“Não vejo nenhum militar pensando em intervenção”

Julia Lindner

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen, afirmou nesta terça-feira, 29, que intervenção militar é um assunto do século passado, que não faz mais sentido. Durante coletiva no Palácio do Planalto de balanço do monitoramento da greve dos caminhoneiros, Etchegoyen foi questionado sobre os protestos que têm ocorrido no âmbito do movimento, pedindo a volta dos militares ao poder. "O farol que uso é muito mais potente que o retrovisor. Não vejo militar, forças armadas pensando nisso", afirmou.

Segundo ele, existe uma incógnita nesse movimento que ninguém ainda tratou, que é por que chegamos a isso. Mas, do ponto de vista dos militares, insistiu Etchegoyen, não é algo que desejam. "Vejam todas as manifestações de todos os comandantes, na imprensa, nas mídias sociais, sobre a posição de Forças Armadas.

Tenho dito, repito, vivo no século 21, quero construir um País como todos militares desejam. Não busquem encontrar o problema onde ele está iluminado", afirmou, acrescentando em seguida que estão iluminadas as instituições das Forças Armadas que estão sempre presentes.

"Se há necessidade ou problemas, estão resolvendo, essa Força é extremamente iluminada do ponto de vista de ter clareza do que faz", completou.

Segundo ele, intervenção é um assunto do século passado, uma pergunta que, do seu ponto de vista, não faz sentido. Mas, reconheceu, ainda existem pessoas que acham que essa alternativa da intervenção é possível. "É importante sabermos por que, para sabermos onde erramos", afirmou.

Chefe do Estado Maior da Forças Armadas diz que "não tem nenhuma concordância" com intervenção¹

O chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, almirante Ademir Sobrinho, disse, na entrevista coletiva sobre balanço das ações de desmobilização da paralisação dos caminhoneiros, que enfrenta seu nono dia, que “não está preocupado” com mobilizações pedindo a intervenção de militares no País. 

“Nós estamos preocupados em fazer o Brasil andar”, declarou ele, ao ser perguntado como recebia estes pedidos de intervenção. “Não temos nenhuma concordância com isso. Seguimos o que está na Constituição”, declarou ele. “Democracia”, resumiu.

Repetindo o que afirmou, no dia anterior, o ministro da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, o almirante Ademir Sobrinho lembrou que “as pessoas são livres para se manifestar como quiserem", disse o ministro.

"Único caminho de acesso ao poder é pelo voto"

 

Incomodado com as manifestações de pedido de intervenção militar, principalmente na greve dos caminhoneiros, que parou o País nos últimos nove dias, o ministro da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, rechaçou essa possibilidade, em entrevista ao Estado.

O ministro lembrou que as Forças Armadas só agem dentro da legalidade e declarou que o “único caminho” para os militares chegarem ao poder “é pelo voto”. Primeiro militar a assumir o Ministério da Defesa, o general Silva e Luna disse ainda que as Forças Armadas estão 100% empenhadas no estabelecimento do abastecimento do País. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Estamos vendo seguidos apelos de grupos pedindo intervenção militar. Existe essa possibilidade diante dos problemas que estamos enfrentando?

As Forças Armadas trabalham 100% apoiadas na legalidade, com base na Constituição e sob a autoridade do presidente da República. E esse dispositivo, intervenção militar, não existe na Constituição.

Incomoda a vocês, militares, esses pedidos de intervenção?

Incomoda sim, porque pode dar a impressão de que as Forças Armadas estão por trás de uma insuflação, o que não é verdade. Além disso, intervenção militar é inconstitucional. O caminho do acesso ao poder é pelo voto. É o único caminho.

A que o sr. atribui esses pedidos de intervenção?

Com relação a manifestações políticas, não nos cabe comentar intenções partidárias de segmentos da população, que tem direito de se manifestar.

As paralisações que se mantêm são por interferência política ou ainda por reivindicações não atendidas?

O movimento reivindicatório se esgotou depois do acordo que o presidente da República fez com os representantes dos caminhoneiros, concedendo tudo que foi pedido. Daí para a frente, as resistências têm pouco a ver com essas reivindicações. Passa a impressão de que há mais fundo político-partidário.

A convocação das Forças Armadas para esse tipo de ação de desobstrução de pistas e fim de greve é um problema para vocês?

O emprego das Forças Armadas em Garantia da Lei e da Ordem é 100% legal. Está na Constituição. Nós estamos agindo em todo o País, evitando um dano muito maior.

Há previsão de quando a normalidade volta ao País?

Terminar uma consequência. Insisto que não se pode fazer promessas. Temos de entregar resultados. E resultados, estamos entregando.

Que resultados o sr. destacaria?

Abastecimento de combustível de aviação em todo o País. Normalidade de transporte nas principais capitais. O volume de carga transportada, por exemplo, dobrou de segunda para terça em todo o País. Foram liberados 300 caminhões de hortifrutigranjeiros no Rio. Tivemos 270 carretas de combustíveis transportadas.

As Forças Armadas podem atuar para tirar os caminhões e manifestantes que estão impedindo a passagem de outros trabalhadores nas estradas?

As Forças Armadas podem tirar sim. Mas o que é que se faz primeiro? Esgota-se os meios policiais presentes (policiais militares ou Polícia Rodoviária Federal).

O governo está falando em grupos infiltrados impedindo o fim da greve e agitando manifestações? O sr. sabe quem são?

Não temos identificação. Mas está caracterizado que existe.

¹com Tânia Monteiro

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