FEBRABAN – Juros do crédito ficaram em geral estáveis


Por Claudia Safatle
Valor — De Brasília
01/04/2020

Os bancos estrangeiros suspenderam praticamente todo o financiamento aos bancos no Brasil, em meio à crise do coronavírus, segundo informou o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney.
 
Isso veio agravar a situação de restrição de liquidez decorrente da hecatombe da covid-19, a elevação dos riscos e aumento das taxas de captação.

Mesmo com importantes medidas anunciadas pelo Banco Central, destinadas a prover liquidez ao sistema financeiro, “a circulação de dinheiro ficou mais restrita – até porque houve grande destruição de riqueza nas últimas semanas em todo o planeta”, ressaltou ele.

Ainda assim, Sidney assegurou, em sua primeira entrevista no cargo, que a taxas de juros média nas operações de varejo, tanto de pessoas físicas quanto pessoas jurídicas, ficaram de forma geral estáveis neste período. “Isso é especialmente válido no caso das prorrogações e nos casos de varejo (PF e PJ) que concentram a imensa maioria dos clientes”, disse ele.

Se houve uma elevação nos juros, conforme matéria publicada na edição de ontem do Valor, ela teria sido “alguma alta muito pontual, mas posso afirmar que, de acordo com as nossas informações, as taxas de juros ficaram estáveis no decorrer das últimas semanas, desde a eclosão da crise do coronavírus”, segundo Sidney.

Nas operações com grandes empresas e nas operações novas, às vezes o cenário é um pouco distinto, disse ele, sobretudo com linhas mais longas (acima de um ano), porque o custo de captação aumentou substancialmente. Se um título pré-fixado com prazo de dois anos era negociado a juros de 4,33% no início do mes passado, passou a ter juros de 6,12% no fim do mês, com aumento de pouco mais de 40%.

“Mas aqui estamos falando de grandes empresas, que demandam volumes significativos de recursos (de bilhões de reais) com impactos relevantes sobre a liquidez do setor bancário”, completou.

Entidades do segmento de varejo enviaram ao Banco Central um documento onde reclamam de elevação de até 70% nos juros dos financiamentos dos bancos, conforme matéria publicada pelo Valor. Sobre isso, o presidente da Febraban disse: “Não estamos aqui para acusar ninguém, mas também não gostaria de assumir responsabilidades que não são nossas”. Afirmou, também, que os bancos são “tão vítimas (da crise) como os demais setores e a população brasileira.

“Nós, bancos, não produzimos essa crise, não é produtivo procurar culpados e nem apontar o dedo; é momento de mais racionalidade e serenidade”, completou.

No início da crise, segundo Sidney, os bancos anunciaram a prorrogação por 60 dias de todos os vencimentos de dívidas dos clientes que estavam em dia com suas obrigações. Isso sem prejuízo de todos os processos normais de renegociação que estavam em curso antes da crise.

Tanto os bancos privados quanto os públicos anunciaram também, uma nova linha de crédito para financiamento da folha de pagamento de pequenas e médias empresas (com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões). O risco e o funding dessa linha, de R$ 40 bilhões, serão compartilhados entre o Tesouro Nacional e os bancos na proporção de 85% e 15%, respectivamente.

“Esse é um exemplo muito significativo de cooperação entre os setores público e privado”, salientou Sidney. Essa nova linha ainda depende de aprovação de uma medida provisória mas os bancos pretendem disponibiliza-la ainda nos primeiros dias de abril.

“Os bancos trabalham com análise de risco. E o risco de toda economia, brasileira e mundial, mudou tudo nas últimas semanas. As bolsas caíram fortemente de suas máximas históricas. O mercado de câmbio tem outra precificação. Veja o que aconteceu com o dólar aqui no Brasil. A expectativa de crescimento do PIB brasileiro e mundial desabou. Nesse contexto, há uma reprecificação geral do risco, aqui e lá fora”, admitiu o presidente da Febraban.
“Os bancos estão agindo e vão agir para preservar, em primeiro lugar, vidas, além dos empregos das pessoas e das empresas”, disse Sidney. “Não seremos apenas meros partícipes, os bancos não pouparão esforços para apoiar a sociedade nesta crise.”

O presidente da Febraban ressaltou, também, que seja na crise ou fora dela, o papel do sistema bancário é se manter líquido e saudável para evitar um efeito contágio e uma crise sistêmica.

Ele considerou, ainda, que sem contar o setor de saúde, “sem dúvida nenhuma, o setor bancário foi o que mais se mobilizou e contribuiu não só para a crise de saúde, mas também para a recuperação econômica mais rapidamente possível”. Disse que são milhares de pessoas trabalhando para que a população tenha suas necessidades financeiras atendidas.

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