Com 54,3% dos votos, os eleitores suíços disseram “não” à compra dos caças Gripen, estimada em 3,5 bilhões de dólares, no referendo deste domingo, 18 de maio. Com essa rejeição, o desenvolvimento do avião, e seu consequente custo e risco, recaem unicamente sobre a fabricante SAAB e seu, agora, único comprador, Brasil.
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O editor
por Vianney Júnior
Analista de Defesa e Aeroespaço /
Editor-chefe de Avaliação de Aeronaves
Os eleitores suíços votaram contra a aquisição de 22 caças Gripen E, os mesmos caças escolhidos no F-X2 do Brasil (aqui denominado Gripen NG). A verdade é, que a grande maioria não se posicionou contra o caça da fabricante sueca SAAB, mas sim, contra a aquisição de um novo avião de combate, por si só. A argumentação de que o país mantém por longo período sua neutralidade, e mais de 200 anos sem envolvimento em guerras ou conflitos, e a priorização de questões relacionadas com emprego, renda e seguridade social, parecem ter sido os fatores principais que conduziram ao “não”. Pelas leis daquele país, é possível que com um determinado número de assinaturas, os contribuintes exijam a realização de referendo, para que tomem a decisão final sobre questões de interesse nacional, por meio do voto.
A manifestação dos eleitores suíços, rechaçando os investimentos no Gripen, não pode ser analisada como uma vitória da democracia, mas sim, um sinal dos tempos e uma clara demonstração do exercício do quarto poder. A informação superficial acerca de questões de defesa pode contribuir para o surgimento de sofismas. Duas verdades, no entanto, emergem no caso da Suíça. A primeira, a clara fragilidade atual na defesa de seu espaço aéreo, escancarada em recente episódio em que um Boeing 767 da Ethiopian Airlines, sequestrado por seu copiloto, foi desviado e pousou em território suíço sem ser incomodado ou interceptado pela Força Aérea Suíça. A segunda, a Suíça pode postergar, mas não fugir, da realidade do envelhecimento de sua frota, com data marcada para dar baixa.
Quanto ao Brasil? Ficou com a conta. O desenvolvimento do novo Gripen, E ou NG (tanto faz, é a mesma coisa), tem agora dois únicos players. A fabricante sueca, SAAB, e o Brasil. Na delicada “equação de mercado” – o item mais poderoso quanto à avaliação de um caça na atualidade – isto representa tanto uma ameaça, como uma oportunidade. Um operador (leia-se, comprador) a menos, representa uma linha de produção mais cara, e um ciclo de vida com maiores restrições. Por outro lado, como único parceiro da SAAB neste estágio crucial de desenvolvimento do Gripen, o Brasil pode fazer valer mais ainda sua importância decisiva. Lembremos que para além dos 36 caças previstos no contrato a ser assinado em dezembro, a necessária reposição completa da frota brasileira, 120 caças, supera de longe os pedidos da própria Força Aérea da Suécia, 60 aeronaves.
Além de impor interesses brasileiros no projeto, aprofundando ainda mais questões de propriedade intelectual sobre o novo caça, a Força Aérea Brasileira pode avançar nas contrapartidas comerciais estratégicas. A Suécia estuda a reposição de suas aeronaves de treinamento e de seus aviões de transporte militar. Até ontem, falava em comprar o Pilatus PC-21 suíço, concorrente do nosso Super Tucano da Embraer, para substituir seus treinadores, e em recente declaração, o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea da Suécia, Major-General Micael Bydén, disse preferir o C-130 Hércules da americana Lockheed Martin, ao brasileiro KC-390.
Bem, a situação está posta. Se puseram uns limões a mais na conta do Brasil, que se aproveite para fazer uma boa limonada!
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