Representante da ONU avalia que Brasil pode projetar sua atuação na área espacial

Tenente Gabrielli  e Major Alle

Para encerrar sua estada no Brasil, a Diretora do Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior (UNOOSA), Simonetta Di Pippo, visitou o polo aeroespacial de São José dos Campos (SP) nesta quinta-feira (02/08).

A representante da ONU, que já havia estado no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) e visitado as estruturas relacionadas ao programa espacial em Brasília (DF), pôde ver de perto os projetos desenvolvidos no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA).

“Há muitas facilidades e planos para o futuro. Com certeza, há aspectos em que possamos cooperar e já estamos discutindo possibilidades concretas para que essa colaboração aconteça”, disse. Segundo ela, os pontos fortes do Brasil para parcerias internacionais são, principalmente, o CLA e o projeto para desenvolver um lançador de microssatélites.

"O novo programa, as novas atividades, as discussões entre os governantes e a continuidade orçamentária das atividades espaciais irão ajudar a posicionar ainda melhor o Brasil no cenário internacional", avaliou Di Pippo.

Criado na década de 1950, junto com os primeiros passos do Brasil na tentativa de explorar o espaço, o DCTA é uma organização da Força Aérea Brasileira que congrega diversos institutos de ensino e pesquisa voltados para a área aeroespacial.

Devido a sua área de mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, o país depende das aplicações espaciais para o controle do tráfico nas fronteiras, inclusão digital por meio de acesso à Internet em áreas remotas, monitoramento de florestas e fiscalização do desmatamento, entre diversas outras aplicações.

Focado em pesquisa relacionada ao desenvolvimento de veículos espaciais, o órgão – por meio do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) – já construiu uma família de foguetes de sondagem e está desenvolvendo um novo veículo lançador. Segundo o Chefe da Subdivisão de Projetos do IAE, Tenente-Coronel Aviador Antonio Henrique Blanco – que apresentou os dados à visitante, o foguete de sondagem VSB-30 foi um marco para o Brasil.

“Desenvolvido em parceria com a agência espacial alemã, foi nosso veículo de sondagem de maior sucesso, já lançado de países como Suíça, Austrália e Noruega”, explicou.

O VSB-30 se mantém, durante seis minutos, em um ambiente de microgravidade – ou seja, com a força gravitacional muito próxima do zero, permitindo experimentos científicos que dependem dessa condição. Atualmente, o Instituto se concentra no desenvolvimento do Veículo Lançador de Microssatélites (VLM), que será capaz de colocar em órbita uma carga máxima de 150 kg.

Para isso, o motor S-50 está em fase de testes e a previsão é de que seja validado já em 2019. Laboratórios que sustentam os desenvolvimentos desses projetos, como o Laboratório de Identificação, Navegação, Controle e Simulação (LINCS) e o Laboratório de Ensaios Dinâmicos (LED), estiveram no roteiro de Di Pippo.

Ela também participou de uma atividade com alunos de graduação que são bolsistas de iniciação científica e começam sua caminhada na ciência desenvolvendo pesquisas nos institutos do DCTA.

Hoje, 46 estudantes de instituições de ensino superior do Vale do Paraíba participam do projeto. O Diretor do DCTA, Major-Brigadeiro do Ar Hudson Costa Potiguara, destacou a importância da visita de Di Pippo.

Segundo ele, os princípios do UNOOSA estão em consonância com o trabalho desenvolvido pelo Brasil na área espacial. "É uma oportunidade de mostrar para o mundo como é nosso trabalho, facilitando a busca de parceiros", avaliou o oficial-general. Após a passagem pelo DCTA, com foco nos lançadores, a Diretora do UNOOSA conheceu os projetos brasileiros relacionados aos satélites, em visita ao INPE.

Atualmente, o Brasil possui três satélites de órbita baixa sob responsabilidade do INPE: dois SCD, que realizam coleta de dados, e o CBERS-4, desenvolvido em uma parceria com a China, que faz captação de imagens – usadas principalmente para observação ambiental.

Em um dos principais laboratórios visitados por Di Pippo, o Laboratório de Integração e Testes (LIT), foi possível, também, conhecer o ambiente de desenvolvimento do futuro satélite brasileiro de observação da Terra, o Amazonia-1.

“Gastar dinheiro com o espaço é justamente para resolver problemas da Terra”, diz Di Pippo

Após conhecer as instalações do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), a Diretora do Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior (UNOOSA) cumpriu, nesta quarta-feira (01/08), uma agenda de visitas e eventos na Capital Federal, em seu segundo dia no Brasil.

Além de conhecer estruturas importantes ao Programa Espacial Brasileiro, como a sala de onde é feito o controle do satélite geoestacionário brasileiro, Simonetta Di Pippo foi recebida pelo Comandante da Aeronáutica.

Ela também proferiu uma palestra em que destacou o papel da área espacial no desenvolvimento das nações e na resolução de problemas da humanidade. “Muitas vezes nós ouvimos: por que gastar dinheiro no espaço se temos tantos problemas aqui? Gastar dinheiro com o espaço é justamente para resolver os problemas da Terra”, disse ela.

Em audiência com o Comandante, Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo Luiz Rossato, o principal assunto tratado foi referente ao envio de uma representação brasileira para atuar junto ao UNOOSA, com o intuito de estreitar laços e facilitar a cooperação, o que deve acontecer já em 2019. “Queremos colaborar com iniciativas internacionais para a área espacial, de uso pacífico, e acreditamos que sua visita e a aproximação com o UNOOSA são essenciais”, disse ele.

O Tenente-Brigadeiro também destacou que o programa brasileiro é todo dual, ou seja, pensado para que os engenhos espaciais tenham usos civis e militares ao mesmo tempo – o que já acontece, por exemplo, com o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC).

Di Pippo defende que o uso do espaço precisa acontecer em consonância com outras temáticas de interesse humano e social e que seus benefícios precisam ser distribuídos de forma equitativa, até mesmo entre aquelas nações que não têm nenhum satélite em órbita.

Em sua palestra, realizada nas dependências do prédio do Comando da Aeronáutica, Simonetta Di Pippo explicou que a função do UNOOSA é ser um facilitador, no sentido de colocar não só governos, mas empresas e instituições de ensino e pesquisa em contato.

Também destacou que o cenário espacial evoluiu muito desde que o primeiro satélite foi colocado em órbita, em 1957. “Hoje, há mais de 70 agências espaciais no mundo e em torno de 1.800 satélites em operação”, disse ela.

A representante da ONU disse que a organização definiu uma agenda com 17 objetivos globais para o desenvolvimento sustentável, a serem cumpridos até 2030, e que o UNOOSA também se compromete com essas questões, relacionadas, por exemplo, à educação de qualidade, à igualdade de gêneros e à promoção de parcerias para pensar soluções conjuntas.

Di Pippo citou como exemplo um projeto de cooperação espacial, facilitado pelo Escritório, entre o Japão e o Quênia para a construção e lançamento de um cubesat – satélite de pequeno porte, em forma de cubo, voltado, principalmente, a pesquisas espaciais. Com a parceria, o Quênia teve seu primeiro satélite em órbita e tomou a decisão de iniciar sua própria agência espacial. “Foi o primeiro para o desenvolvimento”, afirmou.

Após a palestra, Di Pippo passou pela Agência Espacial Brasileira (AEB), onde foi recebida pelo Presidente, José Raimundo Coelho, reunido com todo o efetivo. Ela também visitou o Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE) – organização da Força Aérea que controla, por meio do Centro de Operações Espaciais (COPE), a operação do SGDC, e se prepara para encabeçar a captação de imagens de satélites de órbita baixa.

A visitação incluiu as obras do novo prédio do COPE, que estão em fase de finalização. O Comandante do COMAE, Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos Vuyk de Aquino, que recebeu a visitante, explicou que o Brasil tem trabalhado para reunir imagens satelitais da superfície terrestre e prover a todos os órgãos que necessitarem, diminuindo os custos.

As imagens vão ajudar no desenvolvimento urbano, na agricultura, em fiscalizações ambientais, entre outros. Ele também reforçou a preocupação do país em trabalhar em conjunto com outras nações. “É preciso pensar não como um país isolado, mas como um continente, abrangendo toda a América do Sul.

Podemos nos desenvolver juntos”, disse. Nesta quinta-feira (02/08), Di Pippo estará em São José dos Campos (SP), para conhecer o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

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