Concessão de visto a tunisianos gera atrito entre França e Itália

Depois de um fim de semana conflituoso, o ministro italiano de Relações Exteriores, Franco Frattini, disse nesta segunda-feira (18/04) que Roma e Paris precisam trabalhar juntas para resolver a questão dos migrantes tunisianos que tentam entrar na França.

"O problema da imigração está ficando um pouco como o debate nuclear. Todos querem dizer algo, mas ninguém quer ter usinas no seu quintal", disse Frattini ao jornal italiano La Repubblica. Segundo o ministro, o tema deve ser debatido no próximo dia 26, no encontro agendado entre o presidente Nicolas Sarkozy e o premiê Silvio Berlusconi.

O clima entre as vizinhas França e Itália é de tensão. Desde a tarde desde domingo (17/04), quando autoridades francesas bloquearam temporariamente o tráfego de trens vindo da Itália, a relação entre os dois países ficou mais tensa.

Os trens cancelados faziam o percurso entre a cidade de Ventimiglia, região de fronteira italiana, e Menton, na Côte d'Azur. O ministro francês do Interior, Claude Guéant, disse que a interrupção do tráfego foi adotada "devido ao risco à ordem pública". O tráfego teria sido normalizado no fim da tarde do domingo.

A atitude francesa visa conter um grande afluxo de refugiados da África do Norte, que fogem dos conflitos na Tunísia, Líbia e Egito. Nas últimas semanas, a França tem adotado medidas mais severas de controle de imigração. E vizinha Itália tem sido a porta de entrada para a Europa usada pelos africanos, que se arriscam em travessias perigosas pelo mar Mediterrâneo e chegam à ilha de Lampedusa.

Depois da atitude do governo francês em barrar o trem que vinha da Itália, o ministro italiano de Relações Exteriores, Franco Frattini, pediu que a embaixada em Paris manifestasse o descontentamento de seu governo junto às autoridades francesas. Segundo Frattini, a ação da francesa teria sido "ilegal e uma clara violação dos princípios europeus básicos".

Vistos para refugiados
No último sábado, as autoridades italianas começaram a emitir os primeiros vistos temporários a tunisianos, que permitem que esses migrantes sigam viagem pela Europa. Ao menos 20 tunisianos teriam passado pelo sul da França naquele mesmo dia.

Desde que os confrontos no Norte da África se acirraram, Roma vem pedindo o apoio da União Europeia para lidar com o aumento do fluxo de refugiados. Com poucos avanços nesta discussão, o governo italiano decidiu, por conta própria, emitir vistos com validade de seis meses para os migrantes que estavam no país.

Segundo o Acordo de Schengen, essa autorização permite ao migrante transitar livremente pelos 25 países signatários do tratado. As autoridades francesas, no entanto, disseram que irão liberar somente a entrada de tunisianos que tiverem condições financeiras próprias de viver independentemente na França.

Na última semana, durante um encontro de cúpula realizado em Luxemburgo, diversos países da União Europeia se mostraram descontentes com a postura italiana. Segundo Claude Guéant, aproximadamente 2800 tunisianos ilegais foram flagrados no país entre 23 de fevereiro e 28 de março. Destes, 1700 foram obrigados a deixar o território francês – a maioria deles voltou à Itália.

Conflitos
Estima-se que 23 mil tunisianos fugiram para a Itália desde a queda do presidente Zine el Abidine Ben Ali, em janeiro último. Segundo um acordo assinado com Túnis há quase duas semanas, Roma pode voltar a deportar os migrantes tunisianos. No entanto, os que chegaram à Itália antes desse acordo, precisam ser ajudados.

Como a maioria desses migrantes deseja seguir viagem para a França, Silvio Berlusconi disponibilizou essa autorização especial para os tunisianos.

NP/dpa/afp/dapd
Revisão: Roselaine Wandscheer

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