“Em vez de competir, Brasil e México devem se complementar e buscar a cooperação”

Eliane Oliveira


Aos 46 anos, o presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, não está preocupado com as acusações de fraude eleitoral feitas pelas alas da esquerda. O político do Partido Revolucionário Institucional (PRI) defende o diálogo com a oposição visando às reformas estruturais a partir de 1º de dezembro, quando tomará posse. Ontem (20), ele conversou com O GLOBO após se reunir com a presidente Dilma Rousseff.

O senhor disse que pretende realizar reformas, especialmente na área trabalhista. Como conseguir esse objetivo num país que tem sindicatos tão fortes? O fato de o PRI não ter maioria no Congresso mexicano não seria um obstáculo?

Há um bom clima político no meu país. Um maior ambiente de civilidade e amadurecimento em todas as esferas políticas, na direita e na esquerda. Todos estão interessados em dar sua contribuição para as reformas estruturais que o país necessita.

As eleições terminaram de maneira complicada, com acusações de fraude e compra de votos, principalmente por parte de seu adversário, López Obrador. Como o senhor lida com essas acusações? Haverá algum problema de legitimidade, como enfrenta até hoje o atual presidente, Felipe Calderón?

Vejo um clima completamente distinto. A eleição foi um processo exemplar e não há provas e elementos que demonstrem que houve fraude. A Justiça eleitoral reafirmou a validade da votação e estamos todos convencidos de que o momento é de empreendermos um novo caminho, que é o da modernização e das reformas estruturais.

O México passa por momentos difíceis, por causa do crime organizado. Qual o primeiro passo para combater as organizações criminosas?

O tema segurança não é exclusivo do México. Faz parte da região e, para os mexicanos, é prioritário e sensível. Faremos ajustes na estratégia em vigor. Vamos buscar maior colaboração entre os vários níveis de governo, contratar mais pessoas para a segurança pública e fazer uso maior da inteligência para combater de maneira focada as organizações criminosas. A sociedade mexicana vai observar resultados de médio e longo prazos.

O México resolveria isso sozinho ou contaria com a ajuda de parceiros, como os Estados Unidos?

Estou aberto a toda forma de apoio. Um tema tão importante deve levar em conta a colaboração com o esforço do nosso governo nessa matéria, sem perdermos nossa soberania.

Nos últimos anos, o México tem se distanciado de governos tidos como de esquerda e estado mais próximo dos EUA. Como será sua relação com os presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Rafael Correa (Equador) e Cristina Kirchner (Argentina)?

Quero construir uma relação de diálogo e respeito com todos os presidentes da América Latina e do Caribe. Estou disposto a dar maior atenção a esses países e firmar acordos, sempre com respeito à soberania dos povos. Tendo isso como premissa, interessa-me ter uma relação cordial, respeitosa e construtiva. O fato de minha primeira viagem ao exterior como presidente eleito ser à América Latina deixa claro qual será minha prioridade.

O senhor passou pela Guatemala, que enfrenta violência na fronteira com o México, e pela Colômbia, cujos carteis de drogas também atuam em território mexicano. O senhor conversou com os líderes desses países sobre formas de cooperação?

Este é meu primeiro giro pela América Latina como presidente eleito, e isso mostra que quero ter uma boa relação com as Américas Central e do Sul. Encontrei grande receptividade e interesse nesses países, e vamos trabalhar juntos num clima de confiança e integração, principalmente com o Brasil, que são fundamentais para o desenvolvimento da região.

Como México e Brasil podem trabalhar juntos sem disputar a liderança na região?

Somos as duas economias mais importantes da região e, em vez de competirmos entre nós, devemos buscar a cooperação, a complementaridade e tomarmos decisões conjuntas nos fóruns e organismos multilaterais.

Qual a sua opinião sobre a Venezuela como membro do Mercosul?

É um acordo regional que respeito, de caráter comercial, como os que o México tem celebrado com outros países. Criamos agora a Aliança do Pacífico, que queremos ampliar convidando outros países da região. Queremos mais comércio; por isso a relação entre México e Brasil será tão importante.

Há poucos meses, o presidente Calderón teve de rever o acordo automotivo com o Brasil, porque as exportações de carros mexicanos eram bem superiores às importações de automóveis brasileiros. Como será daqui para frente?

Em vez de limitarmos as relações comerciais, temos que buscar motivos para ampliá-las.

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