Energia – Três empresas dominam quase 70% da distribuição de gasolina

TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO

Cerca de 70% do mercado de distribuição de gasolina está nas mãos de três empresas: BR Distribuidora, Ipiranga e Raízen (joint venture formada entre Cosan e Shell).

Os dados, compilados pelo CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), são da ANP (Agência Nacional do Petróleo) e referem-se a fevereiro.

No mesmo período de 2006 -antes da última fase de consolidação do setor-, cinco empresas concentravam 70% da distribuição.

De lá para cá, empresas saíram, outras surgiram e o resultado foi a expansão do "market share" da BR, da Petrobras, e da Ipiranga, adquirida pelo grupo Ultra e pela estatal em 2007.

Ipiranga e BR, hoje, respondem por 50% do mercado de distribuição de gasolina -fatia dez pontos percentuais maior do que em 2006.

Mas o impacto da concentração de mercado para os consumidores não é consenso entre especialistas.
Uma mudança natural na política de investimentos das empresas seria o motivo principal da concentração. Diante do crescente custo de exploração de petróleo, as companhias precisaram definir em qual fase da cadeia pretendiam atuar.

"As petroleiras buscam racionalizar os ativos. A Exxon, por exemplo, deixou o país por entender que o negócio de distribuição na América Latina era o menos rentável", diz Alexandre Szklo, professor da Coppe/UFRJ.

Mas os fatores que levaram a Exxon e outras estrangeiras, como a Chevron (vendedora da Texaco), a optar pela saída têm origem no monopólio da Petrobras no refino e na política para os preços dos combustíveis.
"Ela tende a tornar menos rentável um segmento que, naturalmente, já não é tão rentável", afirma Szklo.
Como a Petrobras não repassa para o consumidor interno os altos e baixos do petróleo e derivados no exterior, o mercado nacional caminha descolado do mundo.

Adriano Pires, do CBIE, é mais enfático: "Em países onde a concorrência é predatória, elas definiram que o melhor seria sair".

ÁLCOOL

Das estrangeiras, só a Shell continua no setor, agora em uma joint venture com a brasileira Cosan, que entrou no segmento em 2008, por meio da compra dos ativos de distribuição da Esso.

A expansão do etanol no consumo explica a entrada de uma produtora de álcool em distribuição. Como a gasolina C, vendida ao consumidor, tem uma mistura de até 25% de álcool anidro, para os produtores de etanol a venda direta ao consumidor pode ser um bom negócio.

"Você acaba vendendo álcool a preço de gasolina", diz Walter Belik, professor do Instituto de Economia da Unicamp.

Segundo ele, o custo de produção de álcool está entre R$ 0,30 e R$ 0,35 por litro. Ontem, o anidro saía das usinas a R$ 2,38 por litro, segundo o indicador Esalq/Cepea.

Impacto para o consumidor final é limitado

DE SÃO PAULO

Especialistas admitem que o perfil do mercado de distribuição de combustíveis no país favorece a formação de cartel, mas levantam dúvidas sobre os reais impactos da concentração para o consumidor.

Em primeiro lugar, porque o preço na bomba não é determinado pelas distribuidoras, e sim pelos donos dos postos, que não são prejudicados pela concentração na distribuição, segundo a Folha apurou.

O fato de a Petrobras ser a única fornecedora para as distribuidoras é o que torna os preços iguais, apontam especialistas.

Além disso, os tributos apresentam a maior contribuição para a formação do preço final do combustível -cerca de 50%. A parcela de lucro das distribuidoras é pequena.

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