Fernando Torres e Cláudia Schüffner
De São Paulo
A destruição de valor causada pelo investimento em Petrobras superou US$ 300 bilhões nos últimos quatro anos, de acordo com atualização de estudo da Associação de Investidores do Mercado de Capitais (AMEC) ao qual o Valor teve acesso.
O cálculo toma como base 31 de agosto de 2008, quando o formato da capitalização da empresa foi anunciado, prevendo que, em vez de colocar dinheiro, o governo entraria indiretamente com 5 bilhões de barris de petróleo para aumentar o capital da companhia.
A conta feita pela AMEC considera tanto a queda no valor de mercado da empresa como também quanto os acionistas da Petrobras ganhariam se, na data daquele anúncio, tivessem vendido a totalidade da participação na companhia, que na época valia US$ 162 bilhões, e investido a quantia em um fundo setorial de empresas globais de petróleo. Os papéis da empresa caíram 62% desde então, enquanto o fundo teve valorização de 73%.
O mesmo raciocínio é usado para as novas ações vendidas na data da capitalização, em 27 de setembro de 2010, no valor de US$ 70 bilhões. Ou seja, quanto os investidores perderam por participar da oferta, já que as ações acumularam baixa de 59% até o início deste mês, ao mesmo tempo em que deixaram de ganhar porque não decidiram, na mesma data, fazer uma aplicação alternativa no fundo setorial, que ganhou 57%.
Segundo o estudo, a perda nominal de valor com as ações existentes na época do anúncio da capitalização foi de US$ 101 bilhões, enquanto o custo de oportunidade pelo não investimento alternativo somou US$ 119 bilhões. Já em relação às ações compradas na oferta pública, a desvalorização nominal foi de US$ 42 bilhões, enquanto o ganho potencial de um investimento em fundo setorial seria de US$ 40 bilhões em igual período.
A soma dos quatro valores resulta no montante de US$ 302 bilhões de destruição de valor.
A conta usou como referência o fundo setorial Energy Select Sector, conhecido pela sigla XLE, que tem na carteira grandes empresas do setor, como Exxon, Chevron, Schlumberger, entre outras.
Consultada pela reportagem, a associação, que reúne gestoras de recursos, informou "se tratar de um texto técnico para discussão interna, e não uma manifestação oficial da entidade".
A Petrobras não se manifestou.
Embora o estudo não mencione os motivos da perda de valor, sabe-se que as ações da estatal sofreram por uma combinação de necessidade de investimento muito acima da geração de caixa, pela diluição dos acionistas como resultado da capitalização e também pela persistente defasagem nos preços de combustíveis.
E se não bastasse o efeito do câmbio para aumentar essa diferença, o que parece ser o início de uma escalada no preço do petróleo diante da ameaça de uma invasão americana na Síria aumenta as perdas da estatal com a importação de derivados.
O Brent, usado como referência pela Petrobras, subiu 2% ontem, para US$ 116,61 por barril, o maior preço desde fevereiro.
Já com esse efeito na conta, o Centro Brasileiro de Infraestrutura calcula que a defasagem dos preços da gasolina já chegou 32% e do diesel, em 31%. Em seu plano de negócios, a Petrobras trabalha com barril a US$ 107 e dólar a R$ 2.