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BERETTA – Produtos interessantes no SHOT Show

Alexandre Beraldi

Especial para DefesaNet

A sociedade norte-americana vive um momento ímpar no que diz respeito ao posse e uso de armas, visto que 49 dos 50 Estados daquele país atualizaram suas legislações de modo a facilitar o porte de armas pelo cidadão comum. Em quatro destes Estados (Alaska, Arizona, Vermont, Wyoming) não é nem ao menos necessário qualquer procedimento burocrático para o porte de armas: basta adentrar à loja, comprar uma arma e sair com ela na cintura.

Nos demais Estados a burocracia é variada, mas sempre simples e rápida. Normalmente se resume a cumprir exigências simples como ter mais de 18 anos de idade, colher impressões digitais, ter seus dados pessoais inseridos num programa que realiza uma busca por indivíduos procurados ou fugitivos, e pagar uma pequena taxa administrativa para custear a emissão do documento.

E com todas estas facilidades para o porte de armas – a aquisição é livre – as taxas de crimes vêm despencando, sendo que no ano de 2011 os índices de criminalidade na maioria dos Estados caíram para patamares iguais aos dos idos de 1960! – isto segundo relatório de uma instituição com uma certa credibilidade, o FBI.

A única exceção a esta situação de queda nos índices de criminalidade, é claro, é o Distrito de Columbia, onde o porte de armas é proibido e a legislação para aquisição de armas é restritiva como no Brasil, sendo curiosamente este o lugar mais violento dos EUA… Interessante seria ver certas ONGs desarmamentistas nacionais – que nem de longe gozam da credibilidade que tem o FBI – tentarem explicar isso.

Mas retornando ao ponto, esta situação ímpar criou uma demanda enorme por armas extremamente compactas e leves, com um calibre minimamente aceitável para defesa, que possam ser portadas diariamente sem causar desconforto, fazendo parte do “equipamento” diário do cidadão comum, tal e qual seu telefone celular ou as chaves de casa. Vários fabricantes têm apresentado produtos neste segmento, conhecido como das pistolas Micro Compact, alguns deles têm na verdade investido em toda uma linha de produtos do tipo, fazendo com que o mercado norte-americano fosse inundado por armas compactas, leves e potentes nos últimos dois anos.

A aposta da Beretta neste nicho de Micro Compacts atende pelo nome de Beretta NANO, uma pistola com 143 mm de comprimento, 101 mm de atura e 23 mm de espessura, no calibre 9x19mm Parabellum, com capacidade para seis cartuchos num carregador monofilar, chassi em polímero, ferrolho em aço com moderno acabamento anticorrosivo, sistema de gatilho que imita o Safe Action da austríaca Glock e boas miras, que são até reguláveis.

No tiro se comportou bem para uma arma tão pequena que é difícil de ser empunhada com a firmeza necessária para um bom controle no tiro rápido. Como todas as super compactas, seu uso demanda um treinamento mais intensivo justamente para que se consiga empunhar a arma sempre de forma adequada desde o saque, e para que se mantenha tal empunhadura durante o tiro com um calibre mais potente, de maneira semi-visada e rápida.

Certamente uma arma que tem muito a oferecer em termos de defesa pessoal do cidadão, pois é a típica arma que se pode portar o tempo todo e em qualquer ocasião, garantindo a efetiva proteção de seu usuário, ao contrário de armas mais populares – e maiores – que necessitam de uma verdadeira “engenharia” de roupas para que possam ser portadas de forma discreta, especialmente em locais de clima quente.

Outra “moda” em que a Beretta pega carona é o das réplicas de armas em calibre .22LR: em razão da explosão de consumo de armas de fogo no meio civil e da necessidade logística das campanhas do Iraque e Afeganistão houve um significativo aumento da demanda, no mercado norte-americano, por munições de uso mais comum, tais como o 9x19mm Parabellum e o .45ACP para armas curtas, e o 5,56x45mm OTAN e o 7,62x51mm OTAN para armas longas, o que teve como conseqüência  o aumento de preço destes produtos.

O efeito colateral gerado foi a popularização dos kits de conversão de armas nos citados calibres para dispararem a barata e sempre disponível munição .22 Long Rifle, bem como a produção de réplicas de armas populares no calibre .22LR. A Beretta se insere nesta tendência com a versão em calibre .22LR de seu moderníssimo fuzil de assalto Beretta ARX160.

Esta réplica possui todas as características físicas (aparência, tamanho e peso) e funcionais (operação e controles) do fuzil de assalto “de verdade”, porém funciona por meio de um sistema blowback, mais apropriado ao diminuto calibre. Estará disponível para o público civil daquele país no segundo semestre do corrente ano, nas versões rifle (fuzil de assalto com coronha dobrável) e pistol (versão sem coronha e com conjunto cano/guarda-mão encurtado).

Também mostrado este ano o fuzil de assalto Beretta ARX160, em calibre 5,56x45mm OTAN, e sua versão atualizada, o ARX160 A2. Esta arma tem gerado grande interesse no meio militar e policial por reunir uma série de características desejáveis, presentes em várias armas reconhecidamente eficazes, pela primeira vez em um fuzil de assalto.

Primeiramente, sua construção é quase totalmente executada em polímero de alta resistência com isolante cerâmico (à exceção de cano, molas e ferrolho), o que traz quatro grandes vantagens: reduz substancialmente o peso total da arma, torna o fuzil imune à corrosão, faz com que a arma praticamente não precise de lubrificação, visto que o transportador do ferrolho corre por trilhos de material sintético, não havendo contato de metal com metal; e, por fim, torna o fuzil imune a danos em seus componentes poliméricos por motivo de aquecimento causado por fogo automático contínuo, visto que o isolamento cerâmico torna mais provável que o cano da arma sucumba ao excesso de fogo automático antes que qualquer componente polimérico seja afetado.

Em segundo lugar, sua praticidade e ergonomia: todos os comandos são permanentemente ambidestros e posicionados de maneira similar à do AR-15/M-16, proporcionando um manuseio tático extremamente eficiente e rápido, mas com melhorias em relação à esta conhecida família de armas, posto que a alavanca de manejo é situada à frente, podendo ser posicionada do lado direito ou esquerdo da arma.

Segundo a preferência do operador, facilitando enormemente seu uso; possui duas janelas de ejeção, uma à esquerda e outra à direita, sendo que a ejeção dos cartuchos pode ser mudada de lado com o simples pressionar de um botão; possui seletor de tiro e registro de segurança mais acessível ao dedo polegar e com menor curso entre os regimes de fogo; possui uma coronha rebatível com regulagem de comprimento para permitir um posicionamento ideal do atirador em relação ao aparelho de pontaria, independente da estatura do mesmo, do equipamento e vestes utilizadas, bem como da posição de tiro empregada; possui seis pontos de diferentes para fixação de bandoleira, facilitando novamente o uso ambidestro; e por fim, ainda no quesito praticidade, tem um sistema de desmontagem extremamente simples e rápido, sem pinos para serem perdidos.

Em terceiro lugar, fica o destaque para a modularidade: o fuzil ARX160 possui um sistema de troca rápida de canos através do qual pressionam-se para baixo dois reténs (um de cada lado da arma), similares aos reténs de desmontagem da pistola Glock, e a partir daí o conjunto cano/cilindro de gases pode ser deslizado para fora do guarda-mão e separado da arma, permitindo, por exemplo, a troca de um cano curto de 12 polegadas, apropriado para combate aproximado ou em ambiente fechado, por um cano de 16 polegadas para uso geral, ou por um cano pesado de 18 polegadas para tiro de precisão, ou ainda para um cano em outro calibre.

Ainda no quesito modularidade, a arma possui trilhos Picatinny distribuídos pela parte superior, inferior e pelas laterais do guarda-mão, bem como é oferecida com kits de conversão para os calibres 7,62x39mm M43 (AK-47), 5,45x39mm M74 (AK-74) e 6,8x43mm SPC (munição em uso limitado por algumas unidades de Forças Especiais dos EUA e da Europa).

O ARX160 é agora o fuzil de assalto padrão do exército italiano, tendo sido amplamente testado em combate pelas forças especiais italianas no Afeganistão, além de estar em uso com unidades especializadas do SAS britânico, com as forças especiais albanesas e com unidades de elite da polícia mexicana. Atualmente passa por testes no exército francês como candidato a substituir o fuzil de assalto FAMAS, bem como participa de competição no exército norte-americano para substituir o fuzil de assalto M-4.

Como resultado da experiência de seus operadores, em especial das forças especiais italianas, foi desenvolvida a versão A2, que se caracteriza por possuir um isolamento térmico do guarda-mão mais robusto, para garantir o uso confortável da arma em fogo automático, um cano de 12 polegadas reforçado, um quebra-chamas projetado para não levantar poeira no tiro deitado e uma coronha mais curta e com mais posições na regulagem de comprimento.

Também digna de destaque foi a apresentação do novo fuzil de precisão TRG M10, uma evolução da família TRG22/42, o qual possui um sistema de canos e cabeças de ferrolho intercambiáveis que proporciona a fácil troca de calibres para diferentes aplicações e alcances de utilização, estando disponíveis atualmente com jogo de canos e cabeças de ferrolho nos calibres 7,62x51mm OTAN, .300 Winchester Magnum e .338 Lapua Magnum.

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