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Brandenburger Regiment – As Forças Especiais do III Reich

Brandenburger Regiment /
As Forças Especiais do III Reich


Fernando  Diniz
In memorian

Especialista em Armas e Forças Especiais

Numa época em que a expressão Forças Especiais ganha cada vez mais espaço, não só entre os militares, mas também na mídia, é interessante examinarmos os feitos de uma das primeiras unidades militares a agirem como tal.

Dentro da mística que envolve as Forças Armadas Alemãs durante a II Guerra Mundial, conhecemos os nomes de unidades famosas como o Afrika-Korps, as temidas Waffen SS, as unidades Panzer (blindadas) e os Fallschirmjaeger (Pára-quedistas). Porem fora do âmbito militar, quase ninguém ouviu falar de  uma das mais espetaculares unidades militares da II Guerra, não ficando a dever nada a seus companheiros mais famosos.

Trata-se do Regimento Brandenburg, criado como braço armado da Abwehr, o Serviço de Inteligência Militar alemão, e com a finalidade especifica de operar atrás das linhas inimigas, numa mistura de comandos e unidades de sabotagem.

Seus sucessos tornaram-se lendas dentro do Exercito Alemão e de outros que estudaram seus feitos.

Fundação do Brandenburger Regiment Abwehr II  25 de Outubro de 1939.
Desmobilização Oficial: 11 de Setembro de 1944
Quartel/General: Berlin ( Generalfeldzeugmeister/Kaserne)
Unidades em:         Rathenow/Havel ( aerotransportados)
                                 Admont/Stelemark (Montanha)
                                 Swinemunde( raids fluviais e costeiros).

Pessoal: 320 em Outubro de 1939 
Divisão completa com várias unidades independentes em 1944.

A expressão Brandenburger (homens de Brandenburgo) é usada aqui para designar uma unidade de forças especiais do Exercito Alemão, que foi continuadamente alterada em sua composição durante sua curta historia.

Esta unidade tem suas origens em diversas pequenas formações secretas que operaram nos estágios iniciais da guerra, notadamente nas invasões da Tchecoeslováquia e da Polônia. Consistiam principalmente de homens nascidos e criados em minorias raciais alemãs nestes paises, e operavam atrás das linhas inimigas, antes da chegada das forças regulares.

Diferente das Waffen SS, que buscavam a aparência superior ariana, altos, louros e de olhos azuis, os Brandenburger eram escolhidos justamente por características físicas que não os fizessem chamar a atenção em território inimigo.

A essência de seu sucesso era principalmente a capacidade de misturarem-se com a população local, tornando-se invisíveis aos olhos das forcas inimigas, o que permitia seu deslocamento e o cumprimento de suas missões.

A forca impulsionadora por trás da criação dos Brandenburger foi o Almirante Wilhelm Canaris, chefe da Abwehr (Serviço de Inteligência Militar) que operava sob as ordens da Wehrmacht. O Abwehr Abteilung II/Ausland, departamento responsável por operações, inteligência e sabotagem alem das fronteiras alemãs, criou a Verwendung 800, (companhia de construção e treinamento para missões especiais 800), pouco antes do inicio das hostilidades, incorporando homens de outras unidades e voluntários. A unidade logo tornou-se uma valiosa ferramenta para a Abwehr. O comando operacional continuava nas mãos da Wehrmacht, embora muitos oficiais transferidos para lá não tivessem a mínima idéia do que era e o que fazia a Verwendung 800.

No inicio, cada membro deveria ser fluente em pelo menos uma língua estrangeira, e treinado em operações militares especiais.O treinamento era feito numa área pertencente a Abwehr, perto de Berlin, onde também eram treinados espiões e sabotadores. O currículo concentrava-se em línguas estrangeiras, demolições, comunicações, penetração em território inimigo em segredo, incluindo por pára-quedas, e táticas de combate de pequenas unidades. Mais tarde, surgiram cursos de equitação, direção e pilotagem.

 Alemães do Comando Brandenburger vestidos como soldados soviéticos durante a operação Barbarossa 


Familiarização com armas incluía todas as armas não-alemãs, desde pistolas a tanques Sherman e T-34. Alguns homens eram pilotos, e numa ocasião na África do Norte, usaram um Spitfire inglês capturado para vôos de observação. Outros receberam instrução especializada nos laboratórios da Abwehr em Berlin-Tegel, onde aprenderam a lidar com equipamentos secretos, como detonadores de tempo, explosivos plásticos, documentos falsificados, disfarces, etc.

Unidades Básicas

1.zbV Deutsche Kompanie – Formada por alemães raciais, notadamente gente do Leste da Europa, Sudetos e Silesia. Alem do alemão, deveriam ser fluentes nos idiomas e dialetos falados nestas regiões. Foram usados com sucesso na defesa dos poços petrolíferos de Ploesti, na Romênia, contra sabotagens aliadas.
2.
zbV 800 Brandenburg – Alemães raciais, possuía quatro companhias, um pelotão de motociclistas, um pelotão de pára-quedistas, e outras unidades especializadas, como a Cia. Afegã, fluente em farsi, pushtu e urdu.
3.
BaltenKompanie – Alemães étnicos da Estônia, Finlândia, Letônia, Ucrânia e Rússia. Todos deviam falar fluentemente o russo.
4. Cia formada por homens que tinham vivido fora da Alemanha, especialmente na Península Ibérica ou na África. Todos falavam Inglês, Francês, Português ou dialetos africanos, especialmente swahili.
5.
Sudetendeutsche – Fluentes em tcheco.

6. Oberschlesier Kompanie– Fluentes em polonês.


Mais tarde, foram agregadas novas unidades, formadas por voluntários ucranianos, alem de voluntários fluentes em árabe e romeno.

Uma companhia (a 15a) foi formada por 127 dos melhores esquiadores da Alemanha, inclusive um Medalha de Ouro das Olimpíadas de 1936, e recebeu treinamento especializado para operar na extensa região  do Circulo Ártico, que forma a área de fronteira russo-finlandesa, especialmente nas cercanias do porto russo de Murmansk. Esta unidade foi a responsável por um dos mais espetaculares raids do Front Leste. Guiados por finlandeses, os Brandenburger atravessaram os piores pântanos da Europa, durante duas semanas, assolados por milhões de mosquitos e outros insetos, pesadamente carregados com armas, explosivos, barcos e mantimentos, para atingirem a famosa ferrovia de Murmansk, por onde escoava todo o material de guerra enviado pelos Aliados aos russos.

Minaram a linha numa dúzia de lugares, preparados para explodirem aleatoriamente, durante uma semana, o que forçou os russos a despenderem enormes esforços em homens e material para manterem a linha aberta. Quando os russos se deram conta de que as explosões eram sabotagem, e não acidentes, mandaram tropas da NKVD (antiga KGB) para a região, e numa ocasião estes abriram fogo indiscriminado contra uma multidão de soldados russos e civis que tinham vindo ver o que acontecia, por medo de sabotadores, causando um verdadeiro massacre.

No verão de 1942 foi criada uma companhia de raiders, para operações fluviais e ribeirinhas, formada por voluntários do Cáucaso.Sua área de atuação eram os inúmeros rios, lagos e córregos do Front Leste.

A Brigada Árabe lutou a partir de 1940 no Líbano, Síria, Iraque e Iran, e mais tarde no Cáucaso, contra os russos, com aliados curdos.

A Legião Árabe operava basicamente na Tunísia, contra os franceses.

A partir de Maio de 1943, surgiram a Legião Montenegrina e a Legião Muçulmana, ambas formadas por Albaneses, Bósnios, Macedônios e Montenegrinos de fé islâmica. Combateu principalmente nos Bálcãs, caçando guerrilheiros.

A Asad Índia (Índia Livre) era uma unidade de tamanho regimento, formada por voluntários indianos e prisioneiros de guerra. Treinada na Alemanha, uma parte foi atuar na Índia contra os ingleses, enquanto a outra serviu na Alemanha em unidades antiaéreas.
 

Equipamento

No inicio, os Brandenburger foram equipados com armamento já não mais utilizado pela Wehrmacht. Usaram submetralhadoras Schmeisser MP28/II e Steyr MP16, armas obsoletas para os padrões da Wehrmacht. Mais adiante, quando seu desempenho passou a ser notado, passaram a receber armas e equipamentos conforme pedidos especiais, como submetralhadoras MP40 e pistolas equipadas com silenciadores. Preferiam as pistolas Luger P.08 em lugar das mais modernas Walther P.38, pois a precisão das P.08 era superior, porém na prática usavam muito mais equipamento inimigo do que propriamente alemão.

Especialmente no front russo, onde as PPSh M41 russas e as Suomi M.1931 finlandesas estavam sempre presentes, unidades inteiras de Brandenburger eram armadas com equipamentos inimigos.

Usaram também submetralhadoras inglesas Sten Mk.IIS silenciadas, capturadas dos estoques lançados pela RAF para a resistência.

Em missões de longa penetração em território inimigo, os homens recebiam uma pílula de veneno, para evitarem a captura.

Operações típicas incluíam reconhecimento de longo alcance, destruição de objetivos e proteção de centros de comunicação,pontes e suprimentos, como refinarias e depósitos. Eram também usados para criar cabeças-de-ponte pela inserção via terrestre, pára-quedas, lanchas rápidas ou submarinos, além de outras missões especificas, a critério do comando. O homens normalmente operavam disfarçados, usando roupas, armas e veículos do inimigo.

Os Brandenburger foram usados todas as frentes onde os alemães lutaram. Operaram na Dinamarca e Noruega, durante a invasão destes paises; Finlândia, em conjunto com tropas finlandesas, em alguns dos mais espetaculares raids da guerra; na Espanha (Plano Félix, a projetada tomada de Gibraltar); Franca, Bélgica, Holanda, Inglaterra (na preparação da abortada Operação Seelowe); Itália, Grécia (especialmente no ataque aerotransportado a Creta); Romênia (onde defenderam os poços e refinarias de petróleo de Ploesti de sabotagem), Bulgária, Iugoslávia e Bálcãs, Rússia, Líbia (como parte do Afrika-Korps), Tunísia, Egito, Jordânia, Síria, Iran (fomentando um levante contra a ocupação inglesa), Iraque e outros paises do Oriente Médio, Afeganistão,Índia e África do Sul.

O tamanho das unidades variava de acordo com a missão, de grupos de 2 homens ate unidades de mais de 300 homens. Uma esquadra tinha doze homens. Métodos de inserção variavam, alguns de forma bizarra – o vôo da Cia. Afegã (cerca de 20 homens) via avião comercial neutro da Áustria ao Afeganistão, levando cerca de duas toneladas de equipamento, incluindo um canhão AA Flak 30 desmontado, dentro de trinta malas diplomáticas !

Outra ação interessante foi a inserção em 1940 de cinco homens via submarino na África do Sul, para provocar um levante das tribos contra o domínio branco.

Embora o Almirante Canaris e outros lideres da Abwehr acreditassem haver criado uma espécie de exercito privado, logo se desiludiram – muitos membros desta unidade, embora não necessariamente fanáticos e leais a Hitler e sua ideologia nazista, eram extremamente patrióticos e nacionalistas. Inúmeros viviam no exterior quando a guerra começou, e partiram para a Alemanha em perigosas e aventurescas viagens, rompendo o bloqueio marítimo inglês, apenas para servirem seu Pais.

Estes homens não eram leais ao chefe da Abwehr, mas apenas a seu Pais e seus comandantes de unidade. Lutaram pela Alemanha, e não pelo Partido Nazista em geral ou os desejos do Almirante Canaris, em particular. Em 1943, quando a unidade foi elevada ao status de divisão, sua missão foi mudada para a de serem uma força sempre disponível, pronta a resolver problemas urgentes e de difícil sucesso, sob as ordens diretas do Alto Comando do Exército (OKH).

Após o fracassado atentado contra Hitler em 1944, as operações da Abwehr foram delegadas ao SD, pois rapidamente foi provado que o Almirante Canaris estava envolvido. Em tempo, foi preso, condenado e executado. Em setembro de 1944, decidiu-se que a Divisão Brandenburger não era mais necessária, sendo então transformada numa simples divisão motorizada da Wehrmacht, embora cerca de 1800 homens tivessem se juntado a Otto Skorzeny e seu Jagdverbande, unidade com missões similares aquelas da Divisão Brandenburger.

Alguns destes homens estavam entre os da Brigada 150, que na ofensiva das Ardenas foram enviados para missões atrás das linhas aliadas, causando verdadeiro caos, e criando a idéia, até hoje não provada, de que tinham como missão assassinar o General Eisenhower, Comandante-em-Chefe Aliado na Europa. Eventualmente, foram capturados e executados como espiões e sabotadores, pois usavam uniforme aliado, o que lhes negava o direito de apelarem para a Convenção de Varsóvia sobre o tratamento de prisioneiros de guerra.

Quando a guerra terminou, alguns dos sobreviventes com bom domínio de inglês foram absorvidos pelos Comandos Britânicos, e receberam mais tarde documentos britânicos. Muitos emigraram para a África, a serviço dos ingleses, enquanto outros juntaram-se à Legião Estrangeira Francesa. Lutaram com bravura ao lado de seus ex-inimigos, especialmente na Indochina e na Argélia.

A história de seus feitos merece ser melhor contada, pois suas teorias e experiências práticas forneceram a base da formação de modernas unidades de Forças Especiais, como os SEALs da US Navy e muitos outros ao redor do mundo.

Os russos, sempre atentos às novidades, usaram muito do conhecimento aprendido dos Brandenburger em missões de " imersão " entre populações estrangeiras, para criarem técnicas aplicadas por suas famosas unidades Spetznaz.

Literatura recomendada:
– Twilight Warrios – 22Book, England
– Corpos de Elite – Editora Abril

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