Os Novos Espiões

 André Luís Woloszyn
  Analista de Assuntos Estratégicos


Desde que Moisés ordenou a seus espiões irem a terra de Canaã ou quando Sun Tzu dedicou um capitulo de sua clássica obra “A arte da Guerra” a espionagem, ninguém poderia imaginar os imensos avanços tecnológicos conquistados nesta atividade, considerada por muitos, um jogo estratégico que requer diversas  habilidades. Em uma definição mais abrangente para a expressão espionagem, diz-se que é a obtenção de dados e informações sigilosas sobre governos e organizações sem o conhecimento e o consentimento destes, com o objetivo de alcançar vantagens no campo militar, político, econômico, tecnológico ou social.

De lendários mestres da espionagem como Mata Hari, Harold Philby, Reinhard Gehlen, Richard Sorge, conhecido como o espião do século por antecipar a Stálin a invasão da Rússia pelas tropas de Hitler ao fictício personagem James Bond, codinome 007, criado em 1953 pelo ex agente do serviço secreto inglês, Ian Flaming, a atividade sempre manteve um status elevado ao longo dos tempos, de uma engrenagem que pode acelerar a conquista de poder e influência. Representa, às nações, enormes possibilidades de desenvolvimento com maior rapidez e menor custo, permitindo estarem  no mínimo um passo a frente das intenções adversas da política internacional.

Inobstante ser considerada crime de traição  e contra a segurança nacional, punível na maioria dos países com prisão perpétua e em alguns casos com a morte e o fato de ter arruinado muitas carreiras e reputações como a da família Rosemberg em 1953 ou de Aldrich Ames, em 1994, dentre outros milhares de casos, o fato é que a espionagem nunca perdeu seus encantos, ao contrário, a cada dia ganha novos contornos. Embora os riscos, seu produto final pode significar ganhos incalculáveis levando a maioria das nações desenvolvidas a fomentar e investir em ações desta natureza mesmo que neguem e condenem veementemente tal prática.

Mas, a despeito dos grandes sucessos do passado, com o desenvolvimento tecnológico, a espionagem de fontes humanas tornou-se história e passou a ser gradativamente substituída por satélites de imagens, plataformas de monitoramento de sinais e comunicações e aviões não tripulados, todos sistemas de alta precisão, capazes de disponibilizar informações imediatas sem potencial de risco. A era digital, marca do séc. XXI, contribuiu com outro componente imbatível para a atividade, os chamados e temíveis vírus informáticos, que são a nova geração de espiões cibernéticos.

Seguindo esta tendência, milhares de entidades modulares tem sido desenvolvidas especificamente para esta finalidade e tem valido cada centavo do investimento aplicado. Em 2009, o Laboratório Kaspersky, considerado a maior empresa de antivírus  do mundo, descobriu o vírus Stuxnel ou Flame, criado pelos EUA e direcionado especialmente para espionar e neutralizar sistemas que continham informações confidenciais sobre o programa nuclear iraniano. Posteriormente, em 2012, o mesmo Laboratório identificou um novo super vírus de codinome Madi, provavelmente de origem iraniana,que tem por objetivo espionar organizações financeiras, de infra estrutura e autoridades governamentais que detenham algum tipo de conhecimento estratégico. A diferença básica entre ambos é de que enquanto o primeiro captura dados e tem a capacidade de destruir sistemas, o segundo apenas copia as informações, transferindo-as para uma plataforma central, independentemente de qualquer proteção.

Nesta semana, o Japão divulgou nota afirmando que foi vítima de ataque com o vírus “Cavalo de Tróia”, disseminado via e-mail com o objetivo de acessar arquivos do Ministério das Finanças após ameaças do grupo Anonymous,pela reativação de reatores nucleares na usina de Fukushima. 

Lamentavelmente, a espionagem digital tornou-se uma espécie de modismo que extrapolou as fronteiras do campo estratégico para penetrar no cotidiano das individualidades de forma indistinta. Basta que estejam conectadas ou  sejam  usuárias das redes sociais para estarem vulneráveis, desmistificando a outrora privacidade inviolável. Tal prática não é apenas de governos mas, especialmente, de grupos conhecidos como piratas digitais ou mesmo de pessoas  com os mais diversos objetivos que vão desde a montagem de perfis para venda de produtos, a simples destruição de sistemas para testar a própria engenhosidade até a criminalidade, com o roubo de senhas bancárias e dados pessoais para futuros golpes, incluindo  sequestros.

O paradoxal de toda esta conjuntura é o fato de que, embora os novos espiões cibernéticos tenham uma perspectiva extraordinária em crescimento e aplicabilidade, são  desenvolvidos por fontes humanas, e neste sentido, as motivações para a atividade permanecem as mesmas desde que se espiou pela primeira vez, conforme o relato bíblico. Relembrando os estudos de G. Fregapani, que sintetiza na palavra DICA o que move alguém para o ato de espionar: “Dinheiro, Idealismo, Chantagem e Aventura”.

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