Temístocles Telmo Ferreira Araújo
Doutorando e Mestre em Ciências Policiais de Segurança e
Ordem Pública. Especialista em Direito Penal.
Professor de Direito Penal e Prática Jurídica.
"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar”. José Saramago
Por que não gostar da polícia ou porque gostar?
Não sou louco e nem saudosista. Longe disso, sou apenas um cidadão que gosta de valores, os morais, para ser bem claro.
Sou um cidadão e por ser cidadão não preciso aqui querer explicar algo mais. Faço a regra e não a exceção. Não prego o jeitinho, a esperteza, o levar vantagem. E olhem que não sou santo, longe disso… Sou ser humano…
Ninguém é obrigado a gostar de ninguém. Aliás, tudo que é obrigado é efêmero, as relações de gostar precisam ser perenes, devem ser cunhadas no próprio espírito, pois gostar tem haver com respeito.
Gostamos de nossos pais, amigos, cônjuge e filhos, para não estender muito a lista, e para estes temos e devemos ter respeito. Tanto que numa relação de pai e filho, de amigo, o respeito é mais forte que o gostar.
Porque será que não conseguimos gostar de polícia. Será que é porque quando éramos criança a mãe falava que se não nos comportássemos chamaria a polícia para nos fazer calar?
Será?
Há quem diga que sim. Não sei, não tenho formação em antropologia e nem em psicologia, pois meus pais não transferiam responsabilidades, talvez seja por isso que me tornei policial, por gostar. Por acreditar que é possível dar a vida por um terceiro que nem conhecemos.
Bom, de qualquer forma, não quero falar de mim. Seria fácil, ao menos penso ser. Quero refletir porque a sociedade não gosta de polícia.
Desculpe generalizar, mas é que a mídia em seu poderio insano, já que falar mal de polícia dá audiência, parece que de forma uníssona traz a opinião da população. Não gostamos de polícia.
Será que a sociedade de bem, sim para esta dirijo-me, tem noção que a polícia é sua? Que policial nasce igual a qualquer um, que ser policial é uma opção de carreira e não de emprego? Será que sabem que policial tem família, estuda, fica doente, fica triste, alegre, dorme, acorda e se alimenta? Será?
Polícia erra. Claro, são seres humanos, estão trabalhando na espinha dorsal da sociedade. No conflito. Mas quando erram, seus agentes são punidos em conformidade ao que prega a lei, nem mais e nem menos. O Brasil não tem pena de morte, mas quando o policial erra se quer pena de morte para ele. Por quê? A quem interessa uma polícia fraca, desacreditada? Só encontro uma resposta: ao bandido.
Os tempos atuais estão mesmo estranhos. Aplaudimos o bandido, heroicizamos o mal. O crime compensa? Não pode ser.
O momento é de criminalização da polícia e legalização do bandido. Temos que ensinar nossa sociedade a gostar de polícia. Polícia é o Estado de direito, polícia é chata, pois faz cumprir as leis, impõe a vontade do Estado. Esse mesmo Estado que delegamos a atribuição de regular nossos comportamentos.
Repito: é preciso ensinar nossas crianças, nossos jovens, nossos adultos e idosos a gostarem de polícia, pois como um dia em sua sabedoria escreveu Eça de Queiroz, “Quando não se tem aquilo que se gosta é necessário gostar-se daquilo que se tem”