Para general Villas Bôas, Forças Armadas querem “mudança nas estruturas”

Francisco Góes e Bruno Villas-bôas

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, disse ontem que a crise de segurança no Rio de Janeiro é complexa e que os resultados da intervenção federal no Estado vão aparecer no longo prazo.

"Os resultados virão com tempo e as soluções serão realmente de longo prazo", disse Villas Bôas, ao participar de evento ontem na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O general afirmou que, na fase inicial da intervenção, o Exército vai procurar melhorar a percepção de segurança por parte da população. Segundo Villas Bôas, as Forças Armadas têm como "determinação, ao sair, deixar uma mudança nas estruturas".

Ele mencionou entre essas mudanças o sistema de segurança pública, o sistema prisional e a lei de execuções penais. "Isso tudo não vai ser resolvido em dez meses", afirmou.

O general confirmou ainda que a necessidade de recursos para intervenção federal no Rio de Janeiro será de cerca de R$ 1,5 bilhão. "Estou otimista e preocupado com a intervenção pela incerteza se vamos atingir todos os objetivos", disse. Questionado sobre imagem do Exército perante a sociedade, Villas Bôas disse que essa imagem será consequência dos resultados da intervenção federal. "Por isso, a intervenção se tornou prioridade para o Exército", disse ele.

O general preferiu não detalhar as metas da intervenção, que serão futuramente anunciadas pelo interventor, general Walter Braga Netto.

Ontem, antes do pronunciamento do general, o Exército divulgou que os militares das forças integradas de segurança vão deixar a Vila Kennedy, na Zona Oeste do Rio, que seria usada como modelo de intervenção no Estado. Segundo o general, a saída da Vila Kennedy se explica pelo fato de "o Rio ter mais de 800 comunidades".

Segundo Villas Bôas, a violência no Rio de Janeiro é resultado de décadas de omissões sobre as necessidades básicas da população, que não foram atendidas e "transbordam na forma de violência". "As causas são profundas. Pedimos compreensão dos companheiros que lá estão, com esse tema, que quanto mais se debruçam sobre ele, mais veem a complexidade. Eles têm procurado manter postura de não gerar expectativas, não tomar atitudes espetaculosas, de não inaugurar promessas", disse o general.

Sobre o caso da vereadora Marielle Franco (Psol), assassinada na semana passada no centro do Rio, ele disse que o caso foi "terrível" e esperar que seja "elucidado o mais rápido possível". Villas Bôas acrescentou que, apesar de toda a rede de solidariedade, inclusive internacional, que se criou depois do assassinato da vereadora, também foi possível verificar uma polarização na sociedade, sobretudo nas redes sociais. Para ele, o crime é "injustificável" e demonstra o "potencial de desagregação da sociedade".

Também presente ao evento, o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, afirmou que o banco de fomento vai assinar até a próxima semana um convênio com o gabinete da intervenção federal no Rio, pelo qual vai prestar uma espécie de assessoria aos interventores. "É um convênio não oneroso. Vamos prestar serviços de apoio estatístico e de ordem orçamentária, como estabelecer referência de preços para compra de coletes, munição e viaturas", disse Rabello.

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