Maria Alice Rosa
Quatro novos estaleiros estão na reta final de construção: Oceana, em Santa Catarina; EBR, no Rio Grande do Sul; Jurong Aracruz, no Espírito Santo; e Enseada, na Bahia. Com eles, o setor passa a contar com cerca de 50 estaleiros distribuídos de norte a sul do país, segundo o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval). Há mais empreendimentos em fase de instalação, com previsão de abertura em médio ou longo prazos.
As novas indústrias, assim como projetos de ampliação de estaleiros já constituídos, são resultado dos investimentos que reergueram o parque naval do país nos últimos anos para atender à demanda da Petrobras por plataformas, embarcações e equipamentos necessários à exploração do petróleo do pré-sal e para permitir o escoamento de uma crescente produção agrícola. Passado este primeiro momento, o setor busca a consolidação de suas conquistas com tecnologia de ponta, qualificação de mão de obra e aumento da produtividade para se tornar competitivo no mercado global.
"A Petrobras atua no limite da tecnologia de prospecção em mar aberto, e nos poços mais profundos possíveis, o que significa que as embarcações fornecidas para suportar essas operações também precisam estar no limite do conhecimento. Este é um dos nossos grandes desafios", afirma Luiz Maurício Portela, presidente da Companhia Brasileira de Offshore (CBO), adquirida no fim do ano passado pelos grupos Vinci Partners e o fundo P2 Brasil – parceria entre Pátria Investimentos e Promon -, que detêm o controle do estaleiro junto com a empresa de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDESPar). Portela cita o caso das embarcações de apoio ligadas a satélites, que se aproximam de plataformas sem encostar nelas – um exemplo de recurso tecnológico avançado que otimiza as operações.
O Oceana, que ocupa uma área de 320 mil metros quadrados em Itajaí (SC), tem sua produção voltada para embarcações de apoio offshore de médio porte e possui capacidade para processar 15 mil toneladas de aço por ano. Segundo Portela, esta capacidade instalada equivale ao fornecimento de seis platform supply vessels (PSVs) por ano. Hoje, o estaleiro tem em sua carteira de encomendas dois PSVs e dois anchor handling tug supply (AHTS). "Nossas embarcações estão no estado da arte da tecnologia que existe hoje", afirma Portela. A conclusão das obras está prevista para agosto.
No início de julho, uma nova tecnologia aportou em Aracruz, no Espírito Santo, trazida do Japão pelo Sembcorp Marine, grupo de Cingapura que está construindo o estaleiro Jurong Aracruz no local. É um guindaste flutuante gigante, de 140 metros de altura, 110 metros de comprimento, 46 metros de largura e quatro ganchos de 900 toneladas cada -, capaz de içar até 3,6 mil toneladas. O equipamento foi encomendado pelo Sembcorp a uma empresa japonesa para ser utilizado no Brasil, inicialmente na produção de sete sondas que o Jurong Aracruz vai produzir para a Sete Brasil, empresa que tem contrato para fornecer 29 sondas para a exploração do pré-sal à Petrobras. "O guindaste tem bandeira brasileira e poderá ser utilizado para prestar serviços para outros estaleiros", diz a diretora institucional do Jurong Aracruz, Luciana Sandri.
O estaleiro, cujo investimento é orçado em R$ 1 bilhão, terá capacidade para processar 4 mil toneladas mensais de aço e foi planejado com conceito integrado – fabrica todo o tipo de equipamento naval e atua também nos segmentos de transformação e reparo. O Jurong emprega cerca de 2,5 mil pessoas e, no pico da produção, prevista para agosto de 2016, deverá ter este número ampliado para 5,4 mil vagas.
Segundo Luciana, os equipamentos terão conteúdo local entre 55% e 65%, privilegiando fornecedores de navipeças brasileiros. O Jurong Aracruz é primeiro estaleiro do Espírito Santo. "O projeto deverá provocar uma diversificação da indústria capaz de representar uma nova era para a economia local", afirma Luciana.
Para Portela, do Oceana, a qualificação é um ponto crítico no processo de ressurgimento do parque naval nos últimos 15 anos. "O Brasil fez um projeto industrial antes de fazer um projeto educacional."
Ele conta que o Oceana criou um centro de treinamento que inclui grandes simuladores, cujos programas de capacitação podem durar meses antes de o profissional fazer seu primeiro embarque para o alto mar.
No Jurong, apenas um dos programas de qualificação, realizado em parceria com o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), recebeu US$ 4 milhões, segundo Luciana. Duas mil pessoas passaram por treinamento.
"É uma dificuldade, mas temos potencialidade grande, porque há anos são desenvolvidos projetos no país voltados para a capacitação no setor", diz Humberto Rangel, diretor de relações institucionais e de sustentabilidade da Enseada Indústria Naval, citando o exemplo do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), da Petrobras.
Maior projeto privado da Bahia, com investimentos de R$ 2,6 bilhões, o Enseada terá capacidade de processamento anual de 36 mil toneladas por turno de oito horas. Segundo Rangel, 75% das instalações estão prontas, incluindo o primeiro cais, e o estaleiro recebeu três navios. Um deles trouxe para o Brasil a primeira parte do guindaste Goliath, comprado do grupo finlandês Konecranes. O equipamento tem 150 metros de altura, e capacidade para içar 1,8 mil toneladas. O término da construção do empreendimento está previsto para 2015.