Seis anos depois de invadir com tropas do Exército e tomar instalações de processamento de gás da Petrobras, o presidente da Bolívia, Evo Morales, comemorou mais um Dia do Trabalho golpeando a confiança dos parceiros econômicos de seu país. Dessa vez, a vítima do nacionalismo caudilho foi a fragilidade política e econômica da Espanha, país sede do grupo RedEléctrica, controlador da Transportadora de Eletricidad ( TDE).
Depois de privatizada, a empresa estava sob o controle dos espanhóis havia 10 anos e responde por cerca de 80% do mercado boliviano de eletricidade. Ao “homenagear” os trabalhadores do país com a “reconquista” da empresa, Morales justificou a nacionalização forçada com a acusação de que a TDE não vinha investindo satisfatoriamente na Bolívia. É a mesma razão alegada pela presidente da Argentina, Christina Kirchner, para a expropriação da petroleira YPF Repsol, também espanhola, há duas semanas, e para a cassação, dias antes, de área de concessão da Petrobras, pela administração da Província de Neuquén, na Patagônia.
No caso da usina de processamento de gás na Bolívia, que tinha consumido investimentos da Petrobras de US$ 1,5 bilhão em 10 anos, o então presidente Lula deixou barato e aceitou acordo que premiou as bravatas nacionalistas de Morales. Não foi, portanto, sem razão, que muitos no Brasil temeram a eventual aderência do governo Dilma Rousseff à mundialmente condenada atitude da presidente ar gentina no caso YPF.
Pior: imediatamente ao espalhafatoso ato da “retomada”, com pomposa solenidade transmitida diretamente da Casa Rosada, o governo argentino fez saber aos correspondentes brasileiros em Buenos Aires que havia articulado conversas em Brasília. Ninguém na Plaza de May o escondia o desejo da presidente Kirchner de contar com o apoio diplomático do Brasil e com a parceria financeira da Petrobras no aumento da produção da YPF.
Mais do que ir na contramão do mundo civilizado, aceitar essa proposta ser ia apostar na temer idade de investir onde a credibilidade estava em frangalhos. As primeiras manifestações de membros do governo brasileiro a respeito da expropriação foram pouco confortadoras, embora tenham se firmado mais tar de como as mais adequadas. Ao Brasil caberia tão somente respeitar as decisões soberanas de governos de países amigos. Ou seja, no campo diplomático, Brasília não apoiou, como quer iam, nem condenou como temiam os argentinos.
Coube à presidente da Petrobras, Graça Forster, dar resposta mais simples, direta e tranquilizador a como convém a executiva do seu nível: a empresa não vai ampliar os investimentos planejados para este ano na Argentina (US$ 500 milhões) e pretende brigar pela concessão retirada em Neuquén. De quebra, ela aproveitou para mandar um recado aos investidores no pré-sal: “ Este país não rasga contratos”. Ainda bem.