25 Anos da Operação EAGLE CLAW
A fracassada tentativa de resgate
dos reféns americanos.
Iran, 24-25 Abril1980.
Fernando Diniz
No momento em que as tensões entre os Estados Unidos e o Iran crescem novamente, lembramos um fato relevante na história da política externa norte-americana:
Em 4 de novembro de 1979, algum tempo depois da derrubada do governo do Xá Reza Pahlevi pelos simpatizantes do Aiatolá Khomeini, uma multidão enraivecida invadiu a Embaixada Americana em Tehran e capturou todo o corpo diplomático norte-americano, bem como o pessoal da segurança, formado por militares do Corpo de Marines.
Ao todo, 52 americanos foram capturados e mantidos reféns pela Guarda Revolucionária Iraniana, força paramilitar fanaticamente leal ao Aiatolá Khomeini, e não se sabia se seriam mantidos presos, se seriam torturados ou simplesmente executados.
Em poucas horas, o recém tornado operacional Destacamento Delta , das Forças Especiais dos Estados Unidos estava em alerta total e planos estavam sendo estudados para uma operação de resgate.
Esta é a história desta operação, com nome-código Eagle Claw ( Garra de Águia).
O comandante do Delta, Coronel Charles Beckwith, esteve intimamente ligado à tentativa de resgate, desde seu início. Encarava uma missão assustadora. Tehran fica no coração do Iran, e muito longe de qualquer país amigo dos EUA. Os reféns não estavam sendo mantidos num aeroporto, como na bem sucedida operação israelense em Entebbe, o que facilitou o resgate. Boas informações locais eram difíceis de obter sobre a força inimiga dentro da embaixada e em Tehran. E, obviamente, todo o plano e treinamento deveriam ser mantidos em absoluto segredo.
E o tempo corria contra os americanos.
O plano final, elaborado por uma comissão formada por militares de alta patente das várias armas do governo americano, era uma audaciosa operação, envolvendo forças navais, aéreas e terrestres.
Seriam usados o porta-aviões USS Nimitz, operando com sua Força-Tarefa a partir do Mar Arábico; oito helicópteros RH-53 Sea Stallion, do Corpo de Marines; doze aeronaves da USAF: quatro tankers MC-130, três EC-130 de apoio eletrônico, três AC-130 de apoio de fogo e dois C-141 de transporte pesado, além de numerosos "operadores ", como são chamados os membros da força Delta, alguns já infiltrados em Tehran, antes do inicio do ataque. Teriam também a ajuda de simpatizantes e ex-funcionários iranianos da Embaixada, operando de dentro da cidade.
Foi estabelecido um ponto de reunião dentro do território iraniano, chamado de Desert One, onde as várias aeronaves deveriam reunir-se para reabastecimento na viagem de ida.
Os oito helicópteros RH-53 deveriam partir do Nimitz, pousar em Desert One para reabastecerem-se com o combustível já lá deixado pelos MC-130, e voarem para as proximidades de Tehran, transportando a força Delta, pousando num aeroporto não utilizado, chamado Mazariyeh, a cerca de uma hora de Tehran, que já deveria ter sido tomado por uma força de ataque de cerca de 100 Rangers, onde ficariam escondidos até a hora do ataque. Ao anoitecer, os Delta seriam transportados por veículos conseguidos pelo pessoal de terra, atacando o complexo de prédios da Embaixada, onde os reféns estavam alojados.
Quaisquer sentinelas externas seriam eliminadas pela primeira equipe de homens armados com pistolas equipadas com silenciador, enquanto a segunda equipe explodiria os portões externos, e uma terceira equipe faria o mesmo com os muros atrás da Embaixada, criando assim uma ação diversiva. Então a força principal, pesadamente armada, entraria eliminando qualquer oposição, e fazendo a limpeza dos quatro prédios onde se esperava estivessem os reféns. Um grupo de cinco homens deveria destruir o gerador elétrico da Embaixada.
Os reféns deveriam ser transportados até um estádio de futebol nas redondezas, onde os RH-53 já teriam pousado, chamados desde seu local de espera, embarcados junto com os Delta e transportados para Mazariyeh, onde os C-141 os esperavam para transportá-los para fora do Iran, junto com todos os outros participantes.Os AC-130 estariam no ar, para evitar quaisquer tentativas de forças aéreas ou terrestres iranianas de intervir na operação.
Todas as aeronaves deveriam abandonar território iraniano, exceto os oito RH-53, que seriam explodidos, pois não tinham alcance para escapar, e não deveriam cair em mãos iranianas.
Este era o plano.
Vejamos agora o que realmente aconteceu.
Um mês antes do assalto, um pequeno monomotor Twin Otter da CIA tinha ido até Desert One, desembarcando um Controlador Avançado de Apoio Aéreo ( FAC ), que demarcou a área necessária com luzes de pouso, para auxiliar a chegada das aeronaves.
A missão foi bem sucedida, não houve contato com forças inimigas, e os pilotos do Otter informaram que seus sensores haviam captado sinais de radar a 3000 pés( aprox. 1000 metros ), mas nada abaixo desta altura.
Assim sendo, os pilotos de helicópteros foram instruídos para voar abaixo de 200 pés ( aprox. 65 metros), para evitarem localização por radar.
Esta limitação fez com que entrassem numa tempestade de areia, que eles não podiam sobrevoar sem quebrarem o limite dos 200 pés.
Dois RH-53 imediatamente perderam- se da força de ataque, sendo forçados a pousar.
Outro RH-53 já havia pousado por problemas mecânicos, tendo sua tripulação sido embarcada em outra aeronave, que por este motivo, estava 20 minutos atrasada em sua aproximação. Dos oito iniciais, estavam reduzidos a sete.
Sacudidos por ventos fortes e pesadas nuvens de areia, os RH-53 remanescentes seguiram em frente, recebendo a informação de que os MC-130 tankers já haviam chegado. Os dois que haviam pousado antes, decolaram outra vez e conseguiram achar o rumo para Desert One.
Porém neste momento outro helicóptero reportou uma falha mecânica, e o piloto decidiu voltar para o Nimitz, da metade do caminho. A força de ataque agora estava reduzida a seis helicópteros, o mínimo necessário para efetuar o transporte dos Delta e dos reféns.
O primeiro grupo de três RH-53 chegou a Desert One com uma hora de atraso em relação ao cronograma, com os outros três chegando quinze minutos mais tarde.
O golpe final na operação foi dado quando um dos RH-53 reportou falha no sistema hidráulico principal, o que o tornava inseguro para operação com carga total. Como eram necessárias seis máquinas, e havia somente cinco disponíveis, o ataque foi cancelado.
Foi passada a ordem ao pessoal de apoio em Tehran que "desaparecem", para não serem apanhados pela segurança iraniana, que obviamente iria iniciar uma busca geral, ao descobrirem o plano, o que fatalmente ocorreria.
As coisas porém iriam piorar, quando um dos RH-53, movendo-se para outra posição após reabastecer, chocou-se com um dos MC-130, em meio a densa nuvem de areia. Imediatamente ambos explodiram, iluminando o deserto inteiro.O MC-130 foi rápidamente evacuado, pois já estava carregado com um grupo de Deltas, porém a tripulação do RH-53 ardeu com o helicóptero. Veio a ordem de abandonar o local imediatamente, porém demorou a chegar aos homens que ajudavam mortos e feridos, além de tentarem arrastar o MC-130 em chamas, para afastá-lo de outras aeronaves. Isto atrasou a decolagem, o que não permitiu que os RH-53 fossem destruídos,pois observadores avançados informaram da aproximação de veículos desconhecidos, deixando assim para os iranianos importantes documentos, que levaram a identificação e descoberta dos operadores e simpatizantes infiltrados em Tehran, os quais foram caçados e executados.
Ao todo, três membros da USAF e três membros do Corpo de Marines morreram no deserto, além dos que foram apanhados mais tarde em Tehran, e muitos outros foram feridos.
Os iranianos espalharam os reféns por todo o país, tornando outra tentativa de resgate impossível.
Eles seriam finalmente libertados, após 444 dias de prisão, como resultado de exaustivas e humilhantes negociações entre os governos americano e iraniano.
Lições aprendidas.
Informação insuficiente e mau planejamento foram um fator essencial no fracasso da missão.
Os planejadores calcularam que levaria quatro horas e vinte minutos para os RH-53 atingirem Desert One a partir do Nimitz, porém eles levaram CINCO horas e vinte minutos, devido ao mau tempo encontrado na rota.
O Serviço de Meteorologia não foi capaz de prever as tempestades de areia a baixa altitude que comprometeram a missão. Caso tivessem previsto, apenas tripulações treinadas em vôo baixo sem visibilidade teriam sido usadas, evitando o fatal acidente, a perda de vidas e de aeronaves preciosas.
Além disso, as tripulações dos helicópteros haviam sido reunidas no último minuto, quando se descobriu que muitos dos pilotos Marines não tinham a capacidade necessária para completar a missão.
Afinal foi uma combinação de pilotos Marines, da USAF e da NAVY que voaram naquela noite.
Um dos pilotos abandonou a missão por absoluta falta de familiaridade com a aeronave que deveria pilotar!
Junte-se a isto fatores pouco considerados, como distâncias a serem percorridas, falta de uma área de pouso amiga alternativa, pois os C-130 e C-141 iriam voar até a Turquia, e total desconhecimento da força inimiga a ser enfrentada, e temos um desastre militar, um início pouco auspicioso para a flamante Força Delta, e a maior humilhação do Governo Carter.