Nota DefesaNet
Importante análise sobre o Submarino Nuclear INS Arihant, o primeiro da Índia. Observar o difícil dominio da tecnologia nuclear.
O Editor
Por Amit Saksena
amit.saksena@ymail.com
Tradução e edição: Nicholle Murmel
Quando o reator nuclear do INS Arihant entrou em etapa crítica, em agosto do 2013, a Índia passou a integrar o grupo de Marinhas de águas azuis capazes de construir submarinos de propulsão atômica armados com mísseis balísticos. E também atingiu um nervo político e doutrinário doloroso. São várias as preocupações acerca de especificações técnicas e da utilidade limitada prevista para o navio, o que coloca o programa de Embarcação de Tecnologia Avançada (ATV na sigla em inglês) em uma encruzilhada. Uma vez que a Marinha indiana espera receber e comissionar o submarino no primeiro quadrimestre de 2015, certos pontos desse projeto precisam ser discutidos, a fim de medir a capacidade real de Nova Deli para utilizar esse tipo de tecnologia.
A saga da fabricação
Acredita-se que o programa ATV começou com o objetivo de fabricar submarinos de ataque nucleares, tomando por base os K-43 (classe Charlie) arrendados da União Soviética em uma época na qual a Índia não dominava o ciclo de propulsão atômica. Desde então, o projeto se desenvolveu oculto atrás dos testes empreendidos pelo Exército com bombas atômicas no Centro de Testes de Pokhram. Dessa estratégia nuclear ambígua surgiram progressos marcantes no desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais.
A classe Arihant parece ser derivada da classe Charlie, mas com modificações para se equiparar à classe Akula e acomodar o Sistema de Lançamento Vertical (VLS) para ICBMs. Apesar de as adaptações não comprometerem as funções gerais do submarino, conforme apontam relatórios das provas de mar, as implicações reais só serão percebidas quando o míssil balístico K-15 Sagarika for integrado ao INS Arihant, no começo de 2015. Além disso, a inclusão de lemes horizontais na vela e de um conjunto de hidrofones rebocado é inesperada, pois os componentes agravam aind mais as limitações de velocidade e fragilidade do navio.
É importante lembrar que o retaor de água pressurizada (PRW) dessa primeira unidade foi fabricado com ajuda considerável dos russos, contrariando o argumento de que o Arihant foi desenvolvido nacionalmente. Sem dados acerca de um gerador fabricado totalmente na Índia, o coração do novo submarino ainda depende de componentes e tecnologia importada de Moscou. À dependência tecnológica soma-se a demora no desenvolvimento e construção. A primeira embarcação levou mais de dez anos até chegar à rodada inicial de testes – o dobro do tempo necessário para o projeto e construção de submarinos de propulsão nuclear da mesma categoria nos outros cinco países detentores desse tipo de armamento.
Com o primeiro navio da classe ainda em fase de teste, a decisão do governo indiano de iniciar os trabalhos em novas unidades é precipitada. Uma estratégia ideal seria enfatizar a conclusão do INS Arihant, e depois observá-lo já comissionado e atuando, para então direcionar recursos para os próximos SSBNs. Se a promessa de que o INS Aridhaman, próximo da classe, será “maior e melhor” for verdadeira, então o governo indiano não extraiu qualquer aprendizado com a jornada do Arihant, e já está se lançando em um novo projeto sem concluir o anterior.
Em todo caso, os resultados apresentados até o momento não justificam os 2,9 bilhões de dólares já investidos no primeiro submarino, especialmente em comparação a outras Marinhas que desenvolveram o mesmo tipo de navio a preços consideravelmente menores.
Expectativa vs realidade
O ex comandante da Marinha, almirante Nirmal Verma, descreveu o INS Arihant como, em primeiro lugar, “uma demonstração da tecnologia”. Porém, ainda resta saber qual tecnologia o navio demonstra. Uma comparação simples entre a classe Arihant e navios da mesma categoria reforça essa dúvida.
A velocidade máxima do modelo indiano é de apenas 24 nós quando submerso, enquanto a média é de 30 nós para os navios de outros países. Essa discrepância não só depõe contra a capacidade tecnológica indiana, mas também prejudica a eficiência operacional do submarino. Uma vez estabelecido, o potencial propelente se torna fator decisivo na capacidade de sobrevivência de um submarino em combate.
Outro tópico a ser considerado são os armamentos, em que o INS Arihant se mostra inferior às contrapertes estrangeiras – o navio apresenta 12 mísseis K-15 de curto alcance. Para fins de comparação, as classes Astute, da Inglaterra, Virgina, dos Estados Unidos e a russa Akula são capazes de disparar no mínimo 40 mísseis cada.
Com baixa velocidade e alcance limitado de ataque, o INS Arihant não contribui de forma significativa para o poder naval indiano, especialmente enquanto China e Paquistão desenvolvem sistemas avançados de aviso prévio e contenção de mísseis.
Falha nos protocolos de operação
O INS Arihant representa um dilema para o governo do primeiro ministro Narendra Modi. Para que a capacidade de dissuasão indiana seja credível, Nova Dheli estaria mantendo suas armas atômicas parcialmente desmanteladas e sob total controle da autoridade civil – as ogivas são separadas dos núcleos atômicos e dos propelentes para o lançamento. Mas para operar um submarino armado com mísseis balísticos, o governo teria que aprimorar a prontidão desses armamentos e ceder o controle aos oficiais comandando o navio.
Essa transferência de poder daria margem para disparos não-autorizados ou equivocados. Também faltam protocolos que definam propriamnte os procedimentos a serem tomados em caso de falha na comunicação entre o navio e o comando central, ou em caso de invasão. A classe Arihant é um exemplo típico de como um governo ingressa na produção de armas com alto poder de destruição sem desenvolver a doutrina necessária para operá-las.
O INS Arihant pode ser um marco na tecnologia naval e bélica indiana, mas, por exemplo, não é capaz de fazer frente aos submarinos da nova classe Jin chinesa. Também sao incertas as implicações de um submarino nuclear indiano nas relações com o Paquistão. Há rumores de que Pequim poderia exportar submarinos e tecnologia para o nosso vizinho. Nesse caso, o Arihant serviria apenas para iniciar uma nova corrida armamentista na região.
Dados do INS ARIHANT |
Lançado em 26 Julho 2009, alcançou a capacidade crítica no reator em Agosto 2013. |
Tipo – Submarino Nuclear.6.000t deslocamento baseado na classe russa Charlie com aperfeiçoamentos da Akula |
Testes – Terá mais um periodo de dois anos de testes antes de ser considerado operacional |
Triad Nuclear – Será a perna nuclear da Marinha Indiana, o Exécito tem os mísseis Agni e Prithvi-II, e a Força Aérea tem aviões com capacidade de levar armas nucleares. |
A Índia sera a sexta nação do mundo a ter a capacidade de projetar e construir submarinos nucleares (EUA, Rússia, China. França e Reino Unido). |
Projeto – Baseado no submarinos russos Chalie e Akula |
Reator: O reator do INS Arihant tem apotência de 83Mw tipo “pressurised water reactor”(PWR) também construído com ajuda russa |
INS Arihant é o primeiro de um lote projetado de 5 submarinos projetados e construídos dentro do Programa Secreto da Marinha Indiana Advanced Technology Vessel (ATV) project -1974 |
Armamento – Poderá levar misseis de cruzeiro com alcance de 1.000 km, mísseis balísticos de curto alcance (300 km), torpedos e minas. O submarine terá tubos VLS para disparo de vários armamentos. |
Velocidade (Nós) 12-15 (superfície) 30-34 (submerso) |
Autonomia Ilimitada – Capacidade de submersão 300 m . |