OTAN quer se manter como pilar em defesa ante planos de UE e Trump

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) encerra 2016 com a mensagem de que se manterá como a "pedra fundamental" da segurança na Europa diante dos planos da União Europeia (UE) de ganhar autonomia militar e da vitória eleitoral nos Estados Unidos de Donald Trump, que não deu como certa a continuidade de seu país na organização sem mais investimentos europeus.

Em um ano em que o leste da Europa se reforçou ante as ameaças da Rússia e no sul de seu território pelo auge do terrorismo jihadista e a instabilidade que causam as ondas migratórias, a aliança enfrenta agora os desafios de encaixar a vontade da UE de crescer como potência em defesa e a retórica que, ao menos durante sua campanha eleitoral, Trump usou sobre a organização.

Além de para dar sinal verde ao envio de seis batalhões aos países bálticos e Polônia e reforçar posições no Mar Negro e no Mediterrâneo oriental, a cúpula da OTAN realizada em julho em Varsóvia serviu para que o presidente americano, Barack Obama, corroborasse a solidez do vínculo transatlântico e para assinar com a União Europeia uma declaração para estreitar a cooperação.

A UE está atualmente imersa em um processo interno para fazer efetiva a estratégia global de segurança apresentada em junho pela alta representante comunitária para a Política Externa, Federica Mogherini, que pede mais compromisso dos países frente a "ameaças" desde o exterior.

A saída da UE do Reino Unido, um país tradicionalmente reticente a fortalecer a Política de defesa e Segurança Comum, poderia representar um atrativo a mais para avançar nessa área.

Em uma conferência em novembro, Mogherini insistiu que a UE quer se transformar em "um forte fornecedor de segurança em nossa região e fora dela".

"A UE aumentar suas capacidades de defesa, seria algo necessário de qualquer maneira", disse à Agência EFE o diretor sênior de Política Externa do Centro de Estudos para a Cooperação Transatlântica German Marshall Fund, Ian Lesser.

Na sua opinião, a criação de um Exército europeu -algo que Mogherini já descartou- não é realista, mas sim que os países da UE cooperem mais entre eles e com a OTAN, "simplesmente porque é mais rentável".

A UE e a OTAN, ambas com 28 Estados-membros, compartilham 22 deles.

A diretora do escritório de Bruxelas do Centro de Estudos Bertelsmann Stiftung, Stefani Weiss, disse que o impulso da UE "não é novo", mas acrescentou que "dada a insegurança sobre a direção que os EUA tomará com Trump", a Europa finalmente "pensará seriamente sobre sua segurança e o reforço de capacidades".

"Sem dúvida a eleição de Trump criou novas dúvidas entre os europeus sobre a confiabilidade dos EUA como parceiro da UE e sobre o futuro da Aliança como pedra fundamental da segurança europeia, e global, desde a Segunda Guerra Mundial", indicou à EFE.

Afirmações de Trump durante a campanha como que a Aliança está "obsoleta" porque não aborda de maneira apropriada o terrorismo e porque muitos países europeus não investem o ideal de 2% do PIB em defesa, "parecem fazer condicional o apoio dos EUA à OTAN" no que se refere à defesa coletiva, que é a razão de ser da organização.

Lesser pediu cautela e não dar por feitas as declarações da campanha. "Provavelmente vai haver certo tipo de valorização na Administração de Trump com relação à linguagem", disse.

Em tal sentido afirmou que, "no final, EUA seguirão sendo um aliado de confiança dentro da OTAN".

Segundo dados da OTAN, a despesa em defesa dos países europeus e Canadá subiu 0,6% em 2015 e, neste ano, 1,5% (US$ 3 bilhões a mais) após anos em declínio.

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