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Depois de corromper parte da polícia, PCC passa a investir em políticos

 

Equipe DefesaNet

 

O crime organizado está tendo uma resposta a altura do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado  (Gaeco), de São Paulo. O alvo agora visa funcionários públicos, inclusive policiais, e políticos que são bancados pela facção criminosa. As regiões da Grande São Paulo e do Vale do Paraíba estão entre as principais. Suzano e São José dos Campos são os alvos preferenciais.

 No último dia de novembro de 2017 foi marcado por uma operação imensa prendeu 24 policiais de 36 mandados de prisão expedidos, sendo que 30 são policiais. Muitos deles estão foragidos. Todos envolvidos com o Primeiro Comando da Capital ( PCC) na principal cidade dentro do eixo São Paulo-Rio de Janeiro, São José dos Campos, a segunda maior cidade do interior com país com mais de 700 mil habitantes.

Cerca de 20 dias antes, no dia 08 de novembro, uma movimentação de  grupo de perueiros clandestinos em Suzano, cidade da Grande São Paulo,  mostrou o nível o ousadia do crime organizado e detonou mais uma investigação do GAECO sobre a facção criminosa. O grupo especial do Ministério Público de combate ao crime organizado recebeu a denúncia formal ligando o PCC, um grande esquema de transporte coletivo, vereadores, funcionários públicos comissionados indicados pela facção criminosa para a prefeitura e o atual prefeito do município Rodrigo Ashiuchi (PR).

A ligação do PCC com políticos é antiga e a organização criminosa tentou, sem sucesso, inclusive se transformar em partido político e concorrer as eleições. Em 2014, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, disse  que a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) está envolvida em doações eleitorais realizadas por pessoas físicas a partidos políticos.

A declaração feita no momento que justificava o pedido de vista no julgamento no STF de ação direta de inconstitucionalidade que discutia o financiamento de campanha política por meio de empresa privada. O que ocorre hoje por meio de sindicatos e associações legalizadas, mas controladas por criminosos. "Alguém do meu gabinete me falava recentemente que o PCC está participando ativamente desse processo de doação. E vai fazê-lo certamente por doações individuais. É razoável, então, que discutamos isso com seriedade. Por isso que pedi vista", afirmou na época.

Policiais corruptos na Capital do Avião

No caso de São José dos Campos,  cidade sede da Embraer, a  Corregedoria da Polícia Civil  informou que os policiais envolvidos no caso atuam nas delegacias do 3ºDP, 7ºDP, Delegacia de Investigação Sobre Entorpecentes  e na  Delegacia de Investigações Gerais . Além deles também tiveram a prisão decretada, uma advogada, um ex-policial civil e quatro pessoas apontadas como traficantes pelo Ministério Público. O MP ainda investiga ligação de políticos da cidade com facções ligadas ao PCC e ao Comando Vermelho, que migrou do Rio de Janeiro para a periferia da cidade.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, o combate ao crime organizado é realizado dia e noite pelas forças de segurança do Estado. "Só em 2016, foram presas em São Paulo 605 pessoas envolvidas em organizações criminosas pessoas envolvidas em organizações criminosas. Graças ao trabalho de inteligência das polícias paulistas, diversas operações foram deflagradas, incluindo a Ethos, que resultou na prisão de 53 advogados ligados a facções criminosa”, informou em nota a pasta em entrevista ao portal Uol.

Suzano, a capital do tráfico

A primeira semana de novembro mostrou a força de mobilização do PCC em Suzano, com mais de 1,2 mil pessoas nas ruas. As principais vias da cidade foram paralisadas e os manifestantes exibiram várias faixas e cartazes com as iniciais da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), na qual diziam “ Prefeito Cumpra o Combinado”. Uma forma subliminar de avisar quem estava no comando e do acordo entre o político e o crime organizado.

O objetivo pressionar o prefeito Rodrigo Ashiuchi (PR) a atuar na regularização do transporte irregular entre o bairro de Miguel Badra, conhecido reduto do tráfico, e o Jardim Marengo, em Itaquaquecetuba, criando um corredor de passagem livre da droga por meio do transporte coletivo. Esses bairros são redutos do PCC, segundo a própria polícia.

A negociata com o então candidato a prefeito e atual da cidade, é explicitada, como mostrou uma reportagem do Portal R7:

“Apoiamos a candidatura porque ele fez uma promessa de aprovar a nossa categoria”, afirma Junior Bernardino Barbosa, diretor e líder os perueiros clandestinos, da J.J. Transporte Turismo e Locação LTDA., empresa criada para dar caráter oficial aos perueiros clandestinos da região. “Nós colocamos esperança nisso.”

Ele disse que a faixa saiu com as letras erradas, mas não explicou as centenas de cartazes que também traziam a sigla PCC empunhados por membros da cooperativa investigada por possível ligação com a facção. Nem muito menos explicou a presença de ex-presidiários ligados ao PCC atuando na cooperativa, alguns deles peças chaves na direção do grupo criminoso.

Barbosa disse que 150 motoristas trabalham sob regime de cooperativa, usam inclusive carros de passeio para o transporte complementar de passageiros em áreas de Suzano onde o transporte coletivo regular não chega. Desde setembro, mais de 60 carros foram apreendidos na rota reivindicada.

Deputado expulso do PT dá as cartas

Em 2014, quando a polícia apertou ao cerco na ligação crime e política, o deputado estadual e ex-presidiário Luiz Moura (PT), e seu irmão, o vereador Senival Moura (PT)  foram  flagrados pela polícia em reunião com 18 integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC)  na garagem de uma cooperativa de lotações clandestinas na Zona Lesta de São Paulo, região onde fica Suzano. O partido decidiu afastá-lo em junho, depois de vir a público a informação.

O ex-deputado Luiz Moura foi expulso do PT, pois também mantinha contatos pessoais com integrantes do PCC. Hoje Moura está no PDT e comanda a política do Alto Tietê tendo como braço forte os perueiros clandestinos e  entidades investigadas pelo MP e pela polícia, todas com fortes indícios de serem usadas como fachada para o crime organizado.

Ambos irmãos foram  alvo de investigação do Ministério Público de São Paulo por suspeita dos crimes de formação de quadrilha e corrupção entre outros crimes. As investigações sobre Senival e Luiz Moura foram conduzidas  pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO).

As citações ao deputado, porém, foram remetidas ao procurador-geral de Justiça, a quem cabe investigar parlamentares estaduais, que têm foro privilegiado.  Até hoje não há sentença sobre o caso. Apesar do no material constar que os membros do PCC e os políticos são ‘irmãos de sangue’.

A relação entre a periferia de Suzano e Itaquaquecetuba e a facção é histórica e em 2006 protagonizou uma série de atentados contra delegacias de polícia em Suzano.  As forças especiais, inclusive a inteligência da PM e o MP nunca deixaram de observar as movimentações na zona leste de São Paulo.

Desta vez, algo chamou ainda mais a atenção. Foi a presença de Julio Cesar Ribeiro Silva, detentor de vasta ficha criminal e classificado como de alta periculosidade, autor de vários crimes praticados em Suzano e fora desta cidade. Ele é  membro ativo do PCC. Julio Cesar foi um dos principais cabos eleitorais da campanha de 2016 do então candidato Rodrigo Ashiuchi.

Julio Cesar foi um dos organizadores do protesto e aparece numa foto a frente do grupo que carrega uma faixa com os dizeres “Prefeito Cumpra o Prometido” ( PCC em vermelho), depois em outra foto dentro da câmara dos vereadores em reunião com seis integrantes do legislativo local e diversos perueiros.

As investigações correm em sigilo no Gaeco, sediado em Guarulhos, mas o volume de informações é imenso e já existem evidências claras para desmontar o esquema criminoso existente entre prefeitura, câmara e o crime organizado.

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