Nota DefesaNet – A ação iniciada em 2001, com os teste do Centauro B-1, e os Puma 4×4 e 6×6. DefesaNet foi a única publicação que acompanhou todos os testes, Na oportunidade o Pesquisador Expedito Bastos integrava a equipe DefesaNet.
As ações iniciadas pela IVECO, em 2001, posteriormente IVECO DEFENCE, foram de muito proveito na futura seleção da empresa no VBTP-MR, que originou a Família Guarani.
O texto foi atualizado em alguns pontos, mas na íntegra segue o original publicado, em Maio de 2001.
Oportuna publicação no momento que são divulgados os Requisitos Operacionais Básicos da Viatura Blindada de Reconhecimento – Média de Rodas (VBR-MR), em 3 Setembro 2014, que dá continuidade à Familia Guarani.
O Editor.
Expedito Carlos Stephani Bastos
Pesquisador de Assuntos Militares do Núcleo de Estudos Estratégicos do Centro de Pesquisas Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora
Participamos de alguns dos testes com o blindado Italiano IVECO FIAT-OTO MELARA 8×8 "CENTAURO" B-1, que sem dúvida poderia vir a ser uma ótima aquisição para equipar alguns Regimentos de Cavalaria Mecanizado do Exército, em substituição aos nossos já antiquados EE-9 Cascavel (Nota DefesaNet – falamos de 2001).
O veículo impressionou-me não só pelo seu tamanho, como pelo seu design, o qual demonstra toda a capacidade italiana nesta área até mesmo em produtos de defesa, tornando-o muito delgado e ao mesmo tempo agressivo com seus 8,5ms de comprimento, 25 toneladas, uma torre equipada com canhão de 105mm, baixa silhueta, 8×8 equipado com pneus Michelin, motor diesel Iveco V6 de 520 Hp.
O carro possui particularidades interessantes, como o habitáculo do Comandante situa-se do lado esquerdo e não no direito como nos demais veículos similares.
Sua suspensão, muito macia, difere de todas as que estamos acostumados a ver em blindados do nosso Exército. O sistema de rodagem possui apenas um diferencial, o qual posiciona-se na segunda roda, da frente para traseira, seu esquema é em forma de "H", onde o diferencial transmite o movimento para as rodas de cada lado, mediante caixas de transmissão. O sistema de controle de pressão do ar nos pneus é controlado pelo motorista, permitindo modificar a pressão de 1,5 a 4,5 bar. O sistema de freio dispõe de quatro circuitos independentes com discos ventilados. Seu pneus, sem câmara, do tipo Run-flat, permite continuar sua marcha mesmo depois de furados, por aproximadamente 80km, sendo o que no Brasil se chama "pneus à prova de balas".
A suspensão é do tipo independente McPherson, com amortecedores hidropneumáticos e dois braços oscilantes fixados ao casco e ao cubo de cada uma das rodas.
O veículo desloca-se com grande facilidade em terrenos acidentados e lamacentos dentro do local designado para estas provas, inclusive mantendo sistema de rotação de 360º de sua torre em pleno movimento do carro. Possui também um sistema anti-incêndio e anti-explosões, um no compartimento do motor e outro no setor de combate, com sensores IR/UV que detectam um súbito aumento da temperatura atuando em milésimos de segundos sobre os extintores.
O exemplar em questão pertence ao Exército Italiano, conforme marcações existentes na sua parte dianteira e traseira, pois seu desenvolvimento foi todo custeado por ele. No caso de vendas ao exterior, o Exército Italiano embolsa 10% da venda. O número 25 existente dentro do círculo amarelo na parte frontal do veículo indica seu peso para travessia de pontes, sendo comum ver em fotos destes veículos em operações na Somália, por exemplo, números 28 e 29, pois os mesmos estão equipados com blindagens adicionais, elevando seu peso para a casa das 28 ou 29 toneladas.
Junto com o carro vieram quatro técnicos, sendo um da Fiat, um da Iveco e dois da Oto Melara, para estes testes no Centro de Instrução de Blindados (CIBld) (Na época localizado no Rio de Janeiro e posteriormente transferido para Santa Maria – RS) , e foi mantido um deles e outros três vieram para os testes com tiro real que ocorreu nos dias 27 e 28 abril de 2001, na restinga da Marambaia, no Rio de Janeiro.
Seu sistema de tiro é todo computadorizado, podendo ser usado pelo Comandante do Carro ou pelo atirador, seu sistema de mira é paralelo e não convergente como nos nossos Biatura Blidadas de Comate CC Leopard 1 A1 (Nota – Origem belga) , dando a distância em metros e o sistema de laser confirma o local exato em que o tiro será certeiro.
Foram realizados tiros com o veículo parado e tendo como alvo um velho protótipo derivado do M-3 Stuart, que no caso era o Veículo Antiaéreo da Bernardini, desenvolvido nos anos 70. A munição empregada foi a do tipo APDS ( Flecha ), a mesma usada nos M-60 A3 TTS e Leopard 1A1, em uso no Exército. Esta munição é de origem inglesa e seu lote de fabricação data de 1972 e 1973. Nenhuma falhou, todas funcionaram muito bem. O Centauro transporta 40 projéteis de 105mm, sendo 14 na torre e 26 no casco e possui 8 lançadores de granadas fumígenas.
Inicialmente definimos o alvo e foi disparada a munição flecha que atravessou o referido carro a uma distância de 1520 metros. O recuo do canhão no interior do carro é bastante macio, não dando solavancos. Neste tiroa tripulação do carro era composta pelo autor como "comandante", o Ten.Cel. Mosqueira, Comandante do CIBld., como atirador e o Capitão Romaguera, como municiador, e o Cabo Washington como motorista.
A seguir o carro foi novamente remuniciado e partiu para fazer tiros em movimento, tendo como alvo um Marder alemão. Vários tiros foram disparados de distâncias entre 1000 e 2000ms, todos acertando-o com precisão.
Vale ressaltar que o alvo em questão foi adquirido pelo Exército em 1978 da então Alemanha Ocidental, este blindado foi um marco importante, pois representa o fim do acordo militar com os Estados Unidos que data de 1952 e que foi rompido pelo governo Geisel em 1977. Merecia estar pelo menos um dos quatro no Museu do Exército…
O interior do Centauro é bastante amplo e confortável para os 4 tripulantes, motorista, comandante do carro, atirador e municiador, possuindo ar condicionado. Possui além das escotilhas, uma porta traseira que dá acesso ao interior do veículo, e ao conjunto de baterias, possuindo espaço para transportar outros equipamentos e até mesmo dois a quatro soldados.
Funciona normalmente na versão 6×8, podendo transformar-se rapidamente num 8×8, através de um sistema manual em que as duas rodas dianteiras passam a ter tração, quando em uso nesta versão.
A quarta roda pode também funcionar com um ângulo bem menor que as duas dianteiras, quando o veículo necessita fazer manobras em locais estreitos, e com velocidade inferior a 20km/h, com velocidade maior a roda bloqueia automaticamente, evitando que o carro possa sair de traseira em curvas acentuadas. Isto diminui em muito o seu raio de curva, sendo capaz de realizar curvas com mais facilidade do que um Jeep, por exemplo.
A versão que veio para testes no Brasil, não possui a saia protetora, muito comum em veículos empregados na Somália e Kosovo (ações italianas nos finais dos anos 90 e início de 2000), é um componente a mais no carro, evita que o mesmo possa ser atingido por munições disparadas por RPG, por exemplo. Em razão de problemas práticos, que os Italianos tiveram quando de suas operações contra guerrilheiros na Somália. No caso de usar esta saia protetora, a quarta roda perde a finalidade de mudar seu ângulo, privando-o das facilidades operativas em locais estreitos.
Todo o carro vem provido de pontos, sobre os quais podem ser acopladas blindagens ativas e reativas, para aumentar ainda mais a sua proteção.
Sua blindagem básicaé bem similar à dos nossos blindados de rodas, não tendo nada de muito sofisticado, sendo que o veículo pode alcançar velocidades máxima de 103km/h em estradas.
Seu tanque de combustível requer 520 litros de diesel, o que lhe dá uma autonomia de 800km.
O carro é muito barulhento, principalmente no seu lado esquerdo, pois além do motor, o escapamento do mesmo é jogado para baixo na lateral do carro, no sentido oposto ao da escotilha do motorista, provocando grande nuvem de poeira por onde passa, facilitando desta forma sua localização. O preço em nos valores de 2001 girava em torno de dois milhões e meio de dólares cada unidade, na versão que veio para testes no Brasil, existindo outras que podem chegar a três milhões e meio de dólares.
O Centauro fica no Rio de Janeiro até a primeira quinzena de junho de 2001, indo a seguir para o 4º RCC em Rosário, no Rio Grande do Sul para continuar os testes que deverá terminar no meio de julho.
Depois irá para o Egito, onde fará testes no deserto, pois o Exército daquele país está interessado neste veículo.
Para finalizar é bom saber que o Exército Italiano adquiriu 400, o Exército Espanhol 100, tendo recebido 22 até o momento e que 16 se encontram em testes nos Estados Unidos hás três anos, pois ele despertou grande interesse ao Exército daquele país, podendo vir a ser um dos principais componentes da Medium Brigade, junto com os da família Stryker.
Existem outras versões que estão sendo desenvolvidas, como o Veículo de Infantaria e o Transporte de Tropas. Pretendem ainda produzir versões autopropulsadas com canhões de l55mm, veículo de recuperação, ambulância e porta-morteiro de 120mm.
Desde sua entrada em serviço, sofreu várias modificações, sendo as mais expressivas, a inclusão de blindagem reativa tipo ROMOR, de origem inglesa, e em alguns veículos recebeu placas extras de blindagens de aço na torre, parte superior e laterais e saias laterais.
A vinda deste blindado ao Brasil faz parte da implementação de testes com diversos veículos blindados sobre rodas, para futuras aquisições por parte do Exército Brasileiro, no sentido de substituir, num futuro próximo, seus blindados de rodas 6×6 de fabricação nacional, os famosos EE-9 Cascavel e o EE-11 Urutu.
Inicialmente foi testado o PIRANHA III 8×8 da MOWAG, Suiça, e que esteve por quase um ano no Centro de Instrução de Blindados – General Walter Pires, no Rio de Janeiro. Trata-se de um excelente carro blindado, mas tudo leva a crer que não será adquirido pelo Exército.
O próximo será o blindado 4×4 PUMA, do mesmo consórcio fabricante do Centauro, e para o futuro virão outros até quem sabe da África do Sul.
DADOS TÉCNICOS
Fabricante: Consórcio FIAT-IVECO-OTOBREDA
Tipo: Veículo Blindado de Reconhecimento anti-tanque 8×8
Tripulação: 4 homens mais quatro soldados na parte traseira
Altura: 2,70m
Largura: 2,94m
Comprimento: 8,55m
Peso: 25 toneladas podendo chegar a 29 com blindagem adicional.
Armamento: Um canhão OtoBreda de 105mm, baixo retrocesso (LRF) – 40 tiros
Duas metralhadoras de 7,62mm, sendo uma coaxial – 4.000 tiros
Munição: Tipos APFSDS, HEAT, HESH, TP e a APDS
Motor: Iveco V6 MTCA diesel, 6 cilindros em V, refrigerado a água, sobrealimentado por after-cooler, com 520Hp, caixa de marchas ZF.
Supensão: Tipo independente McPherson, formada por armotecedores hidropneumáticos e dois braços oscilantes fixos ao casco e ao cubo de cada roda.
Velocidade: 70km/h em 30segundos
Autonomia: 800km
Capacidade de combustível: 520 litros de diesel
Capacidade em inclinação: 60% longitudinal e 30% transversal
Obstáculo vertical superável: 450mm