Excelente Série Clube do Crime detalhando as atividades do Primeiro Comando da Capital (PCC), publicada pela Folha de São Paulo, edição 30ABR 2017. 1 – Facção criminosa tenta dominar presídios do país todo 2 – Para crescer, facção criminosa afrouxa regra para novos filiados 3 – Prisão de advogados foi duro golpe e exigiu mudança de estratégia 4 – Judiciário 'ajuda' facção criminosa ao tratar integrante como bandido comum 5 – De olho no RJ, facção faz aliança, vira fornecedor e fortalece ação na divisa 6 – Facção criminosa oferece droga em consignação e 'chuveirão' na prisão 7 – Mato Grosso vira entrave em plano de expansão de facção criminosa 8 – Palco de mega-assalto, Paraguai se torna refúgio e peça-chave de facção |
ROGÉRIO PAGNAN
Enviado Especial ao Rio de Janeiro, a Cuiabá (MT)
e a Presidente Prudente (SP)
Uma das mais contundentes frentes de resistência ao plano de nacionalização do PCC está em Mato Grosso, primeiro Estado no qual criminosos locais proibiram "batismos" da quadrilha paulista, ainda em 2013. Em terras mato-grossenses, integrantes do bando criminoso de Marcola estão sendo caçados dentro e fora da prisão.
Parte dessa caçada está descrita em documentos obtidos pela Folha. Um dos informes, produzidos pela Inteligência da Polícia Civil de São Paulo e destinado aos aparelhos de segurança de Mato Grosso, indica ordens de chefes do Comando Vermelho para o assassinato de rivais.
Uma delas determina que os criminosos fiquem atentos para a eliminação de "qualquer membro do PCC tão logo ocorra o ingresso no sistema penitenciário". A outra ordem determina àqueles do Comando Vermelho no Estado que busquem identificar membros do PCC fora do sistema prisional mato-grossense.
No início deste mês, cinco presos foram mortos e 17 ficaram feridos no presídio de Sinop, a cerca de 500 km de Cuiabá, quando integrantes do CV tentaram atacar detentos ligados ao PCC que estavam em uma ala segura. Integrantes do governo local dizem que, desde janeiro, quando eclodiu a guerra entre facções, o trabalho para evitar o assassinato de membros da facção paulista foi ampliado. "Aqui, o PCC é potencial vítima", disse um integrante da gestão estadual.
Duas mortes foram evitadas em Nova Xavantina, segundo o governo de MT. A ordem para o ataque foi interceptada pela Polícia Civil paulista em investigação sobre o crime organizado. O casal alvo seria do PCC, e chefes do CV na prisão ofereceram armas para a execução do crime, "até uma metralhadora", mas chegaram à conclusão de que bastaria "um.38 ou uma quadrada [pistola]".
A ordem teria partido de Leandro Santos Pires, o Palhaço, um dos chefes do CV no Estado, que também fala da necessidade de aquisição de mais armas para os enfrentamentos contra o PCC. Uma das sugestões para a ampliação do arsenal seriam ataques a bases da Polícia Militar no interior do Estado.
MALUCO
De acordo com integrantes do Gaeco, grupo de combate ao crime organizado do Ministério Público de Mato Grosso, diferentemente do que ocorre em São Paulo, os presídios mato-grossenses são dominados pelo CV-MT.
A estimativa é que o número de integrantes da facção fluminense possa ser até quatro vezes maior do que a quantidade de criminosos do PCC. São estimados cerca de 200 criminosos ligados a Marcola e outros 800 ligados ao CV. A quadrilha de Mato Grosso teria como principal chefe Sandro da Silva Rabelo, 57, o Sandro Louco, ex-integrante do PCC e convertido pelos chefes do Comando Vermelho.
De acordo com o secretário de Justiça e Direitos Humanos, coronel Airton Benedito Siqueira Júnior, responsável pela administração penitenciária no Estado, a briga local tem o mesmo objetivo que em outras áreas: a luta pelo expansionismo.
"Essa busca pela hegemonia dentro das prisões, que está sendo identificada em várias unidades da federação, não é diferente aqui no Estado. Temos integrantes de CV e PCC, e eles também buscam essa supremacia", disse.
Para evitar o que ocorreu em outros Estados, como Amazonas e Rio Grande do Norte, o secretário diz ter adotado medidas emergenciais como aumento no número de revistas, transferência de presos e punição a eventuais danos materiais causados por presos. "A preocupação maior é a preservação das vidas. Independentemente de ser facção A, B ou C, ou de facção nenhuma, nós temos a preocupação de preservar a vida de todos."
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Marlene Bergamo – 14.jan.2017/Folhapress |
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Ala do Complexo Prisional Anísio Jobim, em Manaus (AM), após chacina em janeiro |
Já o secretário da Segurança, Rogers Jarbas, critica a forma como São Paulo vem agindo nessa luta contra o crime organizado ao se recusar, segundo ele, a falar com outros Estados sobre o problema e compartilhar experiências. "São Paulo nunca sentou com outro Estado para tratar de área de inteligência. São Paulo nunca sentou para difundir com outros Estados, como nós fazemos no Pacto Pela Segurança, para tratar de segurança pública. São Paulo não agrega com ninguém."
Ainda segundo Jarbas, que foi oficial da PM de São Paulo, os secretários de São Paulo não se reúnem nem mesmo com outros secretários. "Basta você ir para o interior do Estado e ver em cidades pequenas, que não tinham nem roubo, hoje ter a disciplina de facção criminosa que está mandando no que acontece no bairro. Quem está ganhando o jogo? A droga não é um problema dos Estados fronteiriços, a droga é um problema do país."
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo disse que "que os órgãos de inteligência das polícias paulistas têm contato ininterrupto com autoridades de outros Estados e da Polícia Federal, compartilhando informações sobre o crime organizado que auxiliem em investigações. Tanto que São Paulo participa do núcleo de policiamento de fronteiras do país, ao lado de Rio de Janeiro, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O protagonismo de São Paulo nesse cenário é flagrante quando exposto que a criação deste núcleo foi anunciada na sede da Secretaria da Segurança Pública do Estado."