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Ensaio sobre a eficácia de Programas F-X para Forças Aéreas de Países Emergentes

 

—————————– versão resumida exclusiva para DefesaNet —————————–


por Vianney Jr
Analista de Defesa e Aeroespaço
Editor de Avaliação de Aeronaves

 
 
Abstract:
 
Background: Forças Aéreas de Países Emergentes, em um cenário comum de crescentes restrições orçamentárias, têm que lidar com o desafio de manterem-se eficazes em uma era de constantes inovações tecnológicas que podem trazer vantagem em combate e ao mesmo tempo propiciar a racionalização do emprego e da manutenção, o que implica em redução de custos e em otimização de resultados.
 
Resultados: As pesquisas de intenções de investimentos da indústria militar e as demandas de diferentes Forças Aéreas fornecem uma projeção para os próximos 20 anos e suscitam as principais relações postas na balança pelas competições F-X de países emergentes.
 
Conclusões: Uma visão atualizada à realidade das vantagens táticas e estratégicas da implantação de novas tecnologias nas Forças Aéreas sob a ótica da relação de custo-benefício, a absorção e implantação de conhecimentos nas respectivas indústrias nacionais, e o compromisso com a continuidade do processo de modernização e preservação da vantagem dissuasória.
 
© 2013 Vianney Jr.; licensee DefesaNet Agência de Notícias Ltda. Este é um artigo de acesso aberto: a cópia e redistribuição deste artigo são permitidas em todos os meios para qualquer finalidade, desde que esta nota seja preservada, juntamente com a URL original do artigo.
 
Por meio de certames para a seleção de caças, alguns países mantêm na atualidade programas que visam a modernização de seus vetores de combate de primeira linha. Entre as vertentes de discussão levantadas, algumas importantes relações são consideradas, especialmente pelo grau de influência que podem exercer sobre os fatores de decisão nos processos F-X. Tais relações são particularmente complexas, quando medidas em função das limitações de recursos e pressões político-sociais comuns em países emergentes¹.
 
Tecnologia de Ponta X Transferência de Tecnologia

 
Esta relação põe em contraponto duas lógicas estratégicas antagônicas. Quanto mais avançada a tecnologia disponível, menor a predisposição de compartilha-la, em termos de engenharia, design e produção, pelo preço que seja. Daí, a velha queda de braço pelos famosos (e pouco entendidos) códigos fontes². Logo, percebendo-se este conflito de interesses, deduz-se que a questão “tecnologia” tem que ser vista sob um olhar temporal. Aparentemente dicotomizado no termo imediato, mas, compatível e complementar no longo prazo: Qual a tecnologia que o país em questão precisa para exercer a projeção de poder compatível com sua pretensa atuação regional e global; e, qual a tecnologia que o país em questão gostaria de dominar consideradas as realidades de capacidade de absorção atual de sua indústria nacional, e como também, de mercado. (…)
 
Preço de Aquisição X Custo de Operação
 
Um popular para sete dias na semana ou uma Ferrari para um passeio aos domingos na orla? Por incrível que pareça, a já presente escassez de recursos conduz a esta simplória analogia que é síntese da preocupação de operadores que vivenciam a realidade de constantes reduções de horas de voo em nível de esquadrão. Tanto embora o receio seja autêntico, a simploriedade da “metáfora”, não é compatível com a gravidade da matéria, Defesa Nacional. O investimento em Defesa deve guardar não só a visão militar compatível à defesa da soberania territorial, mas também a projeção de poder necessária à imposição dos interesses do país em questão no âmbito do cenário mundial. (…)
 
Condensação de Missões X Ganhos Doutrinários
 
Em nada adiantaria a simples troca de aviões de combate. A organização tem que ser uma entidade viva. A organização que aprende. E mais que isso, que se reinventa. A condensação de múltiplas missões por um vetor ‘Multirole’ padrão deve significar muito mais que um simples acúmulo de tarefas. Ela oferece a oportunidade de um salto qualitativo profissional. E vai bem além do nível do esquadrão. Uma das vantagens, se bem aproveitada, é a redução do tempo-resposta, e a agilidade no despacho de pacotes de missão. Toda a cadeia que alimenta a tomada de decisão, é impactada em um processo de reengenharia. Por consequência, a modernização física e organizacional da estrutura de C4ISTAR constitui a base para ganhos doutrinários sensíveis. (…)
 
Redução de Custos X Aumento da Eficiência Operacional
 
Mas então, a pergunta é: Como fazer mais com menos? “Eficiência” é a ordem do dia. Muito mais que um lugar comum, traduz-se pela qualidade operativa com uma menor footprint, reduzindo a dependência nas estruturas, e otimizando ciclos de processo, ao mesmo tempo em que maximiza a precisão, velocidade e disponibilidade na execução das missões. Esta “relação” ganha particular destaque, graças à “flexibilidade” proporcionada pelos modernos aviões de combate que hoje disputam contratos em competições F-X em diferentes países. (…)
 
O F-X ideal e a eficácia
 
Avaliando diferentes tendências, debatendo com diversas correntes em nível de comando de Forças Aéreas de alguns países, chegamos à conclusão de que, levados em conta a chegada de novas tecnologias, as previsões de investimentos da indústria militar e a realidade dos novos TO, o processo de decisão de um programa F-X focado em eficácia, em um cenário projetado médio de 20 anos, consideraria:
 
– Adoção de uma aeronave ‘Top-End’ que independentemente do grau de transferência de tecnologia, disponibilizasse uma vantagem dissuasória inquestionável, considerados a projeção de poder regional e o resguardo de áreas de interesse nacional ante especulações internacionais diversas e remotas. Como a transferência de tecnologia encontra neste caso maiores limitações, é lícito lembrar que a diplomacia mais do que sempre, caminhará pari passu ao emprego de tais armas, quando os interesses em contenda envolverem países desenvolvedores destes vetores de combate. De toda sorte, é inconteste que o simples convívio com as mais avançadas tecnologias serviriam, na pior das hipóteses, de estímulo à inventividade e criatividade dos profissionais de países que as operem.
 
– Criação de uma espinha dorsal, que substitua diferentes tipos de aeronaves de combate por um ‘Multirole’ padrão, apto a cumprir todas as funções atualmente desempenhadas por aviões específicos (interceptação, superioridade aérea, caça, ataque / ataque marítimo, reconhecimento, interdição, apoio aéreo aproximado, supressão de defesas inimigas, guerra eletrônica), inclusive executar missões combinadas (swing-role), e complexas, como penetração sobre capacidades A2/AD (Anti-Access/Area-Denial), operar conjuntamente com UCAVs (cuja velocidade de desenvolvimento e predisposição de pesquisa e investimentos por parte da indústria militar é amplamente demonstrada nas projeções internacionais), e promover a adoção do conceito de cloud combat, ou, em nuvem. Especial atenção deve ser dada ao emprego de modelos bi postos, uma vez que dois tripulantes oferecem vantagem ao desempenhar o papel de FAC(A) – Forward Air Controller, uma função cada vez mais demandada e expandida em tempos de data links mais eficientes, UCAVs com maior espectro de missão, armamentos Standoff mais precisos, e interação de Forças multinacionais em ações conjuntas. Ideal também, que este ‘Multirole’ seja comutativo à operação embarcada, o que implicaria numa racionalização futura na formação de tripulações e especialistas em manutenção, como também na otimização de oficinas e estruturas compartilhadas entre Força Aérea e Marinha. Este mesmo ‘Multirole’ acumularia a mais extensa responsabilidade pelas exigências de transferência de tecnologia, sendo o vetor de absorção e incorporação de novos conhecimentos à indústria nacional do país adquirente.
 
– Qualquer decisão de um F-X presente tem por responsabilidade desencadear, de pronto, o lançamento de um F-X futuro, uma vez que a velocidade das transformações tecnológicas impõem um desafio real à manutenção da capacidade dissuasória estabelecida, e a cada vez mais exígua quantidade de aviões empregados, necessita fazer frente aos desafios crescentes que a eles se apresentam.
 
(¹) No caso do Brasil, esta questão é sensível, especialmente pelo baixo nivelamento da informação, o que tende a relegar as questões de Defesa Nacional a um segundo plano, e a tendência à prática de política populista demonstra-se relutante em assumir responsabilidades de Estado que não diretamente reflitam retorno eleitoral.
 
(²) Códigos Fontes são o conjunto de instruções em linguagem de programação que após serem compiladas transformam-se em software, ou seja, programas executáveis que controlam os sistemas de voo e de missão da aeronave, e os sistemas de mira, guiamento e detonação dos armamentos a ela integrados.

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