A Brigada de Cavalaria Mecanizada: Proposta de Estrutura Organizacional (Parte I)

Maj Luciano Sandri de Vasconcelos

 

A BRIGADA DE CAVALARIA MECANIZADA

As Brigadas de Cavalaria Mecanizadas (Bda C Mec) foram criadas nos anos 70, em um cenário de conflito convencional, como uma força tática e logisticamente autônoma, capaz de operar isoladamente como uma força blindada leve (TRINDADE, 2013), mantendo a mesma constituição e quase que o mesmo material por décadas. (JUNIOR, 2013). Entretanto, estas unidades estão atualmente inseridas no processo de transformação do Exército Brasileiro (EB).

Segundo BRASIL (2000), a doutrina de emprego da Força Terrestre (F Ter) enfatiza como fatores decisivos para a vitória final: o espírito ofensivo, a importância da conquista e manutenção da iniciativa, a rapidez de concepção e de execução das operações, a iniciativa dos subordinados, a flexibilidade para alterar atitudes, missões e constituição das forças, a sincronização das ações no tempo, no espaço e na finalidade e a liderança e capacidade de decisão dos comandantes em todos escalões.

A estrutura da Cavalaria Mecanizada, embora criada no contexto do combate convencional, em função de suas características, organização e material de emprego militar, possui efetiva capacidade de conduzir Operações no Amplo Espectro.

Tal capacidade pode ser contextualizada ao visualizar-se uma Bda C Mec, operando em amplo espectro, empregando de forma simultânea um Regimento de Cavalaria Blindado (RCB) em ação ofensiva, um Regimento de Cavalaria Mecanizado (RCMec) em atitude defensiva, em economia de meios, e um outro regimento em missão de apoio a órgãos governamentais (TRINDADE, 2013).

MESQUITA (2013) aborda, em particular, as características da F Ter da Era do Conhecimento, relatando que a F Ter gera capacidades em seus elementos de emprego observando as características de Flexibilidade, Adaptabilidade, Modularidade, Elasticidade e Sustentabilidade, reunidas sobre o acrônimo FAMES. Pode-se observar a exemplificação deste no quadro abaixo:

Primeiramente, com relação à flexibilidade, a Bda C Mec atende a essa característica desde a menor fração, o Pelotão de Cavalaria Mecanizado (Pel C Mec), que possibilita ao Comandante do Esquadrão (Esqd) organizar pelotões provisórios de Exploradores, de Viaturas Blindadas de Reconhecimento, de Fuzileiros e de Morteiros.

Essa característica é verificada também no âmbito dos Regimentos (Rgt) e da Brigada. Além disso, a Bda C Mec possui um RCB. Essa fração permite poder de combate diferenciado e melhor mobilidade através campo. (MESQUITA, 2013)

No que diz respeito à adaptabilidade, essa característica está bastante relacionada à Flexibilidade, que permite a adaptação frente às novas ameaças. Entretanto, reside na capacidade do comandante o grande diferencial. O oficial e o sargento de cavalaria aprendem, desde a sua formação, a reorganizar as suas frações rapidamente adaptando-se ao caos do combate.

A modularidade torna-se explícita, pois a Bda C Mec pode receber qualquer outro tipo de elemento de combate. Além disso, a Flexibilidade no emprego dos seus meios garante o emprego de frações sob medida para cada situação (MESQUITA, 2013).

Ao referir-se à elasticidade, a Bda possui estruturas de comando e controle (C2) adequadas às suas missões e os seus Rgt, Esqd e Pelotões as possuem da mesma forma. O Batalhão Logístico (B Log) é dimensionado para apoiar frações sobre rodas e sobre lagartas. A elasticidade, a modularidade e a flexibilidade se completam em conceito e em característica.

Da mesma forma, a sustentabilidade impõe que todas as Bda devem ser organizadas de modo a atender a esta característica. A Bda CMec possui como característica especial o fato de apoiar um Regimento de Cavalaria Blindado, uma fração sobre lagartas (MESQUITA, 2013).

Face ao exposto acima, observa-se atualmente a extensa capacidade da Bda C Mec frente a estes conceitos modernos, tornando-a apta a ser uma referência operativa da F Ter no caso de uma reestruturação em suas estruturas organizacionais atuais.

Organização O EB possui, em sua composição estrutural, quatro Bda C Mec. Cada uma constitui uma Grande Unidade (GU) básica de combinação de armas, integrada em um conjunto equilibrado por unidade de combate, de apoio ao combate e de apoio logístico, com capacidade de atuar independentemente e de durar na ação (BRASIL, 2003).

A Brigada é, portanto, “uma organização, ao mesmo tempo, tática e logística” (BRASIL, 2000). De forma bastante peculiar, a Brigada de Cavalaria Mecanizada é a “Grande Unidade formada, basicamente, por regimentos de cavalaria mecanizados” cujas principais características são a grande mobilidade, a relativa proteção blindada e a potência de fogo (BRASIL, 2003).

A Bda C Mec é composta por seu Estado-Maior, Esquadrão de Comando, 02 Regimentos de Cavalaria Mecanizados, 01 Regimento de Cavalaria Blindado, 01 Grupo de Artilharia de Campanha 105 mm autopropulsado, 01 Bateria de Artilharia Antiaérea, 01 Companhia de Engenharia de Combate Mecanizada, 01 Companhia de Comunicações Mecanizada, 01 Batalhão Logístico Mecanizado e 01 Pelotão de Polícia do Exército (BRASIL, 2000).

De acordo com o atual C 2-30, a Bda C Mec é organizada conforme o organograma apresentado na tabela 1 abaixo: No que tange à organização atual das Bda C Mec, o relatório final do Simpósio da Brigada de Cavalaria Mecanizada no combate moderno (2013) concluiu que o modelo vigente é adequado, porém, algumas considerações devem ser feitas, com vistas a incrementar as possibilidades desta GU.

A ampliação das estruturas de inteligência militar de combate foi visualizada como uma necessidade premente, a fim de tornar a Bda C Mec mais apta a atuar no ambiente operacional moderno, em que crescem de importância as dimensões humana, informacional e física do campo de batalha.

Assim, visualiza-se a necessidade de uma “célula de Inteligência”, a ser operada no COT da Bda, com recursos humanos especializados, que deverão ser aptos a processar com eficiência e tempestividade as informações provenientes de todas as fontes.

A ampliação da estrutura de análise de alvos e processamento da execução dos fogos, consubstanciada em uma “célula de Apoio de Fogo”, também foi uma demanda visualizada. Essa célula atuaria em reforço às ações do Coordenador do Apoio de Fogo (Cmt GAC).

Tal necessidade surge do próprio advento da era do conhecimento, trazendo consigo a proliferação de novas tecnologias, como por exemplo, os Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas (SARP), os radares de Vigilância Terrestre e outras estruturas de sensoriamento remoto.

Esses novos meios imprimem uma velocidade muito maior nas atividades de reconhecimento, vigilância e aquisição de alvos (IRVA), fazendo com que a Bda necessite de uma equipe dotada de pessoal e material específicos para assessorar o Cmt Bda na difícil decisão de quando, como e com qual armamento deverão ser engajados os alvos assinalados em sua Zona de Ação ou até mesmo na sua Área de Interesse.

ANÁLISE DA ORGANIZAÇÃO TENDO COMO REFERÊNCIA A BASE DOUTRINÁRIA E O QUADRO DE CARGOS (QC) DA Bda C Mec

A seguir, serão comparados todos os elementos de combate, apoio ao combate e apoio logístico orgânicos da Bda C Mec, conforme a base doutrinária e o Quadro de Cargos, realizando algumas ilações referentes as suas organizações, de acordo com o relatório final do Simpósio da Brigada de Cavalaria Mecanizada no combate moderno (2013).

Primeiramente, em atenção ao previsto doutrinariamente, o Cmdo da Bda não possui nenhuma estrutura de inteligência mais especializada em busca e análise na sua 2ª Seção. O Esquadrão de Comando visa apoiar, em pessoal e em material, o comando da brigada e prover a sua segurança. Não há discordância entre a doutrina e o previsto em seu quadro de cargos.

O Regimento de Cavalaria Mecanizado (RC Mec) é a unidade tática de emprego da Bda nas missões de segurança e reconhecimento. Possui como organização sumária:

– Comando.

– Esquadrão de comando e apoio.

– 03 (três) esquadrões de cavalaria mecanizados.

Da análise procedida em seu QC e a base doutrinária depreende-se algumas discordâncias, como:

– existe a previsão, no Pelotão de Comando do Esquadrão de Comando e Apoio, do Grupo de Aeronaves Remotamente Pilotadas tanto com SARP categoria “1” organizado em 1 Turma e categoria “0” em 3 Turmas; e

– existe a previsão, no Pelotão de Comando do Esquadrão de Comando e Apoio, da Seção de Caçadores com 3 (três) Turmas de Caçadores.

No tocante à organização dos RC Mec, o relatório final do Simpósio de Bda C Mec no combate moderno de 2013, afirma que este não necessita ter sua organização alterada, porém algumas frações devem se adequar à modernização do emprego no ambiente contemporâneo.

Devem ser otimizadas as seguintes capacidades: capacidade de reconhecimento e vigilância, de ações anticarro, de observação e vigilância, de emprego de Caçadores e de adequação aos novos MEM para potencializar suas ações ofensivas e defensivas.

Com isso, alguns reflexos desse simpósio foram levados a cabo com a criação, no QC do RC Mec, das Frações acima especificadas. O Regimento de Cavalaria Blindado (RCB) constitui-se como elemento de choque que amplia a capacidade de combate da brigada e, consequentemente, suas possibilidades operacionais no cumprimento de missões de natureza ofensiva.

Diante disso, proporciona condições para o combate aproximado e para a manutenção do terreno conquistado. Apresenta como organização sumária:

– Comando.

– Esquadrão de comando e apoio.

– 02 esquadrões de carro de combate.

– 02 esquadrões de fuzileiros blindados.

Da análise procedida em seu QC e na base doutrinária, depreende-se algumas discordâncias, como:

– existe a previsão, no Pelotão de Comando do Esquadrão de Comando e Apoio, do Sistema de Aeronaves Remotamente Pilotadas, organizado em 1 Turma;

– existe a previsão de uma Seção de Vigilância Terrestre organizada em 2 Grupos de Vigilância Terrestre; e

– existe a previsão, no Pelotão de Comando do Esquadrão de Comando e Apoio, da Turma de Caçadores organizada em 2 Equipes de Caçadores.

No que diz respeito à organização do RCB, o relatório final do Simpósio de Bda C Mec no combate moderno de 2013, não verificou a necessidade de realizar alterações em sua organização.

Pelo contrário, foi levantado que a organização do RCB possui as melhores condições de atuar no cenário contemporâneo. Cabe, ainda, destacar que, em função de sua organização caracterizada pelas armas combinadas, o RCB está plenamente alinhado com as “Bases para Transformação da Doutrina Militar Terrestre, expedidas pelo EME. Entretanto, deverão ser incorporadas novas capacidades, tais como SARP, Observação e vigilância e caçadores.

O Grupo de artilharia de campanha tem por missão apoiar pelo fogo a Bda, em particular os seus elementos de manobra.

As 4 Bda C Mec existentes atualmente possuem seus GAC orgânicos assim constituídos:

– 1ª Bda C Mec (Santiago): GAC ternário dotado de material 105 M101 AR;

– 2ª Bda C Mec (Uruguaiana): GAC ternário dotado de material 105 M108 AP;

– 3ª Bda C Mec (Bagé): GAC ternário dotado de material 105 M101 AR; e

– 4ª Bda C Mec (Dourados): GAC ternário dotado de material 105 M101 AR.

Da análise efetuada em seu QC, não foram observadas dissonâncias com a base doutrinária. A atual organização do GAC orgânico apresenta deficiências, particularmente na estrutura logística, proveniente da supressão da Bateria de Serviços.

Assim, para melhor cumprir a sua missão, visualiza-se que a reativação da Bateria de Serviços devolverá ao Grupo sua capacidade logística, particularmente no tocante ao remuniciamento.

A discussão acerca da organização do GAC, sobre rodas ou sobre lagartas, infere o levantamento de vantagens e desvantagens para cada uma dessas plataformas a serem consideradas por ocasião do processo decisório para compra ou fabricação de obuseiros (Tabela 02).

A Bateria de artilharia antiaérea assegura a defesa antiaérea (D AAe) contra aviação a baixa altura na área de responsabilidade da brigada, normalmente integrada à defesa aeroespacial.

O posto de comando, as posições de artilharia, as instalações de apoio logístico e os pontos críticos devem ser considerados no estabelecimento desta defesa.

A Companhia de Engenharia de Combate Mecanizada tem como missão principal apoiar a mobilidade, a contramobilidade e contribuir para a proteção, caracterizando-se como um fator multiplicador do poder de combate da Bda.

Da análise de seu QC não foram observadas discordâncias com a doutrina vigente. Os principais desafios de MCP que diferenciam o apoio às Bda C Mec daquele prestado a outras GU são: a natureza mista dos meios orgânicos sobre rodas e sobre lagartas e a amplitude de desdobramento da brigada, em largura e profundidade. Considerando essas circunstâncias, as propostas abaixo visam otimizar o apoio de engenharia à Bda C Mec, não somente para a Engenharia desse escalão, mas também para a do escalão superior.

O recorrente debate a respeito do adequado dimensionamento da engenharia nas Bda C Mec (Cia Eng ou Batalhão de Engenharia) foi avaliado nos estudos.

Embora a Cia E Cmb Mec (3 Pel E Cmb + Pelotão de Engenharia de Apoio + Pelotão de Engenharia de Equipagem e Assalto) tenha capacidades limitadas, considerou-se que: – a composição ternária da Cia Eng permite o apoio simultâneo e com a dosagem básica (1 Pel E por Rgt) às peças de manobra da Bda; – a referida dosagem é suficiente para o adestramento da Bda;

– as possíveis deficiências em pessoal, principalmente quando o Elm apoiado se desdobra em larga frente, podem ser supridas com apoio suplementar de um Pel E oriundo de batalhões do Grupamento de Engenharia (Gpt Eng), sem o comprometimento dos laços táticos existentes;

– as deficiências em material podem ter a mesma solução, pois, via de regra, os equipamentos e materiais em apoio (portadas, pontes) são capacidades modulares que precisam apenas ser empregadas pelas frações apoiadas; e

– a referida modularidade também se observa quando o Gpt Eng assume trabalhos específicos de responsabilidade da Cia Eng Mec (apoio suplementar específico) ou de áreas na zona de ação desse escalão (apoio suplementar por área).

A alternativa de dotar a Bda C Mec com um Btl Eng poderia deixar muitas de suas capacidades ociosas, dependendo da missão ou do terreno. Esse excedente de meios prejudicaria a mobilidade da GU, aumentando a cauda logística e dificultando o remanejamento entre diferentes frentes.

Não foi desconsiderada a influência da combinação dos meios sobre rodas (SR) e sobre lagartas (SL) na composição dos meios da Bda C Mec. Essa peculiaridade impõe que haja meios SL na Cia Eng, a fim de acompanhar a mobilidade tática dos meios da mesma natureza. Cumpre destacar, entretanto, a constatação de que as velocidades médias das tropas sobre rodas na execução de suas missões táticas clássicas não são maiores do que a velocidade de deslocamento dos meios de apoio sobre lagartas.

Dessa forma, equipamentos de apoio SL podem ser empregados em apoio às tropas SR, sem comprometer a velocidade de progressão destas. Essa premissa também elimina a ideia de que a combinação de naturezas impõe a duplicação dos meios de apoio.

A Companhia de Comunicações Mecanizada (Cia Com Mec) atua para prover o apoio de comunicações à Bda, assegurando o pleno exercício do comando. Não foram observadas divergências entre o previsto em QC e a doutrina vigente.

A atual organização da Companhia de Comunicações de Brigada e dos Pelotões de Comunicações das Unidades orgânicas de uma Bda C Mec, com os meios que possui em material e pessoal, tem condições de apoiar as missões clássicas da Bda C Mec. Porém, com o advento das novas tecnologias e as necessidades do combate moderno, inicialmente, é necessária a atualização dos parâmetros que definem a configuração, extensão, composição e segurança do Sistema de Comunicações Tático da Brigada de Cavalaria Mecanizada como um todo.

Sugere-se que os parâmetros, basicamente, sejam definidos pelos fatores da decisão, com algumas adaptações para as necessidades de Comando e Controle.

Fato que merece destaque é a previsão de Turmas de Proteção Cibernética nos Pel Com, proporcionando uma capacidade nova à Cia Com e alinhada com a temática e importância atual do combate no espaço cibernético.

O Batalhão Logístico proporciona apoio logístico às Unidades e Subunidades orgânicas da Bda, tendo a seu cargo, inclusive, a evacuação do material salvado e capturado. Não foram observados desacordos entre o seu QC e a doutrina prevista para essa OM.

A organização atual dos B Log já contempla, no bojo de suas companhias, todas as funções logísticas que doutrinariamente deve desempenhar. Cabe ressaltar que, com a atual organização, os B Log não têm conseguido realizar a Mnt das viaturas blindadas sobre lagartas (SL) que, na prática, é feita nos RCB e nos Parques Regionais de Manutenção de maneira não doutrinária.

A chegada das viaturas blindadas de combate carro de combate (VBCCC) Leopard 1 A1 ratificou a realidade que já existia no tempo dos M41. Em consequência, os B Log das Bda C Mec, hoje, apoiam a manutenção (Mnt) de viaturas e blindados Sobre Rodas Urutu e Cascavel e, em casos muito específicos, a Mnt de viaturas SL de maneira limitada.

O Pelotão de Polícia do Exército propicia o apoio de polícia à Bda através de perícias, balizamento e controle de trânsito, escolta e guarda. Não foram observados desalinhamentos entre o seu QC e a doutrina prevista para esta OM.

CAPACIDADES MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO

De acordo com Rodrigues (2013), o conceito de capacidade, como forma de planejamento militar, nasceu, pela mão dos EUA, no final da década de 80, com o fim da Guerra Fria.

O objetivo era responder ao imperativo de substituir o planejamento baseado em uma ameaça, que era então muito específica, por um planejamento pensado para enfrentar o imprevisto e o desconhecido.

Portanto, baseado na definição de um dispositivo que deveria estar disponível para um conjunto diversificado de situações. Sob a ótica do manual de campanha Doutrina Militar Terrestre, o conceito de capacidade reveste-se na aptidão requerida a uma força ou organização militar, para que possa cumprir determinada missão ou tarefa.

É obtida a partir de um conjunto de sete fatores determinantes, inter- -relacionados e indissociáveis: Doutrina, Organização (e/ ou processos), Adestramento, Material, Educação, Pessoal e Infraestrutura – que formam o acrônimo DOAMEPI.

A capacidade militar é a essência da Defesa Nacional, devido ao seu poder de coerção e efeito dissuasório. O processo de transformação do Exército permite que haja ajuste às necessidades decorrentes das tarefas e missões que deverá executar nas próximas décadas.

Para isso, faz-se necessário mapear as novas capacidades requeridas, em um trabalho sustentado por uma doutrina efetiva. A partir do nível político são determinadas quais capacidades são requeridas à F Ter (as Capacidades Militares Terrestres) e, na sequência, são definidas quais Capacidades Operativas são necessárias às forças que serão empregadas – ou a cada Organização Militar – para que possam cumprir as tarefas e missões que lhes cabem (BRASIL, 2014).

O Catálogo de Capacidades do Exército apresenta as capacidades militares terrestres e operativas que visam a manutenção de um permanente estado de prontidão para o atendimento das demandas de segurança e defesa do país, contribuindo para a garantia da soberania nacional, dos poderes constitucionais, da lei e da ordem, salvaguardando os interesses nacionais e cooperando para o desenvolvimento e o bem estar social (BRASIL, 2015).

O foco central do estudo repousa na CMT 02 (superioridade no enfrentamento) que consiste na competência em cumprir as missões atribuídas empregando uma ampla gama de opções, em função da diversidade de cenários possíveis, buscando uma posição vantajosa em relação à ameaça que o oponente representa, para derrotá- lo e impor a vontade da força.

Com isso, essa capacidade militar terrestre será representada neste artigo, pelas seguintes capacidades operativas, segundo o Catálogo de Capacidades do EB (2015):

– CO06. Ação Terrestre – capacidade de executar atividades e tarefas com o objetivo de dissuadir, prevenir ou enfrentar uma ameaça potencial ou real, impondo a vontade da força.

– CO08. Apoio de Fogo – traduz-se na habilidade de apoiar as operações das forças amigas com fogos potentes, profundos e precisos, buscando a destruição, neutralização ou supressão de objetivos e das forças inimigas.

A fim de atingir os objetivos propostos, o Plano de Estruturação do Exército pretende estabelecer as capacidades operativas a serem desenvolvidas para que a Força Terrestre obtenha o poder de combate necessário para enfrentar e vencer os desafios e missões a ela impostos.

Esse plano apresenta as necessidades colocando as prioridades em um horizonte temporal de 20 anos, dividindo-o em 3 prazos, sendo os primeiros 4 anos, o curto prazo, os próximos 8 anos, o médio prazo e últimos 8 anos, o longo prazo.

O Sistema de Planejamento do Exército (SiPlEx) estabelece a prioridade para as CMT, não sendo pela importância da capacidade, mas sim pela ordem da necessidade para a obtenção da capacidade. Como resultado, merece destaque a CMT 02 – superioridade no enfrentamento como prioritária, impulsionando ainda mais a importância da reestruturação das Bda C Mec.

Em decorrência do acima exposto, ressalta-se a ênfase no assunto em questão na medida em que as Bda C Mec apresentam-se como prioritárias nas tarefas a serem desenvolvidas no contexto das capacidades operativas.

A prioridade inferida pelo Exército, especialmente na capacidade operativa da ação terrestre e do apoio de fogo, dimensiona positivamente a necessidade de implementar uma estrutura organizacional moderna e efetiva.

A F Ter ao incorporar capacidades com tecnologia agregada estará inserida definitivamente na Era do Conhecimento. A obtenção dessas capacidades é tanto uma consequência da evolução doutrinária quanto um gerador de necessidades em novas capacidades e, portanto, em novos Produtos Doutrinários.

AS OPERAÇÕES DE FORÇA DE COBERTURA

O C 2-30 em vigor define que a Bda C Mec é organizada, equipada e instruída para, em proveito de uma Divisão de Exército (DE) ou Exército de Campanha (Ex Cmp), cumprir, precipuamente, missões de reconhecimento (Rec) e segurança (Seg).

A brigada também pode, como parte de uma força maior, realizar operações ofensivas, defensivas, retrógradas ou, convenientemente reforçada, realizar estas operações como força independente. As missões de segurança são realizadas basicamente por forças de cobertura (F Cob), de proteção e de vigilância.

A F Cob é uma força de segurança taticamente autônoma, que opera a uma considerável distância à frente, no flanco ou à retaguarda de uma tropa amiga estacionada ou em movimento. Recebe, normalmente, missões de natureza ampla que poderão incluir:

1) esclarecimento da situação;

2) destruição de forças inimigas;

3) conquista de acidentes capitais do terreno; e

4) ações que objetivam iludir, retardar, canalizar, desorganizar forças inimigas e degradar seu poder de combate (BRASIL,2000, p. 4-5).

A ordem de batalha das Bda C Mec com a consequente vocação estratégica prioritária (F Cob Estrt), indica que essas GU serão lançadas, desde os momentos iniciais do conflito, para o cumprimento de missões de segurança, principalmente para cobrir a concentração dos meios dos comandos enquadrantes.

O emprego como F Cob só é possível, por definição, para uma força taticamente autônoma, ou seja, com capacidade de prover sua própria segurança. As missões de F Cob podem ser divididas da seguinte forma: força de cobertura avançada (F Cob Avçd), força de cobertura de retaguarda e força de cobertura de flanco (F Cob Fln).

Para a execução da F Cob Avçd durante operações ofensivas, o modo de atuação da Bda C Mec, no movimento para a frente, é conduzido empregando-se técnicas, táticas e procedimentos semelhantes aos das operações de reconhecimento de zona ou de eixo.

Durante as operações defensivas, a Bda procede, inicialmente, como na ofensiva. Não tendo mais condições de prosseguir no movimento ou tendo ganho o tempo e o espaço necessário à manobra do grosso, situação em que passa a realizar uma ação retardadora.

Nesse ensejo, conclui-se que as Bda C Mec devem ser vocacionadas para cumprir missões em ambientes operacionais complexos e terem a capacidade de resolver conflitos de média e baixa intensidade, atuando isoladamente, ou, na impossibilidade da resolução, fornecer o tempo necessário à chegada das Brigadas Blindadas, às quais possuem melhores condições para a solução de conflitos.

Levando-se em consideração esses aspectos, tornou- -se necessário o estudo de 02 Brigadas com naturezas semelhantes à cavalaria mecanizada brasileira, oriundas de países considerados de primeira grandeza no contexto geopolítico, econômico e militar.

Assim sendo, serão estudadas a Brigada Stryker do Exército dos Estados Unidos da América e a 6ª Brigada Ligeira Blindada do Exército Francês como embasamento e referência, especialmente no que tange a sua doutrina (forma de emprego em operações de força de cobertura) e organização (estrutura organizacional).

Parte II

 

A Brigada de Cavalaria Mecanizada: Proposta de Estrutura Organizacional (parte II) [Link]

Contendo:

– A BRIGADA STRYKER (STRYKER BRIGADE COMBAT TEAM)

 

– A BRIGADA BLINDADA DO EXÉRCITO FRANCÊS

 

– PROPOSTA DE ESTRUTURA ORGANIZACIONAL PARA A BRIGADA DE CAVALARIA MECANIZADA

 

– APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DA BRIGADA DE CAVALARIA MECANIZADA

 

– CONCLUSÃO

 O autor: Maj LUCIANO: Major de cavalaria da turma de 2002 da AMAN. Ex-instrutor da AMAN e do CIBld. Comandou o 6º Esqd C Mec. Atualmente é aluno do Curso de Comando e Estado-Maior do Exército. 

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