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Defesa Antiaérea – Uma necessidade para a tropa blindada


Maj Art Alexandre Furrer,
Instrutor do Centro de Instrução de Blindados (CIBld)

Cap Art Fabrício Flores,
Centro de Instrução de Blindados (CIBld)

O crescimento da economia brasileira face à presente crise mundial trouxe a necessidade de um reaparelhamento substancial das Forças Armadas, a fim de assegurar e proteger as bases deste crescimento.

Dentro deste contexto, surge o Projeto Leopard, com o objetivo de proporcionar às Brigadas Blindadas maior poder de combate, através da aquisição de carros de combate Leopard 1A5, sendo estes considerados bem mais moderno que seus antecessores, os CC Leopard 1A1, e com plenas capacidades em realizar operações continuadas, devido a seu sistema de visão termal passiva, dentre outros sistemas que proporcionaram uma melhoria significativa, aumentando o poder de combate destas tropas.

A maior contribuição que o Projeto Leopard trouxe para o Exército Brasileiro, no entanto, foi o aporte tecnológico e logístico, responsável por uma mudança de paradigmas, através de uso de simuladores para operação de seus diversos sistemas, adaptando a Força para os novos tempos.

Dentro do contexto da Doutrina Delta, onde o combate moderno tende a ser assimétrico, dinâmico, pelo uso de manobras altamente móveis e com largo emprego de aeronaves, avulta de importância a aquisição pelo Exército Brasileiro de um sistema de armas capaz de prover a defesa antiaérea das Brigadas Blindadas, haja vista que a tropa blindada é altamente vulnerável a ataques aéreos.

Para isso, necessita-se de um meio capaz de realizar a defesa antiaérea a baixa altura e que tenha a mesma mobilidade da tropa a qual está apoiando. Dentro das características desejadas, o Carro Antiaéreo GEPARD torna-se uma excelente opção.
 
2.  O CARRO ANTIAÉREO GEPARD

O carro Gepard foi desenvolvido pela Krauss-Maffei Wegmann na década de 70 e 80 com o objetivo de proteger forças blindadas de ataques aéreos, desencadeados por helicópteros de ataque, os quais consistiam em uma das principais ameaças a blindados, dentro do cenário europeu da Guerra Fria.

Trata-se de um carro dotado de dois canhões antiaéreos Oerlikon de 35mm, operando em conjunto com radares de aquisição de alvo e direção de tiro em uma torre de giro estabilizada montada sobre o chassi do Leopard 1.

Recentemente os Gepard 1A2 do Exército Alemão foram submetidos a uma ampla modernização contratada pela administração federal alemã, pois havia a intenção de se manter este sistema em operação até 2025.

Mudanças estruturais e doutrinárias, no entanto, fizeram com que o Exército Alemão desativasse esse sistema, pois no atual contexto em que a Alemanha se encontra, formando um único bloco de defesa europeu, segundo o qual o mesmo só seria empregado com o estabelecimento de uma supremacia aérea a ser provida por EUA e Reino Unido, não haveria mais a necessidade de um material de defesa antiaérea de baixa altura, mantendo-se apenas o emprego de mísseis terra-ar de média altura e jatos interceptadores.

Na modernização realizada,foi feita a substituição do antigo sistema de direção de tiro analógico por um digital, assim como melhorias nos sensores de velocidade inicial do projétil, para que se adaptassem aos novos tipos de munição, além da integração dos Gepard ao sistema de comando e controle de defesa antiaérea, apenas como alguns exemplos de alterações introduzidas no sistema.

A introdução do sistema de direção de tiro digital possibilitou a adaptação do Gepard às novas ameaças resultantes das novas capacidades das aeronaves e procedimentos de ataque, apenas através de modificação de software.

Quanto ao tipo de munição, o Gepard pode utilizar desde munições autoexplosivas incendiárias até granadas movidas por energia cinética com deflagração de balins após penetração em blindagens, o que capacita o presente material a realizar disparos em diversos tipos de alvos, sejam aéreos ou até mesmo terrestres.

Além disto, as viaturas são adaptáveis ao uso simultâneo de mísseis terra-ar acoplados à torre, como o Stinger, o SA7 GrailStrella 2, o Mistral ou o próprio Igla (míssil empregado pelos Grupos de Artilharia Antiaérea do Exército Brasileiro), o que proporciona um recobrimento de sistemas de armas, característica tida como ideal pela atual doutrina de emprego da Artilharia Antiaérea, pois desta forma, as vulnerabilidades de um sistema pode ser recoberta pelas possibilidades do outro.

O sistema de direção de tiro do Gepard consiste de um conjunto de radares de aquisição de alvos e direção de tiro com possibilidade de aplicação de um sistema IFF (identification friend or foe) no atual padrão OTAN Mark XII. Este sistema pode, ainda, ser complementado por um radar de vigilância, como no caso do brasileiro SABER M-60.

Todo o sistema de armas e direção de tiro do Gepard pode ser remotamente controlado a partir de uma sala de controle que ofereça maior proteção a seus controladores, no caso de uma proteção de ponto sensível de zona de interior, mas é na proteção de tropas blindadas que este armamento se destaca.

Quanto a sistemas optrônicos, possui um telêmetro laser e pode ser dotado de um sistema de visão termal, o que capacita a guarnição a operar durante a noite.
 
3. A  POSSÍVEL AQUISIÇÃO DO CARRO ANTIAÉREO GEPARD PELO EXÉRCITO BRASILEIRO
 
Levando em consideração as características elencadas acima, entendemos que uma eventual aquisição do material Gepard significaria um aporte substancial às tropas blindadas de uma Força Terrestre, levando-se em conta, principalmente, um Teatro de Operações situado no Hemisfério Sul, proporcionando efetiva proteção contra ameaças aéreas.

Na situação atual vivenciada pelo Exército Brasileiro, por exemplo,a única Bia AAAe hoje existente, orgânica de uma brigada blindada – a 6ª Bia AAAe, não dispõe de nenhum meio capaz de realizar a defesa antiaérea dos órgãos desta brigada, uma vez que é dotada de canhões Bofors 40/L60, os quais são considerados obsoletos por serem totalmente manuais, desprovidos de qualquer dispositivo de detecção de alvos.

Além disso, os mesmos não oferecem proteção blindada à guarnição e não possuem mobilidade adequada para acompanhar uma tropa que se estrutura em chassis sobre lagartas por serem autorrebocados sobre rodas. Cogitou-se dotar esta bateria, de mísseis 9K38 IGLA, porém ainda que suas unidades de tiro fossem embarcadas em VBTP M113-B, estas não ofereceriam proteção à sua guarnição durante o tiro, fator que poderia inviabilizar uma defesa antiaérea no contexto de uma operação em que um força-tarefa blindada fosse empregada.

Seria de suma importância que, numa visão de futuro, se planejasse a aquisição de mísseis terra-ar a serem adaptados à torre dos referidos carros, a fim de garantir a efetividade do sistema defesa antiaérea a baixa altura de tropas blindadas. Como já é sabido, a KMW realizou testes de adaptação desse tipo de armamento ao Gepard sendo viável a aplicação da combinação de armas antiaéreas, um dos fundamentos da atual doutrina de defesa antiaérea.

Esta integração canhão-míssil se faz necessária visando enfrentar os avanços tecnológicos das aeronaves e armamentos de ataque ao solo, particularmente asdotadas de mísseis anticarro guiados a laser ou infravermelho. Numa defesa integrada canhão-míssil, o emprego de um sistema de armas está calcado nas vulnerabilidades do outro, pois enquanto que o canhão assegura a proteção aproximada da tropa, o míssil proporciona uma defesa mais afastada.

Neste ínterim, poderia ser buscada uma solução nacional, apoiada na experiência já obtida com mísseis guiados por atração passiva por infravermelho, aproveitando a facilidade que as peculiaridades deste sistema de guiamento oferece. Ou, ainda, realizar a adaptação do próprio 9k38 Igla, míssil existente no Brasil e amplamente utilizado pelo Exército Brasileiro.

Importa ressaltar também, que a Artilharia Antiaérea é um sistema e o mesmo só estaria realmente estruturado e capaz de proporcionar efetiva defesa antiaérea tanto a tropas, quanto a pontos sensíveis, através da aquisição de meios de defesa antiaérea de média altura, a fim de alvejar aeronaves que realizem ataques standoff, isto é, além do alcance do armamento de baixa altura.
 
 
4. OS TESTES EM FORMOSA: OPERAÇÃO “O SOL É O CZA III”
 
Em 20 de outubro de 2011, foi realizada a Operação “O Sol é o CZA III” no Campo de Instrução de Formosa, fruto de uma RFI (Request for Information) emitida pela Diretoria de Material de Exército, com a finalidade de estruturar o Macroprojeto Defesa Antiaérea. Este macroprojeto tem vistas a atender às exigências da Estratégia Nacional de Defesa.

Durante a Operação foi realizado um teste do material Gepard, o qual foi precedido por tiros de Mísseis IGLA-S e do Canhão 40mm Bofors. Ao longo do teste, as características do chassi comprovaram em movimento as qualidades já conhecidas dos carros Leopard 1, como a alta mobilidade, boa velocidade e baixo impacto de seu peso no terreno.

Naquela ocasião ficou comprovada a necessidade de se manter um sistema de armas dotado de canhões, pois enquanto os mísseis Igla não tiveram acertos em suas trajetórias, possivelmente influenciados pelo tempo nublado, com teto baixo, intensa umidade e vento, os disparos dos canhões 35mm do sistema Gepard obtiveram êxito ao impactar diversos alvos aéreos tipo Eclipse do Exército Brasileiro.

Foi levantada pela mídia recentemente, fruto dos testes realizados em formosa, a questão da devolução dos Gepard testados no Chile em 2008, após alguns meses de avaliação. É importante observar que naquela ocasião foram oferecidos ao Chile, por iniciativa de uma empresa chilena (FAMAE) e outra espanhola (DESA), modelos não modernizados do Gepard provenientes da Bélgica, afinal em 2008 os modelos modernizados ainda eram dotação do Exército Alemão, o qual planejava permanecer com os mesmos até 2025.

A tentativa de modernização dos Gepard por essas empresas fracassou em virtude da falta de conhecimento adequado do sistema, pois optaram por não contar com o apoio da KMW, empresa proprietária do mesmo.
 
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
Sem sombra de dúvidas, o Carro Antiaéreo GEPARD seria uma boa opção para a defesa antiaérea da tropa blindada, capaz de realizar a defesa antiaérea a baixa altura e com  a mobilidade da tropa a qual está apoiando. A aquisição implicaria em inevitável evolução doutrinária para toda a Artilharia Antiaérea, e promoveria um salto qualitivo importante no preparo e emprego da Força Terrestre.
 
Neste sentido, além do aproveitamento de todo o aporte tecnológico e logístico já existente para dar suporte ao Projeto Leopard, seria mantida a mesma linha de pensamento, segundo a qual é muito menos dispendioso o treinamento das guarnições com o uso de simuladores do que pelo uso intensivo das viaturas, causando o desgaste prematuro das mesmas.

Cabe ressaltar, por fim, que não se exclui deste contexto um sistema de defesa antiaérea de média altura, que proporcionaria uma efetiva proteção não só ao Teatro de Operações, como também à zona de interior, porém, para isto, deve ser adotado um sistema complementar ao qual este estudo não pretende se ater.

DefesaNet

Video da demonstração do Gepard no Campo de testes de Formosa em 2011 Link

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