MH17 – Almaz Antey recria explosão com míssil Buk


Pedro Paulo Rezende
Enviado especial à Moscou

 

O Boeing 777-200ER que fazia o voo MH17 de Amsterdã a Kuala Lumpur, em 17 de julho de 2014, foi abatido a partir do território ucraniano por um míssil BUK 9M38, segundo investigação realizada pela empresa russa Almaz-Antey.

Para chegar a esta conclusão, a empresa realizou dois testes. O primeiro, empregando placas de alumínio, foi feito em 31 de julho. Os resultados foram oferecidos à Comissão Internacional de Inquérito que investiga o acidente, comandada pela Holanda, mas o documento foi ignorado na realização do relatório final, apresentado hoje.

O segundo, feito no último dia 7 de outubro, empregou parte da fuselagem de um Ilyushin Il-86, usando os dados oferecidos pelas autoridades dos países baixos.

O diretor-geral do Consórcio Almaz-Antey, Yan Norikov, foi categórico:

— Com os dados oferecidos pela comissão, os estilhaços gerados pela cabeça explosiva atravessam a cabine e atingem o motor direito. Isto não é compatível com os danos encontrados no motor e nas raízes da asa e do estabilizador esquerdos — ressaltou.

Segundo Norikov, os resultados da investigação apontam para um disparo feito a partir da cidade de Zaroschenskoe e não do povoado de Snezhnoe, como defende a comissão. O tipo de submunição empregado deixou claro que os estragos foram realizados por um 9M38, declarado obsoleto em 1998 e retirado do arsenal da Federação Russa. O modelo, entretanto, está disponível no das Forças Armadas da Ucrânia desde o fim da União Soviética.

Para os testes, o consórcio cortou uma fuselagem de Ilyushin Il-86 logo depois da seção da cabine. O deslocamento foi feito depois de escolher uma rota segura para o comboio, uma vez que a altura da peça, superior a seis metros, não permitia sua passagem sob viadutos e redes elétricas. O modelo foi escolhido por ter porte e estrutura similar ao Boeing 777-200ER. Além disso, o Ministério da Defesa da Rússia forneceu um foguete 9M38M1. A explosão do míssil junto à fuselagem do avião foi efetuada em uma posição estacionária, no polígono do Instituto Estatal de Engenharia Mecânica de V.V. Bakhirev, na região de Nizhny Novgorod.

Um supercomputador processou mais de 14 milhões de opções para definir os parâmetros de compensação da posição dinâmica e estática dos objetos o míssil e a aeronave. O foguete 9M38M1 foi escolhido para o experimento seguindo indicações da Comissão Internacional, que insistia na tese de que o avião malaio fora abatido por um equipamento desta série. Este míssil contém submunições pesadas em formato de duplo T.

Os maiores danos causado ao corpo do IL-86 tinham a forma de "borboleta", típica para o foguete 9M38M1 com submunições duplo T. Porém, no corpo do avião da Malásia foram encontradas entradas na forma de cubo, que caracterizam o emprego de uma versão mais antiga do BUK que não está presente no arsenal da Rússia desde 2011. No entanto, eles ainda estão no serviço das Forças Armadas da Ucrânia.

— Nosso objetivo com esses testes foi provar que não temos qualquer responsabilidade no acidente — disse Norikov. — Em função do ataque, sofremos sanções que não são justificáveis diante do direito internacional e que queremos levantar em processo junto à Corte Europeia de Justiça.

O primeiro passo deste processo foi amparado por cálculos matemáticos realizados pelos peritos do Consórcio Almaz-Antey, apresentados em uma conferência de imprensa realizada no dia 2 de junho e refutados por autoridades holandesas.

— Tomamos isto como uma ofensa — afirmou o diretor-geral da Almaz-Antey. — Somos o complexo com maior experiência na fabricação de armas deste tipo e para provar nossa tese não precisamos mais do que geometria do ensino de segundo grau. Para evitar qualquer dúvida, fizemos os dois testes, que comprovaram claramente o que dizíamos.

O consórcio de armas antiaéreas Almaz-Antey é uma das maiores associações integradas do complexo militar-industrial russo. A Almaz-Antey ocupa o 11º lugar no ranking das 100 maiores empresas da indústria de defesa do mundo, entre as quais: Boeing, Lockheed Martin, Raytheon, General Dynamics, Northrop Grumman, BAE Systems, Thales, AIRBUS e a Israel Aircraft Industries. Os produtos do consórcio fazem parte do arsenal de 50 países.

Na conferência de imprensa, um representante da imprensa norte-americana alegou que o povoado de Zaroschenskoe estava nas mãos dos rebeldes na época. A reação de Norikov foi imediata:

— Não nos interessa quem atirou, mas sim descobrir a verdade. Esperamos que nosso relatório possa contibuir para uma avaliação objetiva e justa da tragédia ocorrida no céu ucraniano.

 

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