ROBERTO GODOY
A IVECO Veículos de Defesa, coligada do grupo FIAT, vai levar para o mercado internacional o novo blindado brasileiro Guarani, veículo padrão do Exército que pretende desenvolver dez diferentes configurações a partir da versão básica. O primeiro cliente externo será a Argentina, que finaliza um pedido de 14 unidades.
O diretor-geral da empresa, o engenheiro Paolo Del Noce, identifica outras "boas possibilidades" de negócios no Chile, Colômbia e Equador – os três países lançaram programas para a substituição de suas frotas.
O Exército brasileiro vai receber 2.044 blindados até 2029, em grupos de 100 unidades por ano. O valor total da encomenda bate em R$ 6 bilhões – cerca de R$ 2,9 milhões cada. A linha de montagem da IVECO Defesa fica em Sete Lagoas, a 70 quilômetros de Belo Horizonte. A compra do lote inicial de 86 unidades foi formalizada pelo governo no dia 7 de agosto. Parte da fatura de R$ 240 milhões cairá na conta do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) – Equipamentos,
Na sexta-feira, em Brasília, durante o desfile oficial da Independência, o blindado Guarani participou pela primeira vez da solenidade, apresentado com a Torreta não tripulada israelense UT-30/Br, equipada com canhão de 30 mm.(Nota DefesaNet – Também desfilou a versão com Torreta ARES com metralhadora.50)
Organizações como o Centro de Estudos Estratégicos e de Defesa da Universidade de Georgetown sustentam que a demanda mundial, exceto Estados Unidos e Rússia, para blindados médios, será de 20 mil veículos encomendados até 2020 ou 2022. Pelo valor médio, estarão em discussão recursos da ordem de US$ 30 bilhões, ou cerca de R$ 60 bilhões.
Paolo Del Noce acredita que o produto brasileiro possa entrar nessa disputa. "Trata-se de um veículo com potencial de gerar interesse no mercado mundial". Embora o Guarani seja propriedade intelectual conjunta do Exército e da Iveco, Paolo acredita que poderá atender as necessidades da Marinha para equipar os Fuzileiros Navais. "Nosso modelo é anfíbio para aplicações fluviais, todavia podemos adequá-lo ao emprego no mar", disse.
A tropa naval emprega, nessa classe, o Piranha IIIC, do grupo suíço MOWAG, de 9,5 toneladas, tração 8×8 e capacidade para transporte de 12 soldados. Os 30 Piranha dos fuzileiros – 18 deles já recebidos – custaram aproximadamente US$ 63 milhões. O batismo de fogo ocorreu em 2007, no Haiti, em operação do batalhão brasileiro que lidera a Força de Estabilização do país.
Investimento. A FIAT-IVECO inaugura até dezembro a fábrica dedicada aos produtos de defesa, dentro do complexo de Sete Lagoas. O investimento, segundo Del Noce, é de R$ 55 milhões. "Quando as linhas de produção estiverem atuando a plena capacidade, o número de fornecedores imediatos será superior a 110, e os indiretos serão mais de 600", sustenta. O índice de participação dos componentes nacionais é de 60% no Guarani.
O programa não é a única iniciativa da Defesa no setor. Enquanto prosseguem os testes de operação do blindado, o Exército cuida da revitalização tecnológica de 150 outros, os melhores entre os 584 M-113Br que a Força relaciona como em condições de uso. O procedimento será executado pela BAE Systems, inglesa. Um processo semelhante deverá envolver 409 Cascavel com canhão de 90 mm, e os 213 anfíbios Urutu, o 'avô' do novo carro.
O Guarani é, a rigor, uma Viatura Blindada de Transporte de Pessoal – Médio sobre Rodas, um VBTP-MR. Terá navegador GPS, sensores de detecção laser e sistema ótico de visão noturna.
Além da primária, para a condução de grupos de combate, haverá mais nove arranjos – de central de comando a até um poderoso lança-morteiros de 81 milímetros. As medidas básicas permitirão o embarque em cargueiros C-130 Hércules e KC-390, avião da Embraer adotado pela Aeronáutica. O antecessor, o Urutu, foi fabricado até meados dos anos 80 pela extinta Engesa S/A.
O velho couraçado, reconfigurado depois de mais de 30 anos, está sendo largamente empregado no Haiti – e não apenas pelos 1,2 mil homens da tropa brasileira envolvida na missão da ONU. O temido grupamento jordaniano, responsável por algumas das mais violentas operações cumpridas pelo contingente multinacional, utiliza o mesmo tipo.
Diariamente, relata um oficial, patrulhas armadas do Brasil percorrem as áreas de maior tensão na capital do Haiti, Porto Príncipe. Para cumprir a missão, os esquadrões de Urutu, cerca de 20 deles, sofreram por modificações. Os blindados ganharam uma pá dianteira de aço, do tipo buldôzer, para remover as barreiras de entulho com as quais os rebeldes bloqueiam o trânsito nas vielas dos bairros de alto risco. Por causa da aparência, o Urutu virou "la voiture moustache", o carro de bigodes.