Monserrat – A Era dos Pequenos, Micros e Nano satélites III

Nota DefesaNet

Acesso para matérias da série;

1 – A Era dos Pequenos, Micros e Nano satélites I

2 – A Era dos Pequenos, Micros e Nano satélites II

3 – A Era dos Pequenos, Micros e Nano satélites III

O Editor

José Monserrat Filho
Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB,
VP da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial,
e diretor honorário do Instituto Internacional de Direito Espacial, membro pleno da Academia Internacional de Astronáutica.


Hoje faremos uma breve viagem no tempo. Vamos Em meados daquele 1989, vinte anos após dois seres humanos terem pisado na Lua pela primeira vez, apenas dois brasileiros figuravam entre os cerca de 120 alunos do então segundo curso de verão (dois meses e meio) da ISU: Antônio Fernando Bertachini de Almeida Prado – hoje renomado pesquisador, Lá, pela primeira vez, ouvi falar na Universidade de Surrey, sediada no Reino Unido, como pioneira no desenvolvimento de micros satélites. Por isso, veio-me a ideia de descer em Surrey, nesta viagem no tempo, para saber um pouco de tudo que ali aconteceu.

Quem nos conduz no passeio é ninguém menos que Sir Martin Sweeting, professor, doutor, diretor do Centro Espacial de Surrey e diretor executivo da empresa Surrey Satellite Technology Ltd (SSTL), hoje controlada pela EADS Astrium NV. Em 2001, ele proferiu histórica conferência na Academia Real de (parte da Royal Society) sobre o tema "Micros e nano satélites – Um admirável mundo novo (Micro/NanoSatellites – A Brave New World).

Vamos ouvir trechos do que disse Martin Sweeting (The Guardian, 10/10/2001):

            "No início, a vida surgiu em nosso planeta em escala molecular e, gradualmente, desenvolveu-se, por via de uma única célula, para organismos multicelulares, que cooperavam em colônias. Finalmente, apareceram pequenas criaturas complexas e móveis capazes de aproveitar as oportunidades de um mundo multidimensional. Através de um processo de seleção natural e apoiadas por um clima favorável, algumas espécies prosperaram e cresceram de forma excessiva, culminando com o reino dos dinossauros.

"A história da exploração espacial pelos humanos não é muito diferente. Ao longo de dezenas de milhares de anos, as primeiras tentativas da humanidade de compreender o Cosmos se restringiram a observações intrigantes feitos a partir da superfície de duas dimensões do nosso planeta. Medidas pequenas, mas essenciais, foram sendo tomadas de modo incremental, e avanços foram sendo alcançados até que, por fim, a humanidade, no século passado, soltou-se, logrando acesso limitado à terceira dimensão – como os primeiros anfíbios – graças ao transporte pela atmosfera. Mas, como a tecnologia humana se multiplica rapidamente, o próximo e mais profundo "Cerca de 45 anos após os nossos primeiros passos no espaço, colocamos os pés em outro mundo, exploramos as vizinhanças e espiamos os recantos escuros do cosmos. Mais perto de casa, estabelecemos um posto tripulado na beira do espaço e usamos órbitas próximas da "No entanto, como com os dinossauros, o clima mudou rapidamente na era pós-Guerra Fria e surgiu uma espécie menor, "de sangue quente", ágil e rápida no "A vida muitas vezes se desenvolve em lugares surpreendentes, onde em dado momento as condições são precisamente as próprias para promover um novo "Meu fascínio pessoal tanto pelo espaço, quanto pelas telecomunicações, mais a percepção de que os dispositivos micro-eletrônicos emergentes no mercado comercial em meados dos anos 70 permitiram inventar funções complexas e sofisticadas com requisitos muito reduzidos de massa e energia, viabilizaram o "sonho" de um pequeno grupo de (então) jovens engenheiros que, munidos de minúsculo orçamento, pudesse "Os primeiros dois micros satélites da Surrey – UoSAT-1 e UoSAT-2 – foram projetados e construídos na universidade por pequena equipe de engenheiros pesquisadores, radio-amadores e acadêmicos. Lançados com êxito – "de graça" – pela NASA em 1981 e 1984, respectivamente, eles transportavam cargas desenvolvidas na Surrey para "Muito se aprendeu – rapidamente, em primeira mão e por vezes a duras penas – com essas duas primeiras missões, não só em relação a problemas técnicos, mas também nas áreas de gestão e finanças. Em 1984, ficou claro que o governo do Reino Unido não iria adotar um "Daí que se tornou necessário um modo sustentável de financiar a Surrey para capacitá-la a continuar o programa de pequenos satélites com acesso ao espaço a preços acessíveis e a atender às demandas de aplicações reais. Em 1985, a necessidade de catalisar aplicações industriais e comerciais mais amplas e de gerar "A SSTL forneceu um mecanismo formal para lidar com a transferência de tecnologias de pequenos satélite dos laboratórios de "Incorporando os mais recentes artigos de micro-eletrônica disponíveis no mercado (COTS), os dois primeiros micro satélites da Surrey – UoSAT-1 e 2 – utilizaram uma estrutura física bastante convencional – um "esqueleto" em que se montaram caixas de módulos contendo os vários subsistemas eletrônicos e cargas que incluíam um complexo tri-dimensional de interconexões.

"As experiências aprendidas com as duas primeiras missões, a necessidade de capacitar-se para acomodar variadas cargas úteis de diferentes clientes, sem ter que redesenhar e requalificar de cada vez a estrutura do satélite, o atendimento a uma lista de lançamentos-padrão, bem como a crescente demanda de densidade de empacotamento, compatibilidade eletromagnética, economia de fabricação e facilidade de integração – tudo isso levou a Surrey, em 1986, a desenvolver novo "Esse micro satélite modular inovador não tem "esqueleto", e sim uma série de caixas de esboço padrão do módulo usinado de alumínio, empilhadas umas sobre outras formando um corpo em que os painéis solares e os instrumentos possam ser montados. Cada caixa modular abriga os vários subsistemas de micros satélites – baterias, condicionador de "O micro satélite emprega modernos e sofisticados circuitos eletrônicos disponíveis no mercado, para prover alto grau de capacidade. As cargas úteis de comunicações e de observação da Terra requerem plataforma que aponte para a terra e, assim, o micro satélite é mantido em 0.3A de nadir, empregando uma combinação de estabilização passiva de gravidade gradiente (que usa um boom de seis metros) e de circuito fechado de amortecimento ativo que usa eletroímãs operados pelo computador de bordo. A determinação da atitude é provida pelo Sol, por sensores do "A O computador de bordo OBDH 80C386, coração do sistema, executa um sistema operacional multi-missões em tempo "Normalmente, o satélite é operado pelo principal computador OBC-386 e, em tempo "As últimas plataformas SSTL de micros satélites ampliaram os subsistemas de apoio das comunicações de maior taxa de dados nas bandas S e X, o controle de atitude em três eixos que usa reação e volantes de inércia, a navegação autônoma que usa receptores de bordo GPS e propulsores de gás frio para manobras orbitais.

 "Graças às missões regulares (quase anuais), as mais recentes gerações de componentes industriais podem ser introduzidas no satélite para propiciar saltos na capacitação – mas sustentadas a cada vez pela herança acumulada dos subsistemas que voaram no espaço antes. A arquitetura em camadas resultante alcança alto  "Esse  "Entre 1990 e 2000, os micros satélites de Surrey desenvolveram continuamente suas capacidades, alcançadas gradualmente mediante lançamentos regulares. A ênfase sempre foi colocada sobre o uso de componentes COTS cuidadosamente selecionados, associado com um "E o que dizer do futuro?", pergunta Martin Sweeting ao final, e responde:

"Por enquanto, o grande satélite, ao lado de seus irmãos menores, ainda é necessário para prover comunicações de alta potência para pequenos terminais móveis ou de TV, a Não há dúvida de que os insetos são a espécie mais bem-sucedida na Terra: eles viram os dinossauros indo e vindo e, hoje, superam em número os seres humanos. Um único inseto, claro, raramente tem qualquer impacto significativo – mas uma horda de gafanhotos é muito diferente.

"Os atuais sistemas micro-eletro-mecânicos (MEMS) e as nano-tecnologias emergentes, impulsionados por demandas industriais e de consumo terrestres – não espaciais – vão em breve tornar realidade os pico e fempto satélites produzidos em massa, menores que um cartão de crédito.

"Um único desses satélites tem pouca aplicação prática, mas uma nuvem de femptos – coabitando o espaço – satélites com núcleos de IP intercambiáveis, inter-comunicações coerentes e o conhecimento de posição relativa precisa promete alta resistência a falhas, entidade reconfigurável em órbita em tempo

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