Ecos da Teoria Crítica e do Discurso do Politicamente Correto na narrativa contextual da segurança pública do Estado do Rio de Janeiro: uma interpretação histórica e sociológica.
Eduardo de Oliveira Fernandes
Muitas elucubrações costumam ser propagadas em momentos de crise política e comoção social e, invariavelmente, além de serem reprodutores do dilema pessimista do “quanto pior melhor”, faz com que ativistas e políticos profissionais tirem proveito de uma janela de oportunidade para propagar suas ideologias e seus discursos eleitoreiros de plantão.
A intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro e a tragédia que ceifou a vida da vereadora do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Marielle Franco, por conta de toda a uma sensação de anomia e da incessante ocorrência de episódios violentos e de portentoso impacto na já combalida sensação de segurança, tornam-se tributários de uma tresloucada profusão de narrativas que, em muitos casos, beiram a indigência e produzem mantras sociológicos, que só servem para desestabilizar ainda mais a segurança e a ordem pública.
O oportunismo político não ocorre por acaso, seja pelas expectativas eleitorais de 2018 como, também, por uma vocação ideológica, há muito tempo existente, nos discursos de partidos e coletivos sociais, que não cansam de demonizar as Polícias Militares e, mais recentemente, em razão do protagonismo no Estado do Rio de Janeiro, as Forças Armadas.
Os ecos da Teoria Crítica e do Discurso do Politicamente Correto na narrativa da segurança pública encontram a sua base de dominação na influência sofrida por parte da mídia, intelectuais e dirigentes de partidos políticos, dos escritos e discursos dos pensadores da Escola de Frankfurt e, de maneira subsidiária, da difusão de tal arcabouço teórico ancorada na ideia de criticar a vida sob o capitalismo e as diferentes formas de dissecá-la, deslocando-se do eixo meramente econômico e amplificando a importância da cultura.
De maneira sucinta, sabe-se que um grupo composto por cientistas sociais da Universidade de Frankfurt, em 1922, formou a autodenominada Escola de Frankfurt, sob a influência do marxismo, e irradiou a sua interpretação da teoria crítica que em linhas gerais pode ser definida como “[…] uma teoria sociológica que tem por objetivo explorar o que existe por trás da vida social e descobrir os pressupostos e máscaras que nos impedem de compreender plena e verdadeiramente como o mundo funciona” .
Dentre os principais pensadores da Escola de Frankfurt destacaram-se: Theodor Adorno, Erich Fromm, Jürgen Habermas, Max Horkheimer, Herbert Marcuse e Félix Weil, sendo este último o fundador da escola.
Partindo de uma leitura histórica dos principais acontecimentos da época e com destaque para o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e do alcance do legado da Revolução Russa iniciada em 1917, os pensadores da Escola de Frankfurt diagnosticaram que, apesar da forte profusão das ideias marxistas na Europa, o patriotismo verificado na grande maioria dos cidadãos daqueles países havia suplantado a consciência de classe dos trabalhadores, partindo do pressuposto de que o capitalismo havia cegado os revolucionários.
A partir deste pressuposto, os pensadores da Escola de Frankfurt deslocaram o eixo de propagação de sua teoria crítica – antes calcada no viés marxista com predominância no recorte econômico – para a cultura, posto que a primeira não determinava totalmente a forma de vida social, centralizando, dessa forma, um enfoque nas artes de uma forma geral, na produção estética e no comportamento da mídia.
Diante de novos acontecimentos históricos, mais especificamente a eclosão da 2ª Guerra Mundial e a ascensão do Nazismo, o grupo que formou a Escola de Frankfurt transferiu-se para os Estados Unidos da América (EUA), onde passou a combater os valores burgueses do capitalismo.
Nesse contexto, a comparação entre os traços autoritários dos valores burgueses e capitalistas americanos e o autoritarismo do Regime Nazista passou a ser recorrente, sobretudo, nos meios acadêmicos, pelo que atribuíram o rótulo de fascistas para aqueles que discordassem de suas ideias.
Tais ideias receberam o aditivo da publicação do livro de autoria de Theodor Adorno intitulado de “A personalidade autoritária”, além da adoção do pensamento de Sigmund Freud acerca da repressão a que estava exposta toda a civilização e das ideias socialistas de Antônio Gramsci.
Mais adiante, tornou-se evidente a presença dos elementos da “teoria crítica frankfurtiana” no interior das sociedades capitalistas, por meio da substituição dos trabalhadores como as vítimas da exploração do trabalho e da mais-valia e, consequentemente, a incorporação dos negros, mulheres e LGBT como padecentes do conflito entre o “Eros e Civilização”, como extrai-se da obra de Herbert Marcuse, sob a justificativa do enfrentamento da tolerância repressiva pela tolerância libertadora.
O espargimento dos postulados da Escola de Frankfurt atingiram de maneira eruptiva as novas gerações acadêmicas desde a década de 1960 e, notadamente, os dias atuais, uma vez que serviram de base para aquilo que passou a ser definido como o “discurso do politicamente correto”, com a pretensa adoção de um processo de linguagem disciplinado pelo risco da discriminação açodada pelo imaginário do sexismo e racismo.
Percorridas algumas décadas desde a eclosão de suas ideias, é nítida a dificuldade de convivência entre as diferentes alteridades, restando grande apelação para aquilo que a Escola de Frankfurt tornou por base reforçar, o maniqueísmo da satanização daqueles que não comungam dos seus princípios, vez que relegados a um segundo plano o conflito marxista entre burgueses e proletários, permanecem os fundamentos da teoria crítica voltados aos novos grupos vitimizados pela heterossexualidade repressora, acentuados pelo predomínio dos postulados da “perversidade polimorfa”.
Na cartilha do “politicamente correto” enumeram-se várias situações em que o ser humano deve policiar-se ao expor seus pensamentos e ideias, sob o risco de ser etiquetado de “fascista”, simplesmente pelo fato de ter uma postura diferente daqueles que garantiram o controle da cultura, sob a tutela do marxismo e dos axiomas da Escola de Frankfurt.
Assim sendo, é possível vislumbrar óbices ao pluralismo do pensamento, bem como o evidente patrulhamento ideológico daqueles que ousam desafiar os postulados do discurso politicamente correto, restando pouca caixa de ressonância para aqueles que têm a acuidade de dissociar suas narrativas daquilo que segmentos políticos oportunistas elegeram como objeto da sua satanização.
Pré-julgamentos políticos, destruição de agentes e instituições públicas, retomada de antigos estereótipos e a criação de novos mártires com finalidade escusa de oportunizar novos horizontes e azimutes políticos compõem o extenso e já conhecido repertório de uma destruidora e rasteira subclasse política que tem grande influência no modo de agir e pensar de universidades, legendas políticas e segmentos ideológicos da imprensa.
Por derradeiro, ainda que seja perceptível o fato de os ecos da Teoria Crítica e do Discurso do Politicamente Correto influírem na narrativa da segurança pública e, ao mesmo tempo, se constituírem verdadeiros óbices e fatores adversos na ação desencadeada pelo Governo Federal no Rio de Janeiro à guisa de impactar positivamente a sensação de garantia necessária e indispensável à sociedade fluminense, notadamente por hipotecarem a morte da Vereadora Marielle Franco no inventário político recente das Forças Armadas, é flagrante no horizonte atual e futuro que tal medida política (intervenção) é necessária, legal e legítima e, deste modo, portadora de um farol civilizatório para se alcançar a superação de um ciclo vicioso de décadas do primado da criminalidade organizada e impor um ciclo virtuoso em que antagonismos, tanto de ordem externa como de ordem interna, sejam superados.