Search
Close this search box.

WOLOSZYN – Campanhas de desinformação nas redes sociais como instrumento de corrosão ao regime democrático

André Luís Woloszyn

Analista de assuntos estratégicos e autor do livro Vigilância e Espionagem Digital

 

Uma das estratégias que caracterizam a guerra híbrida são as técnicas especializadas de desinformação, direcionada à sociedade, por meio da fabricação e difusão de falsas notícias, conhecidas como fake news deturpando fatos e, em alguns casos, mudando a história por meio de ações classificadas como deep news.

O objetivo principal, a curto prazo, é manipular a informação semeando dúvidas a respeito de temas de interesse no sentido de desorientar, comprometendo a capacidade dos cidadãos de tomarem decisões com base em um pensamento crítico e analítico, criando um ambiente de polarização. A médio prazo, tais ações fomentam constantes crises sociais e institucionais no país corroendo o sistema democrático pela desconfiança da população nas instituições.

A materialização externa desta polarização é potencialmente explosiva, gerando violência e um estado de temor social generalizado, a exemplo do que ocorreu em países da Ásia e do oriente Médio.

No Brasil, em especial, contando com 116 milhões de usuários da Internet, cerca de 60 % da população brasileira, ocupando a quarta colocação no ranking mundial e com tendência a crescimento, segundo dados de pesquisas oficiais, não é difícil concluir que estamos diante de um imenso problema.

E as vésperas de um processo eleitoral onde a opinião pública manifestada nas redes deverá ter papel decisivo na escolha de um candidato, a manipulação poderá atingir resultados catastróficos para o desenvolvimento do país e apaziguamento das relações, por hora tensas.

Diante desta conjuntura, o país vem sendo intoxicado por campanhas de desinformação, a exemplo do que ocorreu no período da guerra fria. Alguns episódios ilustram bem os efeitos destas campanhas ou de ações isoladas. Dois casos mais antigos de desinformação profunda ou deep news merecem destaque pelas consequências históricas que acarretaram.

O primeiro, conhecido como o episódio da Carta Forjada, ocorreu em 1941 quando uma carta supostamente enviada pelo Presidente da Linee Aeree Transcontinentali Italiane S/A ao representante da empresa no Brasil, contendo comentários ofensivos e críticas a pessoa e ao governo do então presidente Getúlio Vargas, acelerou a declaração de guerra do Brasil contra os países do Eixo.

O segundo caso, envolveu a emblemática Operação Thomas Mann, ocorrida em 1964, montada pelo chefe da desinformação da Tchecoslováquia, ligado a KGB. A operação foi projetada para incitar demonstrações populares de sentimento antiamericano além de rotular a CIA como notória perpetuadora de intrigas antidemocráticas.

Foi operacionalizada por meio de uma carta supostamente de autoria do diretor do FBI parabenizando seus agentes no Brasil pelo sucesso obtido com o golpe de 1964. Investigações posteriores apontaram que ambos os casos eram comprovadamente falsos.

Mais recentemente, destaca-se o episódio do Dossiê Cayman, usado nas eleições presidenciais de 1998 para atingir políticos que disputavam o pleito. Atualmente, sua atuação esta viralizada e é direcionada ao fomento de tensões e insatisfação popular, manifestações violentas, ataques a política internacional e a ações governamentais, beirando a teoria da conspiração.

Com o recente escândalo que envolveu a consultoria de política britânica, Cambridge Analytica, parceira na campanha de Donald Trump a Presidência dos EUA e consultora governamental quando do plebiscito que promoveu a saída do Reino Unido da União Europeia e sua congênere russa, Internet Research Agency, não está descartada a hipótese de estarmos sob um ataque dissimulado em larga escala. Lamentavelmente, o resultado dessa viralização é previsível contudo irreversível.

Vigilância & Espionagem Digital – A Legislação Internacional e o Contexto Brasileiro Lnk para aquisição na figura.

Compartilhar:

Leia também
Últimas Notícias

Inscreva-se na nossa newsletter