Luis Kawaguti
Os dois anos de crise e guerra civil na Síria provocaram um aumento aproximado de 25% no tráfego de embarcações na costa do Líbano.
A região já foi usada como porta de entrada de armas ilegais para rebeldes sírios e é patrulhada por uma força naval da ONU liderada pelo Brasil.
O contra-almirante Joése de Andrade Bandeira Leandro disse à BBC Brasil que, nos últimos dez meses, uma boa parte dos navios cargueiros que costumavam se destinar à Síria passou a operar nas águas libanesas em busca da proteção da esquadra das Nações Unidas. Ele concedeu entrevista por telefone, a bordo da fragata brasileira União.
"Houve uma transferência (dos navios destinados à Síria) para portos libaneses. Depois que a carga chega em portos libaneses ela é transferida para a Síria por via terrestre", afirmou Leandro. A costa da Síria é a vizinha do norte da costa libanesa.
Entre os principais produtos que seguem essa rota estão o combustível e derivados de petróleo.
Para lidar com o novo fluxo, o porto de Beirute, o principal do país, construiu um novo setor de carga e descarga – inaugurado na semana passada pelo presidente Michel Sleiman. A capacidade do porto para lidar com contêineres subiu de um milhão de unidades por ano para 1,5 milhão.
Enquanto isso, analistas calculam que o trânsito de mercadorias em portos sírios tenha caído cerca de 70%.
Esquadra
A esquadra da ONU é formada por nove navios de guerra e quatro helicópteros do Brasil, Alemanha, Bangladesh, Grécia, Indonésia, Itália e Turquia. Ela é parte da Unifil, a missão de paz das Nações Unidas no país.
Os navios patrulham uma faixa de 100 quilômetros mar adentro a partir da costa libanesa (que tem 220 quilômetros de de extensão). Seu objetivo é impedir o contrabando de armas ilegais por via marítima para grupos radicais libaneses e treinar a marinha libanesa para exercer essa tarefa no futuro.
Uma das maiores preocupações da ONU é que, acobertados por esse fluxo maior de navios, contrabandistas tentem usar o litoral do país para levar armas à Síria.
Duas grandes apreensões de armamentos destinados aos rebeldes, opositores de Bashar al-Assad, foram apreendidos no ano passado pela esquadra antes de serem desembarcados no norte do Líbano.
Leandro afirmou que o trânsito mais intenso não prejudicará a fiscalização dos navios. De acordo com ele, desde 2011, quando o Brasil assumiu o comando da Força Tarefa Marítima da ONU, cerca de 19.250 tripulações de navios foram interrogadas em alto mar e 2.500 dessas embarcações tiveram suas cargas inspecionadas.
"Essa interrogações visam coletar todos os dados de navios mercantes transitando nessa área, seja entrando ou saindo de portos libaneses ou simplesmente transitando pela área", disse Leandro.
Mas se a situação de segurança está sob controle no mar, o dia a dia começa a ficar cada vez mais complicado em solo libanês.
Nesta semana, tropas do Exército do país foram envidas à cidade nortista de Trípoli, para onde a guerra civil síria começa a se espalhar. Grupos favoráveis e contrários ao regime de Assad estão se enfrentando em violentos combates urbanos.
Por enquanto não há planos conhecidos do governo brasileiro para ampliar sua participação na missão de paz do Líbano com tropas terrestres. A contribuição do país se restringe ao Estado Maior da Força Tarefa Naval e à fragata União (com uma tripulação aproximada de 300 marinheiros).
Dissuasão
O contra-almirante brasileiro atribuiu parte do aumento do tráfego marítimo no Líbano aos resultados positivos da missão de paz no país.
"Eu acho que é um resultado de uma percepção da segurança marítima nessa área de operações. Porque os navios que operam nessa área são interrogados pelos navios da Força Tarefa Marítima".
"O trabalho desenvolvido pela esquadra permite que as companhias operem com segurança nessa área que envolve todo o litoral libanês", disse.