Eliane Oliveira
Enviada especial
SÃO PAULO Paulistano de Cambuci, o economista Antônio Delfim Netto foi ministro da Fazenda durante o "milagre econômico" da década de 1970 e, no auge da crise da dívida externa brasileira, chefiou as pastas de Agricultura e Planejamento, tornando-se um dos principais negociadores junto aos credores.
Como foi ficar na linha de frente de uma operação para salvar a economia do Brasil?
Em 1974, tínhamos uma dívida externa de US$ 12 bilhões, reservas de US$ 6 bilhões e exportações de US$ 6 bilhões. Mas fomos duramente atingidos pela crise do petróleo. O que as pessoas não entendem é que o Brasil fez o ajuste mais rapidamente que vários outros países. Tivemos uma crise dramática, uma redução de quase 5% do PIB naquele período, mas, ao fim, conseguimos entregar o governo sem déficit em conta corrente.
Como o senhor avalia a postura dos EUA em relação ao Brasil na crise da dívida?
Quando o Volcker (Paul Volcker, presidente do banco central americano na época) assumiu, eu era ministro da Agricultura, e o Simonsen (Mario Henrique Simonsen), do Planejamento. O Simonsen me disse: "Delfim, a situação é muito difícil, e o Volcker vai fazer um aumento dramático da taxa de juros, porque ele tem de cuidar dos EUA e não do resto do mundo." Volcker nos fez um favor. Os países tinham de fazer ajustes, como estão fazendo hoje com a crise. Mas não creio que houve abandono do Brasil. Volcker sempre foi um amigo.
O que o senhor achou da atitude do México, ao declarar moratória?
Foi precipitação do México, que tornou a crise inevitável.
Como era administrar a economia do país na ditadura militar?
Nunca entrou no meu gabinete um oficial fardado. As ligações entre as Forças Armadas e os ministros da área econômica eram feitas através do presidente da República.