VA Ney Zanella – Discurso como Eminente Engenheiro de 2019

 

Durante cerimônia em comemoração aos seus 103 anos do Instituto de Engenharia foi realizada, nesta quarta (16/10),  a outorga do título de Eminente Engenheiro do Ano 2019 ao vice-almirante Ney Zanella dos Santos.

O presidente do Instituto de Engenharia, Eduardo Lafraia, abriu as comemorações falando sobre a história da instituição, seus projetos Brasil e sobre o trabalho incessante de associados e voluntários na disseminação do conhecimento por meio de uma nova plataforma de associação: o associado virtual. “Queremos criar uma plataforma para o IE; uma plataforma que possibilite o surgimento de um novo Instituto em que as futuras gerações de engenheiros possam seguir exercendo sua cidadania, e se aprimorando técnica e profissionalmente.”

Em consonância com a linha do Instituto de Engenharia, Lafraia destacou a importância de ter Ney Zanella dos Santos como Eminente Engenheiro do Ano. “Neste ano, escolhemos o vice-almirante engenheiro Ney Zanella dos Santos por representar movimentos importantes e que devem ser aprofundados pelo Brasil: a priorização da educação e da pesquisa – alicerces fundamentais de qualquer nação bem-sucedida -, e sobretudo, por ele ter feito, o que para alguns parece impossível, atrair e reter talentos da engenharia no País.

Emocionado, Ney Zanella dos Santos, em seu discurso (ver abaixo), agradeceu ao Instituto. “Instituto de Engenharia, obrigado. Muito obrigado. Não poderiam ser outras as minhas palavras iniciais, porque expressar minha gratidão talvez seja a forma que mais revele a emoção de voltar à minha terra para receber um premio tão especial desta instituição centenária (…) Parabenizo toda a história, o trabalho e as iniciativas desta Casa, que estimulam a engenharia  em beneficio do desenvolvimento e a qualidade de vida da sociedade”. A Engenharia é tão antiga quanto a humanidade. Não se pode conceber as evoluções humanas sem ela. Sem dúvidas eram engenheiros, mesmo que a designação ainda não existisse, aqueles que inventaram rodas, ferramentas, caravelas (…).

Formado em engenharia Mecânica,  Ney Zanella falou sobre suas influências familiares na infância para escolha da formação. “Foram engenheiros que transformaram elementos da natureza em favor do homem (…) O que nos move e nos faz agentes da transformação são os desafios. Foram os desafios que me transformaram em submarinista (…) Não foi surpresa para meus pais quando escolhi esta carreira [de submarinista] e fui conhecer a fundo, cada válvula, cada mostrador, cada equipamento, essas incríveis embarcações.”

Ele ainda ressaltou os grandes desafios colocados pela Marinha ” [foram] ainda maiores, em terra”, como criar a Amazul. A sua inauguração só foi possível devido ao somatório de valores e esforços dos quais tanto necessitam o nosso País, parecia uma missão impossível. Posso afiançar que a Marinha é um dos nichos no Brasil de boa capacitação e realização de pesquisas aplicadas com excelentes resultados; ainda com 10% do orçamento, consegue garantir o sucesso de projetos extraordinários como o programa nuclear.”

Zanella destacou que não aceita a fuga de cérebros do Brasil, por falta de oportunidades, “quando se há tanto a fazer em nosso País, ainda não somos capazes de valorizar e fazer a gestão do nosso conhecimento”.

Ele encerrou agradecendo ao Instituto, à Marinha, à memória do pais, à esposa, filhas, e ao enteado, também engenheiro.

A saudação ao homenageado foi feita por Marcelo Rozenberg, conselheiro do Instituto de Engenharia, cujo pai foi professor de Zanella.

Amigo do homenageado, Rozenberg falou sobre a infância do Eminente Engenheiro e de suas ‘habilidades’ em montar e desmontar objetos. “Desde pequeno, Zanella sempre foi muito curioso para desvendar o funcionamento das coisas. Desmontava tudo que estivesse ao seu alcance, mesmo sem a permissão dos pais. Relógios, torradeiras, rádios, vitrolas, chuveiros e dezenas de outros objetos (…) E até hoje ele tem a eterna curiosidade que cultiva em saber como as coisas funcionam.

Ele destacou o gosto do homenageado de se cercar por pessoas, sempre tratando-as com simplicidade e igualdade. Compartilha com familiares e amigos – com entusiasmo e atenção – suas descobertas.

Participaram também da mesa, Marcos Penido, secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente, representando o governado de São Paulo, João Dória; Claudio Henrique Melo de Almeida, comandante do 8º Distrito Naval; André Steagall Gertsenchtein e Marcelo Rozenberg, respectivamente, presidente e membro do Conselho Consultivo do IE.

 

O VA Ney Zanella recebe o título de Eminente Engenheiro do Ano 2019,entregue pelo   presidente do Instituto de Engenharia, Eduardo Lafraia

Discurso proferido pelo vice-almirante Ney Zanella dos Santos por ocasião da outorga do título de “Eminente Engenheiro do Ano de 2019” pelo Instituto de Engenharia.São Paulo, 16 de outubro de 2019.

Obrigado, Instituto de Engenharia! Muito obrigado!

Não poderiam ser outras as minhas palavras iniciais, porque expressar a minha gratidão talvez seja a forma que mais revele a emoção de voltar à minha terra natal para receber um prêmio tão especial desta instituição centenária.

Nos nomes do presidente Eduardo Lafraia, de quem tive a honra de receber esta láurea, e do conselheiro Marcelo Rozemberg, tão galardoador em sua saudação, parabenizo toda a história, o trabalho e as iniciativas desta Casa que estimula a Engenharia em benefício do desenvolvimento e da qualidade de vida da sociedade.

Agradeço também a todos que hoje aqui me honram com sua presença e aqueles que, por motivos diversos, não puderam comparecer, mas me enviaram cumprimentos.

A palavra engenheiro tem raízes no latim. Ingenium remete à inteligência, habilidade, imaginação. O termo Engenharia deriva da palavra engenheiro, que apareceu na nossa língua há uns cinco séculos e se referia inicialmente àqueles que construíam engenhos. Mas a Engenharia é tão antiga quanto a humanidade. Não se pode conceber as evoluções humanas sem ela.

Sem dúvidas eram engenheiros, mesmo que a designação ainda não existisse, aqueles que inventaram rodas, ferramentas, pólvora, caravelas. São os engenheiros que transformam os elementos da natureza em favor do homem. Pelas suas mãos e seus cérebros, minerais se tornam hoje celulares, aviões, naves espaciais, memórias de computadores. Água, vento, raios de sol e átomos se convertem em energia. E até mesmo novos sabores chegam às nossas mesas pelo trabalho de engenheiros. Costumo repetir que nós, engenheiros, transformamos os sonhos das pessoas em realidade. Transcendemos limites.

O que nos move, o que nos torna agentes de transformação e de processos de desenvolvimento são os desafios – desafios estes que fazem valer a nossa existência. Se temos um propósito e o perseguimos, nossos esforços encontram sucesso. Foi com este espírito que me tornei um submarinista e também me formei em Engenharia Mecânica.

Este meu perfil inquieto e curioso já o tinha na infância e foi aguçado na convivência com meus padrinhos, Ziza e Isoel, este muito habilidoso. Meus brinquedos preferidos eram suas ferramentas. Como já disse o conselheiro Rozemberg , eu adorava desmontar rádios, relógios, eletrodomésticos. Depois, passei a desmontar motores de carros e até um trator inteiro. Não foi surpresa portanto, para os meus pais quando abracei a carreira de submarista e fui conhecer a fundo cada válvula, cada mostrador, cada equipamento dessas incríveis embarcações, que, obviamente, são construídas por engenheiros.

Pensava eu que já tinha enfrentado em mares bravios, sobretudo a noite, os meus maiores desafios, tenham sido dentro de submarinos ou de outros navios, mas estava enganado. A Marinha me reservava outros ainda maiores em terra. Em 2008, fui designado para ativar a Secretaria de Ciência, Tecnologia & Inovação da Força e, cinco anos mais tarde, para fazer nascer do zero uma estatal de tecnologias que atenderia a um setor estratégico, mas ainda pouco conhecido da sociedade brasileira: o nuclear. Foi um privilégio e uma imensa responsabilidade ter sido o primeiro diretor-presidente da AMAZUL, cargo que desempenhei por seis anos aqui na capital paulista, coração econômico do Brasil.

Hoje, como já dito aqui, a empresa, vinculada à Marinha, conta com quase 2.000 funcionários, tem sede própria em São Paulo e atua fortemente em projetos e serviços de engenharia do setor nuclear, contribuindo para promover um arrasto tecnológico que beneficia empresas e o crescimento do país.

No final do ano passado, uma jornalista me perguntou – Como o Sr. conseguiu isso em meio a uma crise que vem se arrastando desde 2015?

Bem, – respondi a ela – ganhei uma enorme calvície. E o pior é que só caíram os cabelos pretos.

Mas fato é que nunca levei a crise para dentro da AMAZUL, porque o que ali havia eram desafios. E enfrentar desafios requer uma visão focada, trabalho duro, persistência, tenacidade e uma boa pitada de audácia. Tudo isso associado à ética, liderança, exemplo e humanidade fez com que houvesse um engajamento coletivo que marcou a minha gestão na AMAZUL – hoje em peso aqui. Muito obrigado pelas presença de todos! Vocês devem se lembrar bem da inauguração da sede da empresa, que só foi possível devido à esse somatório de valores e esforços, dos quais tanto necessitam o nosso país.

Posso afiançar que a Marinha é um dos nichos no Brasil com boa capacitação e realização de pesquisas aplicadas com excelentes resultados. Ainda que com apenas 10% de seu orçamento aplicado em pesquisas, a Marinha consegue garantir o sucesso de projetos extraordinários, como o seu Programa Nuclear e outros afins. E isso pela seriedade e foco com que são tratados e pela continuidade da alocação de recursos.

Atualmente, no Ministério de Minas e Energia, acompanho grandes desafios que o Brasil enfrenta. Na questão energética, o compromisso de minimizar perdas de transmissão devido às grandes distâncias, reduzir as emissões em prol do meio ambiente, tornar mais sustentável e limpa a matriz energética, buscar novas tecnologias para cortar custos. Na área da mineração, também não são poucos os desafios: prospecção de novas jazidas, exploração responsável em terra e nos fundos marinhos, rotas tecnológicas, infraestrutura. Ou seja, temos muitas frentes a serem exploradas pela nossa briosa engenharia.

Recuso-me a aceitar, portanto, que, por falta de oportunidades, engenheiros sejam hoje motoristas de aplicativos para garantir a sobrevivência da família. Recuso-me a ver com indiferença tamanha fuga de cérebros do país, como se verificou nos últimos anos. Não podemos permitir mais que, havendo tanto por fazer em nosso país, não sejamos capazes de valorizar e praticar uma boa gestão do nosso conhecimento. É premente construir pontes sobre os hiatos que nos separam dos grandes centros que investem maciços recursos em educação, pesquisa, ciência e tecnologia.

Há muito a ser feito em todas as áreas. Aqui nesta plateia, por exemplo, temos engenheiros que se destacam no desenvolvimento de tecnologia contra a dengue, que fazem belos trabalhos sociais ou têm aspirações diplomáticas. Nosso leque de atuação é extremamente amplo. E não pode ser contingente a dimensão social do exercício da Engenharia, porque podemos fazer a diferença sim, criando valor de diferentes maneiras e para diferentes pessoas.

Ainda no século XX, o filósofo e poeta francês Paul Valéry disse que o futuro não é mais como era antigamente. O que dizer, então, neste século das plataformas digitais, da robótica, da inteligência artificial, da internet das coisas, da realidade aumentada, da indústria 4.0, da nanotecnologia, da manipulação genética? A nossa capacidade de manipular e transformar o mundo à nossa volta e também o que está dentro dos nossos próprios corpos está se desenvolvendo tão incessantemente e a uma velocidade tal que chega a ser assustadora para muitos.

Que não faltem ao Brasil investimentos físicos e nem valores morais para se posicionar positivamente nesta arena inovadora , que pode até parecer, mas não é uma ficção científica. O historiador israelense Noah Harari, em seu best seller Sapiens, já nos alerta sobre a necessidade de influenciarmos a direção em que o mundo caminha. E ele ainda vai além. Em sua avaliação, logo seremos capazes de manipular até nossos próprios desejos. Então, diz ele, a pergunta correta a ser enfrentada não é “O que queremos nos tornar?” e sim “O que queremos querer”?

Agradeço, mais uma vez, ao Instituto de Engenharia por esta honrosa láurea que fará parte da minha história e também a todos que vieram nos prestigiar nesta noite inesquecível para mim.

Compartilho este prêmio com todos que, ombro a ombro, batalharam juntos comigo na Amazul e, em especial, à grandiosa Marinha, que me proporcionou uma rica “carta náutica” para orientar minha vida profissional nos diversos caminhos que percorri, sempre pautados em valores como patriotismo, honestidade, transparência, determinação.

Dedico este título de “Eminente Engenheiro do Ano de 2019” à memória de meus pais, Neide e Nélson, que talharam o meu caráter e me deram as bases de uma conduta ética e resiliente; à minha grande companheira Carla; às minhas queridas filhas Daniela e Fabíola e ao meu enteado Felipe, que também é um engenheiro. Pessoalmente, sinto-me muito feliz e realizado pelo reconhecimento da sociedade paulista, concretizado hoje por este renomado Instituto de Engenharia. Que todos nós aqui, paulistanos de fato ou de coração, mantenhamos altivo o lema do brasão do Estado de São Paulo:

“PRO BRASILIA FIANT EXIMIA” – Pelo Brasil faça-se o melhor.

Muito obrigado!

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