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Voo – Parte 3 – Um envelope com o “selo” da manobrabilidade

por Vianney Jr.


O F/A-18E/F não é o que se pode chamar de “challenging task” para um piloto, no que se refere a sua pilotagem. Dois FCCs, FCC A e FCC B (flight control computers) provêem os cálculos necessários a implementar os controles acionados pelo piloto, sob as leis estabelecidas pelo envelope de voo do caça, o que impossibilita mesmo inadvertidamente, levar-se o Super Hornet a uma condição de perda de controle, seja em condições de grande ângulo de ataque, baixas velocidades ou manobras abruptas. Ou seja, ao aplicar-se um comando, os computadores de controle de voo transmitem as ordens para a atuação das superfícies de controle, realizando equações algorítmicas constantes que alterando a resposta aerodinâmica da aeronave a mantém nas melhores condições de manobrabilidade e segurança do piloto, já que inclui até a proteção de situações em que ocorra o excesso de carga gravitacional (over-G).
 
Esta “habilidade” do “Vespão” deixa o piloto focado no ambiente de combate, no cumprimento da missão e no emprego das armas com a precisão necessária a atingir plenamente os objetivos sem riscos de danos colaterais. O F/A-18E/F tem, graças a esse tipo de sistema de controle de voo, assegurada a sua facilidade em executar manobras mesmo carregado com tanques e munições externos, ainda que full-loaded.
 
Mas, será que tanta tecnologia “limitaria” a criatividade de um bom driver? Queríamos sentir até onde o Super Hornet poderia ir, e se, voaríamos uma aeronave com performance engessada por tais computadores.
 
Primeiramente nos aquecemos com curvas sustentadas para lados alternados, entre 4 e 6 G (quatro a seis vezes a força da gravidade – eu que peso 65 kg, só no aquecimento “engordei” para entre 260 a 390 kg), para em seguida ver do que este pássaro era capaz.
 
Slow flight / High AoA/ Turbo Nose-Down Mode
 
A 15.000 pés desaceleramos para 105 kt (194 km/h) e mantemos a aeronave perfeitamente manobrável com 30º AoA (ângulo de ataque), e com mais 50 kt executamos um tunô (Tunneaux) de 360º. Esta capacidade de grandes ângulos de ataque combinados com a capacidade de controle a baixa velocidade são bem interessantes para certas situações de combate a curta distância (dogfight) e podem, se bem aproveitados, fazer grande diferença.
 
Mais uma vez a combinação de sistemas nos dá a real sensação de voar um “5ª geração” onde o que há de mais próximo ao estado-da-arte, porém com efetiva funcionalidade e razoabilidade de custo, está incorporado ao caça. Os FCC combinados aos FADEC (Full Authority Digital Electronic Controller) de cada F414-GE-400, permitem uma operação plena da aerodinâmica da aeronave sem restrições de regime de potência mantendo otimizada a performance dos motores em qualquer situação do envelope de voo. Aceleramos repetidas vezes do idle à plena pós-combustão e retornamos à marcha lenta sem qualquer reserva ou risco de comprometimento da resposta ou da integridade das turbinas.
 
A aceleração e sangria da velocidade também se dão de forma extremamente rápida, sendo que sequer percebi a necessidade do uso dos speedbrakes, nem mesmo nas manobras com alto G, pois o Super Hornet utiliza uma espécie de speedbrake virtual, uma “mágica digital” tirada da cartola pelo emprego balanceado de superfícies de controle de voo opostas, gerando arrasto sem, contudo provocar perda do domínio da aeronave, nem mesmo alteração do pitch, elevação do nariz, algo bem comum quando do emprego do freio aerodinâmico convencional, em outros caças.
 
Nas retomadas o pitch rate, razão de variação do nariz em torno do eixo lateral, do Super Hornet oferece mais uma vantagem em um dogfight, pois, se vale de uma capacidade especial, que chamaremos de Turbo Nose-Down, para apontar a aeronave para baixo instantaneamente. Só para melhor demonstrar, acompanhe a manobra: Com o nariz 60º para cima, AoA de 50º, aplicamos o manche fundo a frente e de imediato, em apenas 2 segundos, já apontávamos para o solo.
 
A facilidade de nose-pointing do caça da Boeing é inegável. Praticamos isso bastante, mudando a posição para onde nosso F/A-18F apontava, com extrema rapidez, não importando se estávamos em alta ou baixa velocidade, em atitude de voo normal ou invertida e puxando Gs positivos ou negativos.
 
Pirouettes, Little Ric e dois “Cloud Dancers”
 
Rolls, yaws and pitchs”. Agora a melhor parte da diversão, digo, da avaliação, para quem gosta realmente de voar.
 
A Pirouette, ou manobra de pirueta em bom português, foi desenvolvida pela necessidade de pilotos de combate executarem uma reversão com grande ângulo de ataque (α) e baixa velocidade, que tinha basicamente como propósito a mesma função da clássica manobra Yo-Yo. Em um High Yo-Yo, o piloto comanda uma curva fechada, subindo e desacelerando, então rola 90 graus e então completa 180 graus para reverter a direção, deixando o avião apontando para o alvo com uma vantagem de altitude.
 
Pusemos o “Vespão” a 30º de AoA e apenas 155 kt (287 km/h), numa puxada de 2G. Pisamos fundo aplicando todo o leme direito e manche no mesmo sentido, MIL PWR – potência máxima sem pós-combustão. O avião girou sobre o eixo vertical, diminuindo para 80 kt (148 km/h) no topo e voltando os controles para a posição neutro, o Super Hornet acelerou rapidamente para 215 kt (398 km/h) saindo da manobra.
 
Depois, uma sequência de Little Ric’s, manobra desenvolvida por um habilidoso piloto de teste, do programa do F/A-18, e que executamos, numa descrição sucinta, da seguinte maneira: na altitude de 10.000 pés com 400 kt (740 km/h) iniciamos um Immelmann (consiste na execução de meio Looping seguido de meio Tonneaux) com MIL PWR e comandamos uma Pirouette no topo a 10º de pitch invertido a 200 kt (370 km/h). Controles aliviados e de volta ao voo estabilizado. Prontos para começar tudo novamente.
 
Ainda provoquei Schmoopy (caso não saiba sobre este talentoso instrutor da SFWSL, vide matéria “Agora sim, o voo – Parte 1”) que mostrou algumas variações que ele costumava treinar e que por vezes deixou colegas de TOPGUN com cara de poucos amigos, após ele virar a mesa nos treinamentos de dogfight do programa SFTI – United States Navy Strike Fighter Tactics Instructor no Naval Strike and Air Warfare Center em NAS Fallon, Nevada. “Speed and angels”, meu amigo, Schmoopy!!!
 
Ao desfazermos as últimas piruetas nos vimos numa espécie de túnel (“tubo”, como queira algum leitor praticante do surf) desenhado por belas formações de nuvens cumulus, o que nos inspirou a um voo acrobático literalmente dentro desta bela moldura da natureza. Lembrei de um filme antigo e brinquei com Schmoopy: “Hey buddy, we’re cloud dancers!”.
 
Para entrar nestas manobras junte-se a nós dentro do cockpit do F/A-18F Super Hornet. Neste caso, suponho que além de ler você gostaria de ver como são realizadas de dentro do caça, sendo assim, acompanhem os vídeos publicados na DNTV como complemento audiovisual de nossas matérias, com uso de imagens produzidas em conjunto pela US Navy e a agência DefesaNet.

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