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Mais forte que em 2008, Hamas mira Jerusalém e Tel Aviv

Depois de ter a capital econômica e social Tel Aviv atingida pela primeira vez desde a Guerra do Golfo (1990-91), Israel viu nesta sexta-feira (16/11) Jerusalém entrar na rota dos foguetes lançados pelo Hamas, o que jamais havia acontecido. Os projéteis caíram em áreas não povoadas nos arredores da cidade, mas foram suficientes para evidenciar como o movimento radical islâmico está mais forte não só politica, como militarmente.

Diferentemente da guerra de 2008 – quando matou mais de 1.400 palestinos com ataques aéreos e terrestres em apenas três semanas – Israel encontra hoje na Faixa de Gaza um inimigo com mais armas e, amparado por potências regionais como Tunísia, Egito e Irã, mais disposto a usá-las.

Armamento de Líbia e Irã

Desde a quarta-feira, mais de 550 foguetes foram disparados da Faixa de Gaza em direção a Israel. Cerca de 100 deles foram interceptados pelo sistema de defesa antiaéreo israelense, aperfeiçoado após a guerra de 2008, mas 26 caíram em áreas povoadas, deixando três mortos. Grande parte das armas, acredita-se, é proveniente do Irã e de saques ocorridos na Líbia pós-Muammar Kadafi.

“Após quatro anos, nós nos tornamos mais fortes. Temos estratégia e estamos mais unidos a todas as alas militares de Gaza”, disse Fawzi Barhoum, porta-voz do Hamas.
 

De Teerã, o Hamas recebeu os chamados Fajr-5, foguetes capazes de atingir alvos a até 75 quilômetros de distância – Tel Aviv, por exemplo, fica a cerca de 70 quilômetros de Gaza. Um deles caiu nesta sexta-feira perto de um assentamento judaico ao sul de Jerusalém, sem deixar feridos, mas foi suficiente para acionar as sirenes de emergência na cidade, que não é atingida por um foguete desde 1970, ano do fim da chamada Guerra de Desgaste com o Egito.

Sagrada para cristãos, muçulmanos e judeus, a cidade fica a aproximadamente 75 quilômetros dos limites de Gaza e nem o ditador iraquiano Saddam Hussein, durante a Guerra do Golfo, teve a audácia de direcionar suas baterias de mísseis para ela. Segundo o Hamas, o alvo do foguete lançado nesta sexta-feira seria o prédio do Knesset, a sede do Parlamento israelense.

Nos últimos quatro anos, o Hamas conduziu uma trégua quase informal com Israel, quebrada por ações esporádicas de ambas as partes. E, agora, enfrentar o inimigo não significa necessariamente buscar uma vitória militar – improvável diante de um dos exércitos mais bem armados do mundo –, mas testar as alianças numa região politicamente redesenhada pela Primavera Árabe.

Respaldo regional renovado

Nesta sexta-feira, a troca de fogo parou algumas horas para a visita do primeiro-ministro do Egito, Hisham Qandil, à Faixa de Gaza. No sábado, será a vez de uma delegação liderada pelo ministro das Relações Exteriores da Tunísia, Rafik Abdessalem. O Egito é hoje governado por islamistas simpáticos à ideologia do Hamas, e a Tunísia, berço da Primavera Árabe, tem um histórico de boas relações com a causa palestina.

“Eu não quero dar passos incomuns, mas se eu perceber que a pátria está em perigo, não vou hesitar”, disse o presidente egípcio, Mohamed Morsi, no Twitter. “Gaza não ficará sozinha, e [Israel] pagará caro se continuar com essa agressão.”

Hamas também recebeu o apoio da Turquia, antes o único aliado muçulmano de Israel. Os países se distanciaram desde uma operação israelense em 2010, na qual nove turcos morreram ao tentar levar ajuda humanitária de barco a Gaza. Os Estados Unidos pediram ao Egito e à Turquia que atuem como mediadores na crise, mas, em entrevista em Istambul, o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, deixou claro de que lado está.

“Estão atirando nessas pessoas inocentes, antes das eleições, por razões que eles mesmos fabricaram”, afirmou Ergodan. “As potencias globais estão fazendo agora o povo e os combatentes palestinos pagarem, mas a Turquia está com nossos irmãos em Gaza e sua causa justa.”

Israel chama reservistas

Enquanto os palestinos estão mais fortalecidos que há quatros, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tem hoje, a cerca de dois meses das eleições legislativas, menos margem de manobra externa e internamente que seu antecessor, Ehud Olmert. O governo anterior, centrista, teve largo apoio ocidental na ofensiva de 2008, sobretudo entre as potências árabes alinhadas com os EUA. Já o atual, além de enfrentar um Oriente Médio mais hostil, gerou desconfiança no Ocidente com tentativas fracassadas de paz com os palestinos.

Em todo caso, o país está pronto para uma invasão terrestre se for necessário. Depois de disparar contra mais de 500 alvos e matar 19 palestinos na Faixa de Gaza em três dias, o governo israelense obteve a aprovação de seus ministros para convocar 75 mil reservistas. Em 2008, cerca de 20 mil militares participaram na ofensiva em Gaza.

RPR/ap/afp/rtr
Revisão: Francis França

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