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Dos Black Blocs aos Rolezinhos: a Desconstrução de Autoridade

 

Eduardo de Oliveira Fernandes
Major da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Mestre em Ciências
Policiais de Segurança e Ordem Pública, Professor de Ciência Política,
Políticas Públicas e Sociologia da Violência, Fenomenologia da
Violência e do Crime, História da Violência no Brasil, Fenomenologia das
Ações Terroristas e palestrante sobre Criminologia, Terrorismo e
Organizações Criminosas.  É autor do livro “As ações terroristas
do crime organizado”, São Paulo, Livrus, 201
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Se as minhas fontes não estiverem erradas, inicio este artigo sobre os fatos ocorridos em São Paulo no último sábado, mais precisamente no dia 25 de janeiro de 2014, com uma frase que é atribuída ao General Jean Androche Junot, braço-direito de Napoleão, quando em 1807 foi a Abrantes, a 152 quilômetros de Lisboa, e deparou-se com a falta do governo local, pelo que declarou: “Está tudo como dantes no quartel d’Abrantes”.
           
Mais do mesmo, pois parece uma repetição comentar acerca dos últimos fatos ocorridos e somarem-se a eles novos ingredientes como se estivéssemos procurando o combustível perfeito para a explosão de uma catástrofe social e política, sobretudo se considerar as inúmeras possibilidades de entrechoques que se avizinham com o advento da Copa do Mundo.
           
Não houve mudanças em relação ao cenário de 2013, pois novamente, em razão de manifestações supostamente pacíficas compostas por ônibus e lotações que foram queimados, carros destruídos, lojas saqueadas, equipamentos públicos depredados, pessoas agredidas e – como não poderia deixar de ocorrer – com o enfrentamento da polícia e seus agentes, mais uma vez a história se repetiu.

 

Estamos vivendo “a civilização do espetáculo”, momento singular da história humana em que se vislumbra de forma incontestável “a ditadura efetiva da ilusão na sociedade moderna”, transformando as manifestações em artigos de cultura de massa.

           
A propaganda pela ação tão utilizada pelos Black Bloc e igualmente mal veiculada pela mídia, apenas reforça a tese do escritor peruano Mario Vargas Liosa de que estamos vivendo “a civilização do espetáculo”, momento singular da história humana em que se vislumbra de forma incontestável “a ditadura efetiva da ilusão na sociedade moderna”, transformando as manifestações em artigos de cultura de massa.
           
Sejam pelas táticas do Black Bloc ou pelas invasões dos grandes shoppings pelos supostos rolezinhos, nada terá o menor sentido se o Estado  legalmente constituído e representado pela Polícia não se fizer presente, pois este ente político torna-se ator principal nos momentos de conflito e, invariavelmente, reveste-se de antagonista, notadamente pela interpretação da mídia, quando se inicia o confronto.
           
Aliás, como explicar aos intelectuais de carteirinha, ao jornalismo sensacionalista, aos pretensos representantes da sociedade civil, aos policiólogos de plantão – estes últimos têm-se multiplicado em progressão geométrica- que a polícia esteve presente e agiu em nome da maioria para restabelecer a ordem, quando a maior crítica que se faz é justamente a sua ausência, onde supostamente existem locais vulneráveis e propensos a quebra da ordem pública.
           
Com essas atitudes, tanto a mídia como os formadores de opinião julgam precipitadamente as cenas que lhe são encaminhadas e condenam a ação de profissionais, que são os únicos a comparecer nesses locais de conflito, entronizando a ideia de que esta geração ocupante das ruas, ao seu bel-prazer, desarmou moral e politicamente a cultura de nosso tempo, descontruindo a autoridade e criando monstros que a grande maioria achava que estavam extintos tais como a intolerância, a bagunça, a desordem, a possibilidade de se divertir  em um simples feriado e a suspensão do direito de ir e vir das pessoas.
           
Mas, como em toda tragédia sempre há um culpado, porque não atribuirmos, como de costume, à Polícia Militar a culpa pela reação dos manifestantes, afinal aquela horda de jovens bem intencionados apenas queria comemorar o aniversário de São Paulo, caminhando, cantando e carregando consigo, talvez por uma amnésia pragmática ou por um descuido atávico, estiletes, sacolas com coquetéis molotov, porretes, pedras e, por fim, garrafas de vinagre, pois o espetáculo sempre conta com show pirotécnico que emitem gases tóxicos.
           
Parafraseando Junot e trocando uma palavra, arrisco-me: “Continua tudo como dantes no quartel d’Abrantes”

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