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DefesaNet entrevista o diretor de negócios Gripen da SAAB no Brasil, Mikael Franzén

Texto em inglês

Interview MIKAEL FRANZÉN – Head of business unit Gripen Brazil at Business Area Aeronautics at SAAB Link

Editor

Nelson Düring

Tradução e edição: Nicholle Murmel

 

Na última semana de Novembro, após uma reunião de acompanhamento do Programa Gripen NG, realizada em São José dos Campos, DefesaNet entrevistou o Chefe da unidade de negócios Gripen Brasil, da área de negócios Aeronáuticos na SAAB, Mikael Franzén, sobre a trajetória e os desafio do programa Gripen NG nos últimos dois anos, e também sobre as próximas etapas a serem concretizadas pela parceria Brasil-Suécia.

DefesaNet: Nos últimos meses, temos visto fatos concretos em relação ao programa Gripen NG – o primeiro voo (junho), o primeiro voo em velocidade supersônica (outubro). O programa já acumulou quantas horas de testes no céu?

Mikael Franzén: Eu não tenho um número exato, mas estamos avançando de acordo com o planejado. Não necessariamente usamos números para avaliar o que estamos fazendo. É claro que o voo supersônico foi um marco importante, que aconteceu de forma tranquila e bem sucedida. Agora pretendemos expandir o envelope da aeronave em termos de velocidade e altitude, e também pretendemos experimentar diferentes cargas e equipamentos nos próximos voos de teste.

DefesaNet: Os testes atuais de envelope estão sendo conduzidos com cargas e equipamentos?

Franzén: Não. Mas pretendemos iniciar esses experimentos muito em breve.

DefesaNet: O programa Gripen NG começou em 2015. Quais foram as grandes conquistas nesses últimos dois anos?

Franzén: O programa tem duas frentes (relacionado ao Brasil). Em um primeiro momento, fornecemos os sistemas de armas, as próprias aeronaves, além do suporte à Força Aérea Brasileira. Além disso, há o processo de transferência de tecnologia e o desenvolvimento da versão biplace – o Gripen F. O projeto desse modelo já está em andamento na Suécia, e também nas instalações em Gavião Peixoto. Essas são as frentes de trabalho atualmente.

Quanto à transferência de tecnologia, agora os engenheiros capacitados na Suécia estão retornando para trabalhar – especialmente no Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen (GDDN), já são cerca de 100 engenheiros trabalhando junto a 25 profissionais suecos em cerca de 10 diferentes pontos do programa. Metade desse pessoal está envolvida com o desenvolvimento do Gripen F e a equipe em gavião Peixoto é tão numerosa quanto a de Linköping. Ambas estão trabalhando juntas.

GDDN – Gripen Design Development Network em Gavião Peixoto

Também há muita coisa acontecendo em Porto Alegre, no que se refere ao projeto do novo cockpit (cabine) e do painel WAD (wide-area display), o Head-up Display (HUD) e o Helmet-Mounted Display (HMD) que serão fornecidos à FAB juntamente com as aeronaves. E não apenas os equipamentos, mas todos os softwares estão sendo desenvolvidos no Rio Grande do Sul.

Estamos trabalhando ainda em tecnologias como simuladores, tanto no Brasil quanto na Suécia.

DefesaNet: A SAAB vem interagindo com empresas brasileiras em torno do programa Gripen NG. Como vem sendo essa parceria?

Franzén: Depende de qual elemento do programa estamos falando. No caso das companhias brasileiras trabalhando com integração de softwares, ou que precisam de dados sigilosos, as atividades são todas concentradas no GDDN, em Gavião Peixoto, nosso centro principal. Já em termos de design de estruturas, os engenheiros brasileiros foram e ainda vão à Suécia e de lá trazem os pacotes de de trabalho de volta para São José dos Campos. Esses componentes então são enviados para Gavião Peixoto ou Linkönping.

Há muitas atividades espalhadas por diversas localidades, mas nosso hub está em Gavião Peixoto. No ano que vem, instalaremos um simulador no GDDN, e todos os sistemas serão testados lá. No momento, tanto em Porto Alegre, como em São José dos Campos, podemos trabalhar apenas em partes do programa.

DefesaNet: A esta altura do programa, o senhor diria que os principais objetivos da iniciativa Gripen NG foram ou estão perto de serem atingidos?

Franzén: Sim. O acontecimento mais importante neste ano foi o primeiro vôo da aeronave 39-8 (thirtynine eight), o qual foi muito bem sucedido. Esse êxito no teste vai ao encontro de nossos planos, uma vez que pretendemos expandir o envelope. Também estamos construindo várias unidades do Gripen E no momento. Outros êxitos em 2017 incluem os avanços do ‘Modelo C’ do painel Wide-Area Display (WAD), que deve ser entregue em março de 2018.

Esta versão do WAD será incorporada ao nosso simulador para que todas as suas funcionalidades possam ser testadas. Há também o software básico para o painel, criado pela AEL, e o software tático desenvolvido pela SAAB.

Visão artística do Wide Area Display (WAD) da AEL Sistemas

DefesaNet: As características do painel já correspondem às exigências do programa?

Franzén: Já iniciamos os testes de simulador tanto com pilotos brasileiros como suecos. O momento, temos conduzido experimentos toda semana na unidade, em Linkönpig, e os aviadores nos dão feedback sobre a performance do painel e dos softwares. Essas informações são encaminhadas à AEL, onde os ajustes são feitos.

DefesaNet: A Força Aérea da Suécia também pretende adotar o painel WAD?

Franzén: Há discussões nesse sentido. Acredito que muito em breve decidiremos que rumo tomar.

DefesaNet: O Gripen está em uma campanha global atualmente. A aeronave foi exibida na Índia e, recentemente, em Dubai. Durante essa turnê, que tipo de painel foi oferecido a potenciais clientes?

Franzén:O Brasil foi o primeiro [comprador] a escolher o painel WAD. Discutimos em profundidade com a Força Aérea da Suécia na época em que o primeiro contrato para o Gripen E foi assinado, há alguns anos, quando a tecnologia WAD ainda era recente. Agora esse modelo já está maduro e isso é visível nos testes com simulador. Então, acredito que a maioria dos futuros compradores, se não todos, virão a optar pelo painel WAD.

DefesaNet: No que se refere à planta industrial e onde as aeronaves serão montadas, será mesmo em São Bernardo do Campo? Parte da montagem será transferida para São José dos Campos? Como a SAAB Aeronáutica Montagens (SAM) irá operar?

Franzén: Não sei se você já conhece o Marcelo Lima (Diretor da SAM), mas ele já foi oficialmente apontado para administrar a empresa, e já definimos São Bernardo do Campo para receber a linha de montagem dos aviões.

DefesaNet: Tínhamos informações de que a planta industrial poderia ser movida para outra localidade…

Franzén: Sempre conduzimos uma análise minuciosa quanto ao local para instalações de grande porte como a SAM, e escolhemos São Bernardo. Porém, ainda não decidimos um ponto específico na cidade. A montagem final das aeronaves será em Gavião Peixoto, mas a maior parte do processo será em São Bernardo.

DefesaNet: Quais são as próximas metas para o programa Gripen NG?

Franzén: Agora estamos construindo a aeronave de teste, que deve estar pronta para voar em 2019. Enquanto isso, realizaremos testes em diversos subsistemas e também para aprimorar o envelope do Gripen E – daqui para frente será um período de atividade intensa. Também vamos prosseguir com o desenvolvimento do sistema tático, além do Gripen F, biplace, que ainda está em estágio inicial. Queremos que essa versão tenha os mesmo índices de desempenho do avião monoplace. Sendo assim, há muito ainda a ser aprimorado no projeto de dois lugares que temos agora.

Outra importante frente de trabalho é a nova cabine, que deve ter esforços intensificados em 2018. Esse novo design ainda é prioritário e nossa ênfase agora é treinar mais profissionais. A maior parte do contingente até agora era de engenheiros, mas treinaremos também pilotos e profissionais de produção.

Funcionários da SAAB Aeronáutica Montagens passarão de um a dois anos na Suécia, dependendo da complexidade do treinamento, e também capacitaremos pessoal da EMBRAER. Isso significa que ainda estamos no começo da etapa de produção dos aviões.

Inauguração do GDDN, em Novembro 2016. Mikael Franzén esta agachado junto com os presidentes da SAAB, Bushke e EMBRAER Defesa & Segurança, Jackson Schneider.

DefesaNet: A SAAB adota uma abordagem arriscada em termos de integração de softwares – empregar dois ambientes com vários computadores para rodar os parâmetros dos sistemas de voo e outro os de missão e de armamentos, a fim de facilitar a integração. Essa estratégia vem apresentando desafios?

Franzén: A finalidade desse método é que os sistemas sejam mais flexíveis quanto a possíveis modificações e atualização com novas funcionalidades. Os programas com os protocolos básicos de aviônica e segurança em voo são criados apenas uma vez, e, em seguida os elementos táticos e ajustes podem ser acrescentados facilmente. A ideia é essa – tornar os sistemas fáceis de adaptar às demandas da Força Aérea Brasileira ou da Suécia por uma funcionalidade nova ou específica. Esse método nos permite realizar adaptações rapidamente para todos os nossos clientes.

Essas camadas de software já eram características dos Gripen C e D, mas não tão flexíveis como no planejamos para o Gripen E. Concluímos a maior parte dos protocolos de voo e segurança, em seguida desenvolveremos a camada tática do software. Então, sim, estamos satisfeitos por chegar aonde chegamos até agora com nosso sistema de voo. Foi um desafio técnico, mas agora estamos colhendo os frutos desse processo, e continuaremos a colher no futuro.

DefesaNet: A Suécia conduziu em setembro seu maior exercício militar em 23 anos – o Aurora 17 – e o Gripen participou. Essas manobras deram à SAAB “ insight” sobre possíveis necessidades e ajustes a serem incorporados nos Gripen E e F?

Franzén: Os parâmetros do Gripen E foram pensados para atender a nações com uma planta logística menor, para que a aeronave seja de fácil manutenção. Esse conceito esteve presente desde o começo, na etapa de design, assim como a especificidade de o Gripen E ser capaz de decolar e pousar em pistas curtas e estreitas. Isso porque a Força Aérea da Suécia sempre teve esse pensamento, que também está presente na versão E do Gripen.

DefesaNet: No que se refere à parceria entre a SAAB e empresas brasileiras, essas empresas vêm sendo capazes de cumprir sua parte em termos de cronogramas e padrões de qualidade?


 

Franzén:Quando começamos a trabalhar nesse programa, claro que estávamos preocupados com desafios em termos de transferência de tecnologia e offset (contrapartidas comerciais), pois essa parceria [com o Brasil] é, de longe, a maior já firmada pela SAAB. Concentramos muito planejamento e esforço, assim como nossos parceiros. As empresas brasileiras fizeram seu próprio planejamento muito bem, e todos os profissionais brasileiros foram plenamente capazes de concluir seu treinamento no exterior.

As companhias brasileiras se mostraram muito bem preparadas, os engenheiros brasileiros se mostraram motivados e talentosos, então estamos trabalhando muito bem juntos. A AKAER já fazia parte do projeto do Gripen antes do acordo do programa F-X2, e eles contam com pessoal próprio para revisar e aprovar o trabalho. Quanto à EMBRAER, já capacitamos mais de 100 engenheiros, que agora atuam no desenvolvimento de elementos cruciais para o Gripen F. Por sua vez, a AEL Sistemas é uma parceira estratégica para o desenvolvimento da nova cabine Cockpit). Até aqui, nossa colaboração com essas empresas é excelente e os engenheiros brasileiros se revelaram curiosos e dispostos a aprender mais.

DefesaNet: Em termos de combate aéreo, como o senhor avalia o desempenho do sistema de armas do Gripen?

Franzén: Antes de falarmos de armamentos, precisamos falar de sensores e data links, pois, se o piloto não enxergar nada, não pode disparar as armas. Para os modelos E e F do Gripen, buscamos melhorar o desempenho dos motores e também ampliar o alcance para garantir a melhor performance em voo. Além disso, trabalhamos no desenvolvimento do radar AESA Vixen, juntamente com o radar IRST (Infrared Search Tracking System) e sistemas eletrônicos avançados de combate.

Além disso, um dos pontos fortes do Gripen sempre foi a facilidade de pilotar e as interfaces Humam Machine Interface (HMI) e de suporte de decisão, pois quanto mais sensores, mais dados são coletados para auxiliar o piloto. Esses são componentes cruciais no design do Gripen, uma vez que o piloto precisa ser capaz de interpretar toda a informação que os sensores fornecem. Nós na SAAB somos muito capazes nesse sentido – criar um sistema de suporte de decisão adequado, que proporcione informação relevante aos pilotos.

Já em termos de armamentos, o Gripen é projetado para transportar todos os tipos é uma aeronave para combate ar-ar e ar-solo. Haverá um arsenal de mísseis de curto e longo alcance que podem ser combinados com outros elementos. O Gripen pode transportar mísseis BVR como o MBDA Meteor e  armas para ataque a alvos terrestres e, como é de praxe, mísseis na ponta das asas para defesa ou combate a curtas distâncias. Trata-se de uma plataforma bastante completa.

DefesaNet: Uma pergunta simples: como está o desenvolvimento do radar da Leonardo o AESA Vixen?

Ele já está operando na nossa aeronave 39-7. No começo, apresentamos esse radar como uma tecnologia nova para possíveis clientes. Mas agora ele está operando e estamos conduzindo testes iniciais nos sensores.

Radar Leonardo AESA Vixen apresentado em Le Bourget 2017 Foto Yannick Smaldore

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