PF libera um dos maiores especialistas em meteoritos da Nasa detido no aeroporto de Guarulhos (SP)

Júlio Ottoboni
 

A Polícia Federal do Brasil deteve por mais de 24 horas, desde a manhã deste domingo (30) até o começo da tarde de segunda-feira (31) um dos maiores pesquisadores mundiais de meteoritos, o Dr. Klaus Keil, que veio para uma série de palestras gratuitas e eventos científicos no país. Aos 80 anos, o cientista da Universidade do Havaí e que pertenceu aos quadros da NASA, desceu no aeroporto de Guarulhos (SP), de um voo da American Airlines, de onde tomaria uma conexão para o Rio de Janeiro, quando foi detido por uma questão burocrática.

A princípio, a delegacia da polícia federal no aeroporto informou ao cientista que o motivo da detenção era a falta o pagamento de uma taxa quando esteve no Brasil, em 2013, a convite do Museu Nacional, quando também efetuou uma série de palestras e encontros sobre o assunto. Agora, por questões burocráticas, a PF apreendeu o passaporte do pesquisador estrangeiro e o deteve na área internacional do aeroporto, onde foi colocado no hotel interno sem acesso aos seus colegas brasileiros.

Keil se encontrava desde as 11 horas da manhã de domingo retido na ala internacional do aeroporto. Ele seria remetido novamente aos EUA às 20h30,  num voo de retorno ao Havaí. Diversos cientistas se mobilizaram para evitar a deportação, inclusive para entender o ocorrido e conseguiram adiar a decisão da PF.

O pesquisador e especialista em meteoritos, André Moutinho, foi até o Aeroporto Internacional de Guarulhos prestar socorro ao cientista alemão, naturalizado norte-americano. “ O problema foi que ele tem visto de trabalho e precisava ter feito um procedimento na delegacia no desembarque. Ninguém sabia disto, uma coisa simples e que poderia ser resolvida facilmente”, comentou.

Meteoritical Society Endowment Fund financiou a vinda do pesquisador para o Brasil, onde haverá um circuito de palestras, inclusive para a abertura do Encontro de Meteoritos e Vulcões do Museu Nacional (RJ), no próximo dia 03, e para palestras em Porto Alegre, Salvador, Inpe de São José dos Campos, e para o Encontro de Astronomia da FAB no começo de outubro.

“Foi uma experiência terrível tanto para ele para nós, se trata de uma autoridade mundial, uma pessoa que tem publicações sobre os meteoritos brasileiros e ama o país. Foi uma situação é altamente constrangedora”, disse a professora e pesquisadora do Museu Nacional, Maria Elizabeth Zucolotto, e que mobilizou seus pares para auxiliarem o norte americano.

Dr. Klaus Keil é professor de geologia na Universidade do Havaí e entre 1963 e 1968, ele chefiou o departamento de Cosmochemistry da NASA, quando ocorriam os famosos eventos de análises das pedras da Lua. Desde 1990 ele tem sido professor de geologia e geofísica na Universidade do Havaí em Manoa e um dos mais respeitados cientistas na área de cosmologia. O caso está tendo repercussão internacional.

Em contato com o Aeroporto de Guarulhos, eles foram informados que tudo ocorreu por Klaus Keil não ter cumprido algumas etapas formais exigidas pela PF em 2013.  A empresa American Airlines foi acionada para contatar o Ministério das Relações Exteriores do Brasil e resolver o problema. Mas preferiu não solicitar o desembarque condicional, segundo informações da delegacia da PF.

A operadora do voo informou à PF que não se envolveria no caso e deixou seu passageiro no terminal, sem maiores explicações. Segundo as autoridades brasileiras a companhia poderia corrigir a questão ainda a bordo, procedimento adotado depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 e que envolve a Interpol, FBI e país alinhados ao protocolo, como o Brasil.

Por causa da idade avançada e para que o cientista não ficasse no ‘conector’ da companhia, ele pode escolher em ficar na sala Vip ou no FastSleep  – hotel de trânsito -do aeroporto. Ele agradeceu, depois, as gentilezas recebidas pela PF de Guarulhos.

A pesquisadora Maria Elizabeth Zucolotto, recebeu no começo da noite uma mensagem do cientista estrangeiro informando que passaria a noite no aeroporto e apenas ontem teve uma definição. Nesta semana ele faz a abertura do Encontro de Meteoritos e Vulcões no Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

A situação só foi resolvida na segunda-feira, quando o caso já tinha ganhado repercussão internacional e mobilizou cientistas e autoridades científicos de vários locais do mundo.

“Sou voluntário, não recebo nada por isso. Sei da importância de compartilhar informação e, principalmente, gostaria de ajudar os estudantes brasileiros. Eu amo o Brasil. Meu objetivo era justamente contribuir para o desenvolvimento da astronomia daqui”, disse ao jornal Gazeta do Povo, de Curitiba.

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