições 2012, re­alizando a segurança da base de operações onde o quartel se encontrava; participou do desfile cívico-militar de 7 de setembro e, também, da no­vela Salve Jorge, da Rede Glo­bo de Televisão.

No dia 17 de dezembro de 2013, ocorreu a brevetação de mais um cão paraquedista no 8º GAC Pqdt. O Cão Iron, da raça rottweiler, após passar por treinamentos, testes e si­mulações durante duas sema­nas, realizou o salto de uma aeronave C-105 Amazonas, juntamente com seu cinófilo, na zona de lançamento de Ita­guaí.


Leia também:

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– O emprego de cães militares na Operação Arcanjo (link)

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