UPP do Alemão e Penha começa a ser instalada em 31 de agosto, diz general

A implantação de UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) nos complexos do Alemão e da Penha, conjuntos de favelas da zona norte do Rio de Janeiro ocupados pelo Exército desde novembro do ano passado, já tem data para começar. Em entrevista exclusiva ao R7, o general Adriano Pereira Júnior, comandante militar do leste, adiantou que a troca do Exército por PMs começa no dia 31 de agosto. A inauguração da UPP está prevista para o fim de outubro.

Segundo o oficial, que responde pelo Exército no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo e é o principal responsável pela Força de Pacificação no Alemão, a entrada dos PMs na região será gradativa.

Na mesma sala onde recebeu a cúpula da Segurança Pública do Estado para planejar a ocupação do antigo quartel-general da maior facção criminosa do Rio, Pereira Júnior falou sobre a ocupação, a permanência do tráfico de drogas na região e a dificuldade em conquistar a confiança da população. Leia mais a seguir:

R7 – Qual o balanço que o senhor faz desses quase sete meses de ocupação do Exército no Alemão e na Penha?

Adriano Pereira Júnior – A nossa principal missão está sendo cumprida. Essa missão é pacificar a área, impedindo o domínio do crime organizado, de forma ostensiva, armada, dominando a vida daquela população, impondo a sua lei, a lei do tráfico de armas, do tráfico de drogas. Os resultados sob esse aspecto são muito bons. A própria vida comunitária mostra o nosso sucesso. Os dois complexos são percorridos hoje por qualquer pessoa e a qualquer hora. O índice de homicídios naquela região é um dos mais baixos do país.

R7 – Não há mais o domínio do território pelo fuzil do traficante, mas ainda há tráfico. Como o Exército lida com esse problema?

Adriano Pereira Júnior – O tráfico de drogas existe em qualquer bairro do Rio. Infelizmente, é um mal que a sociedade está enfrentando. Hoje, nós temos na região 1.700 homens, incluindo policiais militares que fazem parte da Força de Pacificação e uma delegacia da Polícia Civil, que está subordinada a nós. Nosso patrulhamento é 24 horas e as apreensões são quase diárias, de armas, drogas e dinheiro. Também fazemos detenções e prisões. Agora, tem boca de fumo? Tem, mas não é fixo. É itinerante, normalmente nos becos, lá no fundo, que estão sendo batidos gradativamente.

R7 – Como é feito o trabalho de monitoramento pela inteligência?

Adriano Pereira Júnior – Uma área que ficou tanto tempo abandonada, que tem muitas possibilidades de acesso, com um topografia complexa, dificulta o patrulhamento. Nos pontos mais altos, os chamados pontos fortes, de maior domínio e visibilidade, nós temos ocupação constante por tropa armada. Dentro das comunidades, temos pontos de visibilidade nos acessos da patrulha a pé, de carro e motocicletas. Os dois complexos estão divididos em setores. Na Penha, é um batalhão e, no Alemão, é outro. E esse batalhão divide a área em companhias, que tem quatro pelotões cada uma. Essas patrulhas se deparam com traficantes, que são detidos ou fogem. A inteligência monitora os pontos de tráfico.

R7 – O Exército já detectou o retorno de pessoas ligadas ao tráfico?

Adriano Pereira Júnior – Nós temos certeza que existem dentro da área pessoas ligadas ao tráfico. Nós detemos essas pessoas e, quando chegamos à delegacia, não há nada contra elas. Como não foi preso em flagrante, é liberado. É aquele soldado do tráfico, que andava armado ali dentro, mas que nunca foi pego pela polícia. Esse jovem está voltando para a comunidade. Ela saiu quando houve a tomada e, agora, está voltando porque ali é a terra dele, onde está a família dele.

R7 – Quais as diferenças entre o apoio inicial dado à polícia e o atual controle da ocupação pelo Exército?

Adriano Pereira Júnior – Na primeira fase, a polícia precisava de apoio para entrar e nós colocamos 800 homens no entorno para impedir a fuga de criminosos. A diferença é que, agora, nós estamos dentro das duas comunidades. Nós somos uma UPP, estamos atuando como se fôssemos uma UPP. (…) Essa é a terceira ou quarta vez que o Exército entra lá, sempre para resolver problemas, mas nunca houve essa política de continuidade.

R7 – No que exatamente essa participação do Exército no Rio se diferencia das anteriores?

Adriano Pereira Júnior – Sempre que o Exército foi usado no Rio foi um coisa esporádica, sem nenhum arcabouço, nenhum acordo. Dessa vez não. Por exemplo, agora nós temos regras de engajamento. O que é isso? É como o nosso militar deve se comportar diante de cada situação, sempre procurando preservar a integridade física, não usar a força, a violência.

R7 – Essas regras já existiam ou foram criadas exclusivamente para essa ocupação do Alemão e da Penha?

Adriano Pereira Júnior – Fizemos regras específicas para o tipo de operação que nós íamos executar. E essa regra está assinada pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, e pelo governador Sérgio Cabral. Além do Exército, nós temos policiais militares e civis e todos precisam cumprir as mesmas regras. Foi assinado também um acordo em 4 de dezembro, no qual fica definido como será a ocupação, quem comanda e como será a subordinação. No acordo, ficou acertado que outros policiais que não fazem parte da Força de Pacificação não podem entrar na área para fazer qualquer operação, a não ser que sejam autorizados. Isso aí evitou conflitos.

R7 – Que tipo de conflitos?

Adriano Pereira Júnior – Nós pegamos todas as outras operações que o Exército fez em parceria com a polícia e vimos o que deu errado. E, normalmente, os erros estavam na falta de controle. De repente, entrava uma viatura da Polícia Civil em uma área patrulhada pelo Exército e nós não sabíamos se era a polícia ou se era um bonde, porque era uma viatura descaracterizada com homens armados em trajes civis. Nesse acordo, procuramos estabelecer regras para que esses problemas não ocorressem.

R7 – Já existe prazo para o Exército deixar o Alemão?

Adriano Pereira Júnior – A diretriz ministerial que autorizou a nossa ocupação não fixa prazo, mas quando o governador nos solicitou, ele falou que seria até outubro. Ele está trabalhando para ter PMs formados para ocupar a área até 31 de outubro. Em 31 de agosto, eu já devo estar recebendo cem policiais militares da UPP que vão se integrar à Força de Pacificação. Um mês depois, vem outro efetivo e eles serão incorporados gradativamente para não haver uma quebra de continuidade.

R7 – Como será feita essa transferência do Exército para a UPP?

Adriano Pereira Júnior – A PM vai trabalhar conosco e, à medida que eles tiverem efetivo suficiente, nós vamos passando algumas áreas para eles. Isso tem que ser feito, porque é muito difícil trabalhar lá. Proporcionar segurança lá dentro é complicado. Precisa ter um período de adaptação. Nós mesmos já tivemos três tropas lá e a troca não é feita em um dia. Primeiro, vêm os oficiais que acompanham o trabalho nas áreas que terá de patrulhar, depois vêm os sargentos e fazem a mesma coisa, reconhecem a área e, quando vem a tropa, a troca se dá em torno de três dias.

R7 – Recentemente, o governo do Estado anunciou a ocupação da Mangueira. O Exército estará lá?

Adriano Pereira Júnior – Até o momento, não há nenhuma solicitação do governo ou conversa em relação à Mangueira, principalmente para ficar lá ocupando. Hoje, o Comando Militar do Leste não teria tropa para colocar lá. Teria que vir tropa de fora. Nós estamos em pleno mês de preparação para os Jogos Mundiais Militares, que acontecem em julho. Eu tenho que fazer a segurança dos jogos. É um evento maior do que o Pan-Americano. Para você ter uma ideia, a tropa que está no Alemão e na Penha é uma tropa de São Paulo, porque eu tive que liberar as minhas brigadas para atuar nos jogos.

R7 – Como é a relação dos militares com a população?

Adriano Pereira Júnior – Uma das dificuldades é a geografia da área, uma imensidão repleta de becos e vielas. Falta um plano urbanístico. Tem áreas que são de difícil acesso. A outra dificuldade é a pacificação. A pacificação não pode ser só segurança. Ela tem que levar também a uma mudança de atitude da população. Hoje nós estamos conseguindo transmitir para aquela população o sentimento de segurança e presença do Estado. Nós já estamos atendendo casos, por exemplo, de briga entre marido e mulher. Hoje, a população tem a quem recorrer. Ali, essa pacificação vai levar um tempo. Nós temos uma parte da população que colabora muito conosco, que já se sente segura.

R7 – O que está sendo feito para melhorar essa relação?

Adriano Pereira Júnior – Na próxima semana, nós estamos planejando uma ação lá, com uma tropa desarmada. É uma tropa de comunicadores sociais. Vamos aplicar pessoal da minha 5ª Seção e mais policiais cedidos pela Secretaria de Segurança. E vamos fazer um esforço de comunicação, ou seja, vamos andar pelas ruas, conversar com as pessoas, saber dos problemas. Esse serviço vai além de ter um escritório lá dentro. Nós queremos dar um ombro, entrar na casa, chegar, conversar. Já temos um planejamento de visita às escolas, palestra nas escolas, temos uma cartilha feita por especialistas nossos, aprovada por toda a rede de educação da área. Essa é uma cartilha que faz o inverso da apologia ao crime. É um trabalho longo, que o Exército não vai fazer, mas temos que começar a fazer.

R7 – Qual é a importância dessa ocupação?

Adriano Pereira Júnior – O Alemão foi um símbolo, uma coisa que uniu todo mundo numa luta que já tinha começado há muito tempo. Por lá ser o QG da maldade, houve uma motivação da sociedade. Foi uma vitória.

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